A expectativa é de melhora gradativa
ao longo deste ano, mas o crescimento nas ocorrências de despesas e
a demora na reprecificação pode impulsionar ajustes e subir
competitividade no setor
São Paulo – Mesmo com o crescimento
anualizado da ordem de 8,5% nas receitas – acima da projeção de
inflação de 4,5% para o período – o mercado segurador deverá
reajustar seus preços em 2017, impulsionado pela maior
sinistralidade e menor resultado financeiro.
Os últimos dados da Confederação
Nacional das Empresas de Seguros Gerais (CNseg) apontam que a
arrecadação total do mercado em fevereiro (excluindo-se os
resultado de saúde suplementar) foram de R$ 17,354 bilhões, valor
8,5% maior do que o visto em igual mês de 2016 (R$ 15,9
bilhões).
O aumento do setor foi puxado,
principalmente pelos produtos de vida e previdência, com alta de
18% na mesma comparação (de R$ 9,126 bilhões para R$ 10,8 bilhões)
e pelo seguro habitacional, que cresceu 12% no mesmo período (de R$
270,6 milhões para R$ 303,6 milhões).
De acordo com o diretor de relações
com investidores da Porto Seguro, Marcelo Barroso Picanço, porém,
foram as baixas consecutivas do seguro de automóveis – produto que
detém uma das maiores fatias desse mercado, mais as despesas de
saúde – que marcam a necessidade de um ajuste de preços neste
ano.
“O primeiro problema é que ainda não
deu tempo de recompor as safras de vendas das frotas de veículos.
Isso somado ao prêmio médio inferior e ao aumento de risco, eleva a
tendência de que o sistema comece um reposicionamento de preço em
2017 para compensar os valores perdidos na indústria”, comenta o
diretor da Porto.
De fato, segundo a Superintendência de
Seguros Privados (Susep), os R$ 219,7 milhões em sinistros
ocorridos em março deste ano correspondem a um valor 10,7% maior do
que o observado no mesmo período de 2016, quando os casos
registraram cerca de R$ 198,4 milhões.
Para a sócia da Demarest Advogados e
especialista em seguros, Marcia Cicarelli, apesar de o momento de
recessão ter impactado o mercado segurador desde o começo, “a base
autuarial é o que determina a precificação e isso não se reverte de
maneira imediata”
“Depende um pouco da base de cada
seguradora. É um processo cíclico que faz parte de uma estratégia
de longo prazo e que está dentro de um amplo horizonte”,
pondera.
“Na medida que os concorrentes adotem
preços mais racionais, a competitividade deve ficar mais acirrada e
aquecer um pouco mais o setor conforme a melhora gradativa na micro
e na macroeconomia”, acrescenta Picanço.
Vida e Previdência
Da outra ponta, as seguradoras que
apostaram em empresas financeiras e de serviços, oferecendo
produtos como cartão de crédito ou investimentos, também
conseguiram compensar a queda do mercado de seguros com essas
receitas.
“Ainda tem muito espaço para trabalhar
em outros produtos mais maduros e que tem forte potencial de
crescimento. A expectativa é continuar em consciência para, em
função do cenário, evitar uma deterioração mais forte da carteira”,
comenta o diretor da Porto.
Nesse sentido, porém, a sócia da
Demarest pontua que, frente a maior discussão acerca da
Previdência, os produtos voltados para o futuro devem ter um
incremento neste ano.
“As pessoas começaram a ter uma
preocupação maior em reservar um dinheiro para o futuro, seja por
medo de não ter pela esfera pública ou por apenas conseguir retirar
o recurso em um prazo maior. Isso tende a dar novo fôlego para vida
e previdência”, afirma.
Segundo Picanço, esses dois produtos
foram os maiores destaques do setor e o mercado deve “ir por esse
caminho” com mais força.
“Ter produtos diferentes que explorem
a relação com os clientes faz parte do processo. O intuito é
preservar nossa rentabilidade para compensar os efeitos
macroeconômicos em automóveis e nos investimentos para que, assim,
a equação feche”, conclui.
Cenário desafiador
Em termos de balanços, o primeiro
trimestre das seguradoras foi moderado em relação aos prêmios
ganhos. Com exceção da Bradesco Seguros e da SulAmérica, que
tiveram aumentos no período em relação aos três primeiros meses de
2016 de 8,8% e 8,2%, respectivamente, o mercado presenciou algumas
quedas.
O maior recuo veio do Itaú Seguridade,
com – 15,9% na mesma comparação. Em seguida vieram a BB Seguridade,
que teve seu balanço divulgado ontem, com baixa de 2,9% e a própria
Porto Seguro, que demonstrou queda de 0,9%.
“O cenário ainda é desafiador, mas
operando no longo prazo e, sem dar nenhum cavalo de pau, a
expectativa é de melhora”, completa Picanço.