O faturamento das pequenas e médias empresas
representa 20% do PIB nacional. De olho nesta fatia de mercado, as
operadoras enxergam este público de forma promissora e capaz de
manter a sustentabilidade do sistema no futuro.
Responsável por medir as taxas de
empreendedorismo mundial, o estudo Global Entrepreneurship destacou
que nos últimos anos o brasileiro passou a investir mais na
abertura de novos negócios. De acordo com a pesquisa, o Brasil é o
terceiro no mundo em números de empresas, atrás apenas da China e
Estados Unidos, e ocupa o nono lugar no ranking de localidades com
maior número de pessoas que abrem negócios no mundo.
Com 27 milhões de pessoas envolvidas em um
negócio próprio, essa realidade aponta que as pequenas e médias
empresas (PMEs) vivem um momento de profissionalização e busca pela
competitividade e permanência no mercado.
Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística) mostram que essas companhias representam em média
20% do PIB brasileiro e são responsáveis por 60% dos 94 milhões de
empregos no Brasil. A maior parte dos negócios locais estão na
região sudeste, com quase três milhões de empresas e o setor
preferencial é o comércio, seguido de serviços, indústria e
construção civil.
Desde o início desta década, a participação das
PMEs vem obtendo mais destaque. No primeiro semestre de 2010, a
receita real registrou um aumento de 10,7% comparado ao mesmo
período de 2009. De acordo com o estudo, este indicador aponta que
esses empreendimentos superam o ritmo de crescimento da economia
brasileira.
Atento ao crescimento e consolidação deste nicho
de mercado, o setor suplementar brasileiro vê neste segmento uma
rica fatia de consumidores para oferecer planos de saúde. “As
empresas estão com foco nesta área e brigando por ela, pois há uma
diretriz de que passem a atuar mais com planos empresariais para
pequenas e médias empresas. Além disso, os empregadores estão mais
interessados em cuidar do bem-estar de seus funcionários”,
afirma o sócio gerente da Contatto Consultoria, João Júnior.
Dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar
(ANS) mostram que os planos coletivos com menos de 30 vidas
representam 86,25% dos contratos de planos do País. Somando
aproximadamente dois milhões de usuários, o que representa 11,73%
do total de beneficiários.
Desde o ano de 2005, a Bradesco Saúde tem se
dedicado apenas à comercialização de planos coletivos. “O
Brasil é o país latino-americano no qual as empresas oferecem mais
benefícios aos funcionários e o plano de saúde é o segundo item
mais desejado pelo consumidor brasileiro”, afirma o diretor
técnico e operacional da Bradesco Saúde, Flávio Bitter. Fatores
como esse foram importantes para que a operadora direcionasse sua
atuação para atender às empresas.
A SulAmérica também atuante apenas no nicho
empresarial enxerga o ramo de pequenas e médias empresas como um
foco de muitas oportunidades. “O número de PMEs aumenta
anualmente. Além disso, a preocupação pela retenção de funcionários
não está mais condicionada apenas as grandes corporações. E cada
vez mais, o plano de saúde torna-se um aliado dessas
companhias”, explica o diretor técnico e de produtos da
SulAmérica Saúde, Maurício Lopes.
O motivo principal para que as operadoras optem
por planos coletivos é o fato de praticamente não haver regras para
esta modalidade. De acordo com João Júnior, vale o que estiver no
contrato da operadora com a empresa, sindicato, associação ou
cooperativa. “O contrato não se submete aos limites de aumento
estipulados pela ANS. E os rejustes são estabelecidos por meio de
negociação entre as partes, possibilitando que a rescisão do
documento seja feita unilateralmente pelas operadoras”.
Ele complementa ao dizer que, em consonância com
esta tendência, para os consumidores esses planos também são mais
interessantes porque são vendidos por preços mais baixos do que os
planos individuais.
Planos corporativos, clientes
autônomos
Em junho de 2012, a carteira de pequenas e médias
empresas da Bradesco Saúde (Segmento de Seguro para Pequenos Grupos
“SPG” – que compreende de 04 a 99 vidas) atingiu o número
de 520 mil vidas. Mostrando um crescimento de 35,5% em relação ao
mesmo período do ano anterior.
Já a SulAmérica, registrou no primeiro trimestre
deste ano mais de 280 mil beneficiários de planos de saúde na
categoria PME. E alcançou um crescimento de 21,1% no número de
beneficiários, em comparação com o primeiro trimestre de 2011.
Sozinho este segmento representa 17,3 % dos prêmios de saúde,
informa Lopes.
O que tem acontecido, de acordo com João Júnior é
que, diante das facilidades apresentadas por estes planos, os
profissionais liberais estão optando pelo corporativo ao invés do
familiar. “Se ele for comprar um plano familiar vai pagar mais
alto que o empresarial. E para a operadora é mais vantajoso
oferecer um plano empresarial, uma vez que as pessoas estão vivendo
mais e utilizando com mais frequências os serviços de saúde
suplementar. Com o passar do tempo, os pacotes familiares vão
trazer prejuízos para as empresas de saúde suplementar”.
Com os planos empresariais é mais fácil para as
operadoras oferecerem promoção e prevenção de saúde para os
beneficiários, pois é possível direcionar os cuidados para um nicho
específico dentro de uma companhia. Lopes conta que a SulAmérica
possui opções voltadas para o tratamento de doenças crônicas. Ele
conta que como as companhia têm o interesse de cuidar da saúde de
seus funcionários, a operadora responde a essa demanda elaborando
ações para estimular a qualidade de vida destes funcionários.
“No futuro, se compararmos uma operadora A
com um milhão de vidas atuando em planos particulares e uma B
atuando com um milhão de vidas em planos corporativos, daqui a 15
anos, a A terá problemas de sustentabilidade nos negócios, enquanto
a B não, pois tem a possibilidade de fazer mais manobras do que a
outra”, conta João Júnior.
O superintendente executivo do Instituto de
Estudos de Saúde Suplementar (IESS), Luiz Augusto Carneiro,
completa, ao dizer, que nos planos coletivos empresariais é mais
fácil implantar programas como esses, pois são grupos fechados e
com menor rotatividade. “Grande parte dos clientes que fazem
planos individuais saem no primeiro ano por não utilizarem ou por
não conseguirem pagar. Nos planos coletivos, essa desistência é
menor”.
Diferencial
Ainda que o segmento de pequenas e médias
empresas tenha começado a crescer no início da década, os planos
direcionados para este público existem desde a década de 90, antes
mesmo da criação da ANS. No geral, não existem muitas diferenças de
benefícios como rede credenciada e facilidades entre estes pacotes
e os direcionados para as grandes empresas.
O diretor técnico e de produtos da SulAmérica
Saúde afirma que a operadora possui uma rede de reembolso no Brasil
e exterior adequada ao plano do contratado, com preços
regionalizados. A empresa instituiu esse serviço devido aos
diferentes perfis de clientes que possui.
Bitter fala que a Bradesco Saúde oferece a possibilidade de
reembolso de procedimentos, reemissão em caso de falecimento do
titular e assistência pessoal. Bem como produtos de abrangência
nacional e outros com atendimento regionalizado.
Na cola das operadoras
Com mais de 70% de beneficiários nos planos
coletivos, a ANS quer regular os reajustes em planos desse segmento
com menos de 30 beneficiários. Por isso, a Agência criou uma
proposta para mudar as regras de reajustes destes
planos. “O objetivo é fazer com que cada operadora tenha
um único percentual de reajuste para toda a sua carteira de planos
independente da região”, diz Carneiro.
Ele alerta para o fato de que essa iniciativa pode engessar o
mercado levando a uma desmotivação do setor e possível diminuição
dos planos de saúde. Diante desta realidade, o executivo alerta que
as operadoras têm de ser transparentes no momento de apresentar o
reajuste e explicar o motivo das mudanças nos custos. “Deve-se
entregar mais informações para que a empresa se sinta segura e não
pense que os planos de saúde são caixas pretas.”
A agência está fazendo uma consulta pública que
iniciou no dia 1º de agosto e vai até o dia (30/08), para fixar as
regras sobre o cálculo dos reajustes. As sugestões à proposta de
Resolução Normativa podem ser encaminhadas por meio do site da
ANS.
Carneiro mostra-se preocupado em relação ao
futuro das operadoras. E alerta que é preciso que as operadoras
incentivem seus funcionários a economizarem enquanto são jovens
para ter dinheiro para gastar com saúde no futuro. “A
população de idosos mais do que triplica enquanto a de jovens vai
diminuir. Esse fenômeno deve ser observado com
cuidado”. Ele encerra ao dizer que a melhor forma de se
preparar para as próximas décadas é poupar e investir na própria
saúde.
PMES EM NÚMEROS
• Representam cerca de 20% do PIB brasileiro
• Cerca de 60% dos 94 milhões de empregados
brasileiros trabalham em PMEs
• Planos coletivos com menos de 30 vidas
correspondem à 86,25% dos contratos de planos de saúde no País
• As PMEs são responsáveis por 520 mil vidas na
carteira da Bradesco Saúde.
• na Sul América, as pequenas e micro empresas
representam 280 mil beneficiários