As hepatites são responsáveis por 1,4
milhão de mortes todos os anos no mundo
Neste
28 de julho, dia mundial de combate às hepatites virais, as
associações do setor fazem campanhas de conscientização e ações
preventivas. Segundo dados da Organização
Mundial da Saúde (OMS), 500 milhões de pessoas no mundo
carregam algum dos cinco vírus da doença.
A hepatite é a inflamação do fígado,
uma doença que nem sempre apresenta sintomas. Os tipos B e C, são
as causas mais comuns de cirrose hepática e câncer de fígado. Já a
C é a forma mais grave da doença.
As hepatites virais são responsáveis
por 1,4 milhão de mortes todos os anos no mundo. No Brasil, o
Ministério da Saúde divulga esta semana informações e dados
atualizados sobre a doença.
Atualmente, para todos os tipos, o
tratamento é com feito com antivirais, basicamente o interferon e a
ribavirina, com duração de 48 semanas. Em alguns casos, esses
medicamentos podem ser combinados com inibidores de protease, que
tem muitos efeitos colaterais e cura cerca de 50% a 70% das pessoas
infectadas.
Hepatite C
A Associação Brasileira dos
Portadores de Hepatite (ABPH) estima que cerca de 1,6% da
população brasileira seja portadora da hepatite C, mas 90% dessas
pessoas não sabem que carregam o vírus.
Segundo o gerente de Projetos da
ABPH, Eduardo Tadeu Lima e Silva, até 1995 não era feito nenhum
teste de hepatite em transfusões de sangue, “muitas pessoas foram
contaminadas com hepatite C, não foram diagnosticadas e
silenciosamente a doença foi progredindo e virou uma cirrose ou
câncer hepático. Então, existe uma janela de portadores silenciosos
que foram transfundidos e que não sabem que são portadores do
vírus”.
Dessa forma, o presidente
da Sociedade
Brasileira de Hepatologia (SBH), Edison Roberto Parise,
explica que todas as pessoas que nasceram entre 1945 e 1970 devem
realizar o teste para hepatite C.
“Hoje, há um controle maior nas
transfusões. Com a chegada da aids e da hemofilia, os centros de
doações passaram a fazer uma testagem mais específica. Então, o
portador dificilmente vai transmitir, mas essas pessoas morrem se
não identificadas a tempo”, disse Silva, explicando que a hepatite
C só é reconhecidamente transmitida pelo sangue, em transfusões e
compartilhamento de material perfurocortante.
Esperança
Uma nova droga, ainda em aprovação
nos Estados Unidos, pode representar a cura para cerca de 95% dos
pacientes com hepatite C, forma mais grave da doença, segundo o
presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH), Edison
Roberto Parise.
Segundo Edison Parise, uma segunda
série de medicamentos já está em aprovação pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária. “São dois novos medicamentos que têm uma
baixa tremenda de efeito colateral, mas que ainda vão ser
utilizados com interferon, em alguns casos”, disse ele, ao explicar
que o tratamento deve durar 12 semanas, com um índice de cura de
80% a 90%.
Uma terceira geração de medicamentos,
com o mínimo de efeito colateral, deve ser aprovada até o fim do
ano nos Estados Unidos. “Nesse caso, o tratamento é totalmente sem
interferon, mais curto, de oito semanas, e com um índice de cura de
90% a 100%. É uma mudança drástica no tratamento da hepatite neste
ano, então precisamos aproveitar isso e captar o máximo de
doentes.”
O tratamento contra a hepatite é
feito pelo Sistema Único de
Saúde (SUS) e é bom, segundo o gerente da ABPH. “Tem todas
aquelas coisas do setor público e as dificuldades de qualquer
tratamento de alta complexidade, como aids, malária e câncer. Mas o
paciente tem atendimento e acesso a medicamentos.”
Após a aprovação de novos
medicamentos, a segunda fase é a inclusão do remédio no protocolo
de tratamento do SUS. “O que nós vemos é que a hepatite C não tem o
mesmo apelo da aids, por exemplo, mas é tão devastadora quanto, e o
número de portadores é maior”, destacou Silva. “Nosso trabalho é
tirar a hepatite do anonimato, divulgar que nós temos uma doença
silenciosa, que, quanto mais tarde for descoberta, mais
comprometido o fígado vai estar e maior vai ser o custo do
tratamento para o Estado.”
De acordo ele, a hepatite C não é uma
doença tão estigmatizada quanto a aids. “Fica essa coisa de achar
que a pessoa que tem cirrose é alcoólatra, que tem vida sexual
promíscua. Pelo contrário, a transmissão sexual é muito rara”. Já a
hepatite B é considerada, sim, uma doença sexualmente
transmissível.
Campanhas e cuidados
rotineiros
As campanhas, para melhor informar à
população, estão sendo direcionadas para as pessoas que têm 45 anos
ou mais, principal alvo da hepatite C. Parise, da SBH, conta que na
década de 70 e 80 era muito comum a automedicação em farmácias com
antigripais e estimulantes por via endovenosa com seringas de
vidro. Além das drogas injetáveis, a utilização de material não
esterilizado por manicures, acupunturistas e até dentistas também
ajudou a espalhar o vírus. “Então, mudamos a estratégia e chamamos
na campanha todos as pessoas com mais de 45 anos, independente do
histórico de exposição ao vírus”.
A ABPH vai oferecer de forma gratuita
o teste rápido para a hepatite C nesta segunda-feira (28), em
quatro terminais rodoviários de São Paulo - Tietê, Barra Funda,
Jabaquara e Guarulhos. A associação, que sobrevive de doações,
trabalha há três anos no acompanhamento e apoio a pacientes com
hepatite.
Outros tipos
A higiene pode prevenir a transmissão
do tipo A, que ocorre por ingestão de água e alimentos
contaminados. Sempre lavar as mãos com sabão depois de ir ao
banheiro, ferver a água em locais onde não há água clorada,
higienizar os alimentos são algumas dicas evitar esse tipo de
hepatite, doença que atinge o fígado.
Os tipos B e C, mais virulentos – que
têm como principal forma de transmissão o contato com sangue e as
relações sexuais – também podem ser evitados com maior cuidado em
atividades corriqueiras. A coordenadora estadual de Hepatites
Virais da Secretaria de
Estado de Saúde do Rio de Janeiro,
Clarice Gdalevici, lembrou que garantir instrumentos esterilizados
na manicure é uma forma de evitar o contágio.
Escovas de dente, aparelho de
barbear, brincos, entre outros acessórios pessoais, não devem ser
compartilhados, pois também podem ser transmissores da
doença.
Para o presidente da Sociedade
Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, além dos cuidados
com a higiene, a vacinação é fundamental para a prevenção,
sobretudo no caso da hepatite B que pode ser tornar crônica e
manter a circulação do vírus na comunidade.
Não há vacina para prevenir a
hepatite C – a mais severa desses três tipos mais comuns no Brasil,
podendo causar câncer no fígado. A vacina contra a Hepatite A
começou a ser fornecida, pelo Sistema Único Saúde (SUS), para
crianças de 1 a 2 anos no mês passado. Crianças maiores,
adolescentes e adultos podem ser vacinados em clínicas
privadas.
A hepatite D é menos comum e depende
da presença do vírus do tipo B para a infecção.
Já a hepatite E tem ocorrência rara
no Brasil e é comum na Ásia e África. A transmissão é fecal-oral
(patógenos das fezes tem contato com a boca), mais comum em áreas
sem saneamento básico.
A hepatite E pode induzir uma taxa de
mortalidade de 20% entre as mulheres grávidas em seu terceiro
trimestre, segundo a OMS.
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