Depois da quebra de patentes, a impressão
tridimensional já pode ser explorada e, na medicina, tem se
mostrado útil na produção de modelos anatômicos, próteses,
maxilares, etc
Um busto feminino, uma arcada dentária, uma tala
para o dedo, uma peça de engrenagem, um câmbio de carro, todos
esses objetos aparentemente desconexos saiam da mala de Cláudio
Luís Sampaio, um verdadeiro entusiasta do avanço tecnológico. O que
une Sampaio e seu mostruário diverso é a impressão 3D de baixo
custo, técnica ainda pouco utilizada no Brasil, mas apontada pelo
desenvolvedor de softwares e instrutor da TechTraining como o
futuro da produção industrial e, até, da economia. Os objetivos da
mala do instrutor simbolizam as possibilidades infinitas das
impressões que já acontecem no mundo inteiro de maneira
colaborativa e o setor de Saúde é só mais uma das áreas que podem
se beneficiar, e muito, com essa técnica.
Para Sampaio, que possui um
laboratório de impressão em sua própria casa, a solução é para
todos, desde pequenas e grandes empresas até consumidores comuns.
“Por enquanto as pessoas se perguntam ‘para que eu vou querer uma
impressora 3D’, mas esquecem que fizeram essa mesma pergunta quando
os computadores começaram a se espalhar”.
Esta acessibilidade só é hoje
possível pela quebra de importantes patentes nos últimos anos, o
que barateou os preços das máquinas. Hoje, as impressoras de baixo
custo são open source e costumam utilizar diferentes tipos de
plásticos e nylons. Apesar de impressões mais complexas já estarem
sendo testadas mundo afora, incluindo a possibilidade de imprimir
órgãos através da chamada bioimpressão, a medicina brasileira já
está se beneficiando com modelos mais simples que produzem peças
anatômicos, úteis na hora de estudar um tratamento ou intervenção,
desenvolvem próteses, reconstroem dentes, além da possibilidade de
imprimir recipientes para laboratórios de pesquisa e, inclusive,
invólucros de embarcados, presentes em muitos aparelhos
médicos.
A entidade referência em projetos com
tecnologias tridimensionais no Brasil é o Centro de
Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI), em Campinas,
atrelado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Estima-se que,
desde 2000, já foram produzidas 3.385 peças para cirurgias, sendo a
reconstituição de ossos os casos mais comuns — principalmente
crânio, mandíbula e face —, decorrentes de acidentes, tumores ou
anomalias genéticas.
A Anvisa já selou uma parceria com o
CTI para regulamentar o uso da impressão 3D na medicina,
entretanto, implantes personalizados ainda não são
regulamentados.
Portanto, atualmente já é
possível um médico em sua clínica ou um dentista em seu consultório
comprar uma impressora 3D por cerca de R$ 3 mil a R$ 4 mil para a
imprimir materiais de trabalho por meio de sites que disponibilizam
imagens tridimensionais prontas, podendo ser redimensionadas de
acordo com a necessidade. Para se ter uma ideia, o quilo de
plástico, matéria prima da máquina, custa em média R$ 150 e é capaz
de produzir 50 garrafas de 200 ml.
Com o barateamento dos preços,
Sampaio conta que diariamente softwares são melhorados, novos
materiais imprimíveis descobertos e experiências realizadas
globalmente, inclusive por pequenos grupos, os chamados “makers” –
interessados em compartilhar descobertas, aprimorá-las e promover o
acesso a todos. Diferente da tradição das patentes, o interesse é
não reter boas ideias, desenvolver de forma colaborativa, assim
como financiar (crowdfunding).
“Nessa nova economia, vinda de clube,
você produz um protótipo e publica, aí chega um cara da China,
mexe, melhora e publica, um mês depois, vem um alemão e finaliza
com perfeição”, explica o instrutor. “O objetivo não é o lucro, é
não segurar as ideias, mas permitir que elas se
aprimorem”.
Não é difícil de entender o
entusiasmo de Sampaio ao falar em revolução, em nova era, pois –
ainda com patentes a serem quebradas e experimentos sendo testados
– até casas já foram impressas. Este ano, a construtora
chinesa Winsun montou uma
impressora “gigante”, de 6,7 metros de altura, a um custo de US$ 5
mil, com a mesma técnica das pequenas, camada por camada, para
produzir paredes inteiras. O material utilizado foi um combinado de
cimento e fibra de vidro.
Três vetores, na opinião de Sampaio,
estão transformando as relações humanas. São eles: a impressão 3D;
a microeletrônica de embarcados, presentes em dispositivos e
sensores e a comunicação eletrônica. “Essas três coisas permitem a
feitura de máquinas sofisticadas, comunicando em
massa”.
Nos dias 26 e 27 de agosto, o
especialista estará na 3ª edição da feira MedTec MD&M Brazil
(Medical Device and Manufacturing) com um tutorial sobre o
funcionamento de uma impressora 3D de tecnologia FDM (fused
deposition modeling). A feira, que acontece no Transamérica Expo
Center (SP), oferece produtos e soluções em design e fabricação de
equipamentos médicos, odontológicos e laboratoriais, um mercado que
fatura cerca de R$ 16 bilhões por ano e cresce anualmente 10%, em
média.
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