Doença continua se espalhando em Guiné,
Serra Leoa e Libéria. Das 1.093 pessoas infectadas, vírus causador
da doença já matou 660
O surto de ebola na África Ocidental desafia o
sistema internacional de saúde a controlar a doença que já atingiu
1.093 pessoas e matou 660 na Guiné, em Serra Leoa e na Libéria,
segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Dificuldade de
acesso a áreas rurais desses países, fragilidades no sistema de
saúde e o baixo conhecimento da população sobre o vírus atrapalham
o controle do ebola, segundo especialistas em doenças
tropicais.
Responsável por monitorar equipes de
saúde nos países afetados, o pesquisador Emmanuel Bottieau, do
Instituto de Medicina Tropical da Antuérpia, na Bélgica – uma das
organizações que descobriram a doença, na década de 1970 -, disse
que o controle do ebola depende de mais investimento.
“Tem que ter muito dinheiro. É
preciso estabelecer locais para isolar o doente, os profissionais
de saúde devem estar protegidos da cabeça aos pés, com máscaras,
roupas de proteção, incluindo os olhos; ter gasolina e carros para
chegar a áreas isoladas”, explicou Bottieau, que é chefe da Unidade
de Doenças Tropicais do instituto e coordena médicos em campo. Ele
conta que, em Serra Loa, faltam roupas de proteção e enfermeiros
estão amedrontados.
Ele acredita também que o atraso no
diagnóstico e nos cuidados com os pacientes eleva o número de
óbitos, além da alta letalidade da doença, que varia de 80% a 90%.
“Os centros de saúde não funcionam bem, as pessoas esperam muito
tempo e assim o ocorre a disseminação. Quando a família vem com um
doente outras pessoas já foram infectadas”, esclareceu.
A pesquisadora Valdiléia Veloso, da
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que estuda a doença do Brasil, se
preocupa com a falta de conhecimento da população na África sobre
formas de contágio da doença. Ela destaca a necessidade de mudanças
de hábitos, principalmente, em funerais. “Assim como no Brasil, as
pessoas tem o costume de tocar, de beijar os mortos e isso ajuda a
transmitir a doença”, explicou.
Valdiléia critica também a demora
para a chegada de ajuda de equipes internacionais, o que deu tempo
para a doença se espalhar. Bottieau observa ainda que os governos
locais tiveram dificuldade para lidar com o surto. “Os países são
independentes. Não é possível dizer o que fazer e tomar decisões no
lugar dos políticos locais. A OMS e outras organizações podem dar
assistência técnica, mas é mais um problema de dinheiro e
logística”, reforçou.
Os especialistas explicam que novos
medicamentos e vacinas são estudados desde o descobrimento do
ebola. Porém, o fato de a doença atingir, por enquanto, apenas
países pobres atrasa a cura.
O ebola provoca febre, diarreia e
dores pelo corpo. É uma doença transmitida ao homem por animais,
como o macaco, em áreas rurais. Surtos rápidos já foram notificados
na República Democrática do Congo e, agora, pela primeira vez, em
Serra Leoa e na Guiné.