Dr. Paulo, fundador da empresa, ignora assédio e diz que não
quer e não precisa vender o negócio
É praxe, o setor de saúde suplementar gosta de especular sobre o
destino da Intermédica. E não faltam dúvidas: será que o fundador
Paulo Barbanti vai conseguir vender a empresa? Será que a terceira
maior operadora do país conseguirá sobreviver sem um parceiro
financeiro? Quem será o sucessor do empresário de 72 anos? Para Dr.
Paulo, como é mais conhecido o fundador da empresa, o que incomoda
tanto aos concorrentes é uma constatação: “A Intermédica não está à
venda”.
“Tem muita gente que queria me ver longe daqui. Recebo todos os
que me procuram com proposta. Mas já aviso: não vendo.” É fato que
ele já considerou essa possibilidade, mas mudou de ideia
rapidamente. Em 2011, o empresário contratou a consultoria Galeazzi
para estruturar a abertura de capital da empresa. A parceria durou
apenas dois meses. O motivo é simples: Paulo Barbanti não precisa
vender a Intermédica.
“O grupo não deve nada em banco e nunca vai dever. Tenho R$ 300
milhões em reservas nas contas das empresas e mais R$ 700
milhões (da conta do próprio empresário) à disposição do grupo. São
R$ 1 bilhão aplicados conservadoramente”, afirma Dr. Paulo. Esse
montante é suficiente “para garantir a saúde financeira da empresa
pelo próximos 20 anos”. “Eu não vou inventar outro negócio, é um
valor líquido para qualquer necessidade. O suficiente para me
deixar dormir tranquilo”, afirma o empresário.
Dinheiro por dinheiro, Dr. Paulo já tem, o que o empresário quer
mesmo é ver o negócio que construiu do nada crescer em condições de
enfrentar os gigantes do setor. “Somos o único concorrente que
sobrou”, afirma. A Amil foi comprada no ano passado pela
UnitedHealth, maior operadora de saúde do mundo e as demais
operadoras são oriundas do mercado financeiro, como a Bradesco
Saúde.
Se Dr. Paulo vai abrir capital no futuro? “Não sei e nem estou
preocupado com isso”, afirma. “Hoje meu foco é reorganizar a
governança da empresa”, diz ressaltando que já há três opções de
sucessão na manga, entre eles sua filha Julia Barbanti.
Essa “reorganização” não vai tirá-lo da presidência do negócio que
criou há 43 anos. É mais um rejuvenescimento da estratégia de
negócio para se adaptar às mudanças do mercado. “Em 43 anos, fiz
apenas cinco grandes mudanças na empresa. Minha estratégia é passar
a usar a capacidade ociosa dos hospitais para vender leitos a
outras operadoras.”
A meta de Dr. Paulo é que 30% do faturamento do Grupo
Intermédica — formado pela operadora de saúde de mesmo nome, a
seguradora Notre Dame e o plano de saúde odontológico Interodonto —
venha dos serviços hospitalares. Nos últimos dois anos, a empresa
abriu dois hospitais e é a “única empresa que tem excesso de oferta
de leitos para internação”, segundo o empresário. São cerca de 120
leitos ociosos que passarão a ser vendidos no mercado. Em pouco
mais de um ano, esse número será de 200 leitos.
A empresa tem mais um hospital em construção em São Paulo, o
Hospital 23 de Maio - feito num prédio que estava abandonado em uma
área nobre da capital -, com mais 170 leitos. “Esse hospital ficará
pronto entre 12 e 18 meses, mas já recebi proposta de compra de
três entidades do setor”, conta o empresário.
No ano passado, a Intermédica investiu R$ 35 milhões na
ampliação e abertura de hospitais. Tudo com recursos próprios, já
que Dr. Paulo é avesso à empréstimos bancários. “Estamos
reinvestindo lucro, nunca precisei aumentar o capital da empresa”,
explica. “Não quero o lucro pelo lucro, quero sim a lucratividade
no limite para o investimento necessário para a expansão do
grupo”.
Além da venda de serviços hospitalares, Dr. Paulo vem se
dedicando a reduzir os contratos deficitários da empresa e trazer
mais saúde à sua carteira de clientes. “Antes minha lógica era
outra, investir no crescimento da carteira”, explica. Só a
Intermédica teve uma redução de mais de 500 mil vidas no período de
novembro de 2011 a novembro de 2012, segundo dados da Agência
Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
Dr. Paulo garante que isso não é problema. “Diminuição do número
de vidas significa reoxigenação da carteira: deixar de ter clientes
que davam prejuízo e ficar com aqueles onde podemos obter
resultados", explica. Segundo o empresário, o Grupo Intermédica vai
fechar o ano com uma lucratividade entre R$ 90 e R$ 100 milhões em
2012.
Os dados consolidados de 2012 ainda não foram fechados, mas de
acordo com informações da ANS só o plano de saúde Intermédica
fechou o terceiro trimestre de 2012 com um faturamento de R$ 1,3
bilhões.