A Pesquisa Datafolha divulgada no
começo do mês de outubro revela que 84% das pessoas que utilizaram
os serviços dos planos de saúde no
estado de São Paulo nos últimos dois anos relatam ter enfrentado
algum tipo de problema. Um dos principais é
a superlotação dos prontos-socorros, com 73%
das queixas, e a demora no atendimento.
“O problema é o nosso modelo
‘hospitalocêntrico’, onde o tratamento acontece todo por meio de
hospitais. O paciente fica perdido e recorre para o pronto-socorro.
A cada ida, ele encontra um médico diferente, que não conhece o seu
histórico e isso gera um ciclo vicioso. A fila não aconteceria se
tivéssemos um modelo mais estruturado, onde o paciente sabe quem
procurar”, explica o médico Gustavo Cruz Quintão, diretor de
Benefícios Corporativos da MDS Insure Brasil.
Medicina de
Família
Um dos modelos que alguns planos de
saúde já estão adotando no Brasil são os médicos de família. Eles
separam um profissional especializado, que fica responsável por não
só atender uma família quando ela precisa, mas também faz
uma prevenção ativa, convidando para os
exames periódicos.
Este médico faria um acompanhamento
de perto dessas pessoas, sabendo o histórico e indicando a um
especialista, como um oftalmologista, cardiologista ou
fisioterapeuta, quando necessário. O modelo beneficia os
consumidores e garante atendimento mais humanizado, mas também traz
vantagens para as operadoras, já que leva ao uso
racional de recursos. Pacientes com acompanhamento
contínuo de um mesmo médico tendem a ter problemas de saúde
resolvidos com mais agilidade e de forma menos onerosa.
Pagamento
No Brasil, o sistema de pagamento
nas redes é o fee-for-service. Os prestadores de
serviço, clínicas e hospitais ganham por serviço prestado, ou seja,
quanto mais procedimentos realizarem, mais recebem. Já para
as operadoras de planos de saúde, a lógica é contrária. Segundo
dados das operadoras e seguradoras de saúde, 30% dos procedimentos
realizados nos hospitais não são realmente necessários.
Dados da pesquisa, que apontam que
68% dos entrevistados têm a impressão de que os planos dificultam a
realização de exames de maior custo e 58% têm a percepção de que os
planos pagam aos médicos um valor muito baixo pelas consultas e
procedimentos realizados.
Para que isso seja melhorado,
Quintão aponta um movimento que já ocorre nos Estados Unidos e
adotado por operadoras da América do Norte, em toda a Europa
Ocidental, da África (África do Sul), da Ásia e Oceania, mas ainda
é tímido no Brasil: o Diagnosis Related Groups (DRG).
Ele agrupa as doenças e
procedimentos por similaridade e permite a comparação da
performance das equipes. Dessa forma, tanto a operadora quanto o
hospital podem estruturar um modelo de remuneração em que ambos
compartilhem o risco.
“O problema aqui, porque nenhum
sistema é perfeito, é que como o hospital ganha a remuneração mesmo
se não fizer o procedimento, ele pode não fazê-lo para aumentar sua
rentabilidade. A grande mudança então é colocar operadoras e
prestadores na mesma direção, sem prejudicar o usuário”, afirma
Quintão.