Sindicato dos
médicos de São Paulo teria simulado o pagamento do imposto
sindical. Simesp nega acusação e prevê medidas
jurídicas
Possível fraude na emissão de boletos da
contribuição sindical pelo Sindicato dos Médicos de São Paulo
(Simesp) teria desviado dos médicos brasileiros aproximadamente
meio milhão de reais referente à Contribuição Sindical, segundo
informou a Federação Nacional dos Médicos (Fenam) nesta semana. O
sindicato negou a acusação em nota oficial enviada
ao Saúde Web.
A
Federação comunica em seu site que ajuizou ações criminais e
indenizatórias após surgirem suspeitas de tentativa de simulação do
imposto sindical – quando o Simesp enviou boletos de cobrança aos
médicos paulistas, chamada “contribuição ao sindicato”, no valor de
R$ 230,00, pelo Banco Itaú, em fevereiro deste ano.
A
Fenam teve acesso a esse boleto e o anexou ao processo. “A
cobrança, apesar de aparentar ser o imposto sindical obrigatório,
na verdade, trata-se de um recolhimento que não tem amparo legal. O
pagamento deste boleto não quita a obrigação do médico com o
pagamento do tributo”, afirma a Fenam em comunicado ao
setor.
Levantamento realizado pela Federação apurou que,
em 2014, entre os meses de fevereiro e março, o recolhimento dos
médicos de São Paulo, provavelmente por emissão individual do
imposto no site da Caixa Econômica Federal, foi de R$ 15,8 mil. No
mesmo período do ano passado, o recolhimento para a Fenam referente
à emissão dentro do mecanismo legal foi de R$ 492,5 mil – valor
corresponde aos 15% que a federação legalmente tem direito. “Este é
o tamanho da fraude”, alegou o presidente da Fenam, Geraldo
Ferreira.
Parecer do Simesp
O
Simesp alega que a denúncia é infundada e afirma que todas as
contribuições estão dentro da lei e foram feitas normalmente pela
Caixa Econômica Federal e que todos os boletos enviados pelo Simesp
foram pagos pelos médicos que optaram em fazer a contribuição
sindical.
Em
nota oficial, o Sindicato garante que as acusações de fraude são
baseadas em informações “falsas e sem sustentabilidade” e medidas
jurídicas serão tomadas caso as acusações sejam
formalizadas.
“É
lamentável que a Fenam reúna mais de dez pessoas e apresente
informações falsas em uma reunião meramente protocolar que durou
cerca de cinco minutos. É contra esse tipo de abuso absurdo que o
Simesp, consciente, se insurge para evitar atitudes dessa
natureza”, afirmou em nota.
Além
do presidente da Federação, participaram da 1ª audiência no Fórum
Trabalhista Ruy Barbosa e na 66ª Vara do Trabalho do Estado, nesta
última quarta-feira (14), em São Paulo: o secretário de Saúde
Suplementar, Márcio Bichara; o diretor de Formação Profissional e
Residência Médica, Antônio José; o membro da CAP-FENAM, Eglif
Negreiros; o membro do Sindicato dos Médicos de Santo André e
Região, Carlos Carvalho; o tesoureiro do Sindicato dos Médicos do
Rio de Janeiro, Jorge Luiz do Amaral (Dr. Bigú); e o advogado da
FENAM, Luiz Felipe. Na defesa, estavam o presidente do Simesp, Cid
Carvalhaes, e o advogado do Simesp.
Para
análise das provas, o Fórum Trabalhista Ruy Barbosa marcou nova
audiência para o dia cinco de agosto de 2014. A Federação informou
que impetrará uma nova ação, ainda esta semana, contra o Simesp,
pois alegou que o sindicato não seguiu o Termo de Ajusta de Conduta
(TAC) feito com o Ministério Público Federal, em 2004, quando se
comprometeu a realizar a cobrança da Contribuição Sindical dentro
dos moldes legais. A nova ação da Fenam cobrará, também, o
acumulativo dos débitos do Simesp referente aos dez anos em que não
houve o recolhimento. Os dados serão revelados através de perícia
contábil. A entidade alerta que, quanto aos outros sindicatos que
se associaram à fraude, serão impetradas ações locais junto à Vara
Trabalhista e o Ministério Público do Trabalho.
Denúncia
A
Fenam diz ter tomado conhecimento de uma reunião realizada em São
Paulo, coordenada pelo presidente do Simesp, Cid Carvalhaes, com o
sindicato do Pará e outros dois sindicatos, para definição de uma
estratégia para “asfixiar financeiramente” a entidade. A fonte
revelou que o plano foi acolhido pelos diretores do sindicato do
Pará, como Waldir Cardoso e João Gouveia.
A
ação definida por esse grupo seria a emissão de um novo boleto
chamado “Contribuição ao Sindicato”, cobrada por outro banco, ao
invés da emissão do boleto da Contribuição Sindical dentro do
padrão Caixa Econômica, impedindo o rateio previsto em Lei, onde o
recurso é distribuído automaticamente aos sindicatos, federações,
confederações e ao Ministério do Trabalho e Emprego
(MTE).
Outros sindicatos
Segundo a entidade médica, apesar da suposta
fraude de meio milhão de reais, a arrecadação da Contribuição
Sindical de 2014 dos outros sindicatos compensou o rombo. Houve, na
verdade, um crescimento no desempenho na arrecadação de vários
sindicatos, como: Rio de Janeiro, Goiás, Minas Gerais, Paraná,
Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo, Ceará, Santa
Catarina, entre outros. Em 2013, entre janeiro e abril, foram
recolhidos pela Contribuição Sindical a quantia de R$ 2,4 milhões.
No mesmo período, em 2014, esse valor praticamente se manteve,
sendo angariado, no total, R$ 2,2 milhões.
“O
que ocorre, atualmente, é que com o aumento das lutas dos
sindicatos de base e com o aumento da credibilidade das
instituições médicas, há um crescente interesse dos médicos a se
associarem aos sindicatos e, consequentemente, contribuírem
financeiramente para as causas do movimento médico. Dessa forma,
mesmo com a fraude de São Paulo, Pará e outros poucos sindicatos,
não haverá nenhum prejuízo nas ações desenvolvidas pela Fenam, o
que inclui a contínua defesa das bandeiras de luta, como a
desprecarização do trabalho médico, a implantação do Piso, a
carreira médica, o reajuste nos honorários médicos da saúde
suplementar, e o respeito aos direitos humanos na saúde”, afirmou o
presidente Geraldo Ferreira.