Com investimentos de quase US$ 10 bilhões em
P&D, a Novartis, através de parcerias, desenvolveu a terapia
celular, que não precisa de bisturis nem drogas pesadas
Nas últimas décadas, na tentativa de curar os
cerca de 14 milhões de pessoas diagnosticadas anualmente com
câncer, a medicina mundial tem feito uso de um arsenal enorme de
exames sofisticados, procedimentos cirúrgicos cada vez mais
precisos e drogas bastante avançadas. Por maior que seja a
evolução, 8 milhões de pacientes ainda morrem por ano, em todo o
globo, por fatores relacionados à doença.
Os motivos, segundo cientistas e
profissionais, são variados: a detecção tardia, a agressividade dos
tumores e os devastadores modos de cura. Agora, no entanto, um
feixe de luz surge da associação entre a indústria farmacêutica
Novartis, os laboratórios de algumas universidades e hospitais
americanos. Até hoje, o tratamento do câncer está restrito a
cirurgia, quimioterapia e radioterapia. Um quarto procedimento,
contudo, chamado de terapia celular – ou Chimeric Antigen Receptor
(CAR) – surgiu do resultado da combinação de forças lideradas pela
Novartis.
Inédita, ousada e radical, a terapia
celular não envolve bisturis nem drogas pesadas. Basicamente, ela
consiste na retirada se sangue do paciente, envio da amostra a um
laboratório, que faz um trabalho de reengenharia genética em cima
das células T – de extrema importância para o sistema imunológico
do corpo. Não fossem elas, por exemplo, um indivíduo morreria a
qualquer gripe. Ao serem modificadas, elas ainda são transfectadas
com um vírus inativo, habilitado a aniquilar o câncer. Essa célula
T ainda tem a capacidade de contaminar outras células para que elas
também lutem contra o tumor. O passo seguinte é reintroduzir o
sangue com as “novas células” no paciente por meio de uma
transfusão. O resultado dessa aparente loucura? O feliz
desaparecimento da doença. Foi o que aconteceu com dezenas de
pacientes com linfoma e leucemia submetidos, em pesquisa, a esse
procedimento.
Ou seja, quem se encarrega de matar o
câncer é a célula regenerada e não mais a quimioterapia. “É uma
maneira totalmente nova de se tratar um tumor. Um novo aprendizado
inclusive para nós. Uma avenida se abriu e nos ensinou que, pelo
menos em alguns tipos de câncer, funciona maravilhosamente bem. Se
todo câncer poderá ser tratado assim? Ainda não sabemos. Estamos
buscando respostas”, afirma Adib Jacob, presidente da Novartis
Brasil.
O novo procedimento é considerado,
até entre os mais entendidos, de vanguarda. “Semana passada,
anunciamos a criação de uma nova divisão chamada Cell and Gene
Therapy. Isso significa que estamos indo para outro planeta. Já
entendemos bem o planeta Terra, agora estamos desbravando um outro
mundo que não será mais entregue em uma caixinha, mas trará uma
nova maneira de diagnosticar, produzir e comercializar”, explica
Jacob. Há 15 anos estudando o câncer, a Novartis destinou US$ 9,9
bilhões à pesquisa para combater a doença e é hoje considerada a
farmacêutica número 2 no combate à doença. A líder é a Roche. Com a
aposta na terapia celular, suas chances de se tornar a número 1
aumentam muito.
Novartis informa que, por enquanto,
não tem uma data para a terapia celular se tornar um procedimento
comercial e em escala. “Até a parte regulatória tem que ser
pensada. O FDA nem sabe ainda como aprovar isso, já que o modelo
atual é de aprovação de remédios. Outra pergunta é como a Novartis,
cuja nova sede de terapia celular fica nos Estados Unidos, atenderá
pacientes do Brasil e da China”, diz.