Os Correios aguardam o julgamento de
uma ação pelo TST (Tribunal Superior do Trabalho) para aliviar as
finanças. A sessão do órgão que julga ações trabalhistas acontece
na segunda-feira e vai analisar um pedido da companhia para que
seja alterada a forma de pagamento dos planos de saúde dos 106 mil
servidores ativos e mais de 30 mil inativos, além de
dependentes.
Caso o resultado seja negativo para a
estatal, existe o risco de não ter condições financeiras de pagar
os salários de abril, segundo afirmou o presidente Guilherme Campos
(PSD), em visita ao Diário. Segundo ele, a crise da empresa pode
começar a ser solucionada após a análise do processo.
A atual gestão da empresa quer reduzir
os gastos de R$ 1,8 bilhão por ano para R$ 700 milhões com os
custos de operação de plano de saúde aos servidores. Para chegar ao
número, a expectativa dos Correios é que seja autorizado pagamento
de 100% da assistência médica aos funcionários atuais e aos
aposentados e mais 15% dos resultados como auxílio para o custeio
de dependentes. Atualmente, a empresa paga planos de saúde para
funcionários e parentes diretos, como cônjuges, pai e mãe. O custo
com o serviço representa hoje 10% da arrecadação da estatal, em R$
18 bilhões.
“Corre-se o risco de não ter dinheiro
para pagar as contas. Estamos alertando para a falta de caixa desde
o início da nossa gestão. Existia a previsão que em novembro de
2016 não haveria dinheiro. Houve exercício de cortes e apertos e,
por isso, a participação (dos gastos trabalhistas), que era de 60%,
passou para 75% após o corte dos outros custos. Então existe o
risco de funcionários ficarem sem receber”, afirmou Campos.
De acordo com o presidente da empresa,
a situação financeira também foi afetada por governos anteriores.
“Os sindicatos dos trabalhadores reclamam, com razão, que entre
2007 e 2013 foram retirados do caixa da companhia mais de R$ 6
bilhões a título de dividendos e antecipação de dividendos. Ou
seja, foi feito superavit primário em cima dos Correios. Estamos
pagando caro por essa sangria e a situação atual deixou mais
evidente essa ineficiência”, comentou.
O rombo dos Correios, por outro lado,
vem diminuindo nos últimos anos. Em 2015, a empresa fechou o ano
com deficit de R$ 2,5 bilhões. No período seguinte, o balanço ficou
negativo em R$ 1,6 bilhão.
Os números da estatal para 2017 devem
apontar R$ 1 bilhão de descompasso. O total pode dobrar com a
contabilização do pagamento de indenizações como parte de um plano
de demissão incentivada, que teve adesão de 8.000 funcionários no
ano passado e será pago ao longo de oito anos.
SOLUÇÕES
Para Campos, os Correios precisam buscar fontes alternativas para
remodelação do negócio. “A primeira alternativa que aparece é a
substituição imediata pelo e-commerce. O Sedex é um sinônimo de
serviço, um símbolo da empresa dos Correios. Não tem empresa que
faça esse serviço igual aos Correios”, destacou.
Por sua vez, o presidente da estatal
relatou dificuldades em um possível processo de privatização, que
não teria atraído interessados. “Quem pode falar sobre isso é o
presidente da República (Michel Temer, MDB). Nosso foco tem sido o
de recuperar a empresa. Ninguém consegue pegar com esse passivo
trabalhista atual. Pela força que a empresa tem, pela distribuição
pelo País, chama a atenção. Mas tem a questão de ser um monopólio
que está acabando, um produto que não custeia mais a empresa”,
ponderou, ao analisar uma queda de 12,5% registrada no volume de
serviços postais.
‘PSD não acolherá plano de
Meirelles à Presidência’
O presidente dos Correios e
vice-presidente nacional do PSD, Guilherme Campos, destacou que o
ministro da Fazenda e seu companheiro de legenda, Henrique
Meirelles, não deve disputar a Presidência da República neste ano e
já avisou que o PSD não abrirá portas a um projeto próprio ao
comando do País.
Na visão de Campos, o PSD não teria
como sustentar uma corrida presidencial. “O partido não tem ilusão
de ter candidato, apesar de ter um quadro qualificado como o
Meirelles. Hoje não colocamos o seu nome como prioridade”,
analisou. Comenta-se nos bastidores políticos que Meirelles poderia
ser indicado como vice na chapa de Alckmin, embora publicamente o
ministro sustente projeto próprio ao Palácio do Planalto.
Para o deputado federal licenciado, a
tendência é que o partido faça nos próximos meses uma escolha entre
o projeto do governador de São Paulo e provável presidenciável do
PSDB, Geraldo Alckmin, ou alguma outra chapa governista. Campos,
por sua vez, não descarta a ideia de que o presidente Michel Temer
(MDB) possa disputar a reeleição, “caso a economia dê mais sinais
de melhora”.
Segundo o presidente dos Correios,
porém, a escolha do PSD deve sair às vésperas dos registros de
candidatura para a corrida presidencial.
No cenário estadual, por outro lado, a
articulação do PSD passa pela indicação do ex-prefeito de São Paulo
e ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações,
Gilberto Kassab, como possível vice do prefeito da Capital
paulista, João Doria, nome mais forte no PSDB para concorrer ao
Palácio dos Bandeirantes. As conversas nesse sentido incluiriam o
presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São
Paulo), Paulo Skaf (MDB), como candidato a senador na mesma
chapa.
Campos também destacou que o PSD
espera aumentar neste ano tanto a bancada de deputados estaduais
(atualmente são três) e de deputados federais por São Paulo (são
cinco na Câmara).
Por fim, o pessedista também analisou
as possibilidades da sigla em outros Estados. “Temos uma boa
perspectiva no Paraná, onde o deputado estadual Ratinho Júnior
lidera as pesquisas, e também lançaremos o Índio da Costa, no Rio
de Janeiro, que deve ter uma eleição bastante disputada.”
Campos deve deixar a presidência dos
Correios até o fim de março para concorrer a mais um mandato de
deputado federal. O parlamentar já foi vice-prefeito e secretário
de Comércio, Indústria, Serviços e Turismo de Campinas, no Interior
de São Paulo.