O
setor de seguros também paga preço muito além do que é pago em
nações com população maior e mais carros nas
ruas
Novembro de 2014
As
últimas estatísticas sobre a violência no Brasil são assustadoras.
Praticamente todos os indicadores apontam o aumento dos principais
crimes e causas da morte violenta de mais de 100 mil pessoas por
ano.
O
grande campeão continua sendo o trânsito, com mais de 60 mil mortes
anuais, a maioria decorrente de imprudência, imperícia,
irresponsabilidade ou dolo. Ou seja, causas perfeitamente evitáveis
se houvesse o comprometimento dos motoristas com a
sociedade.
Como
não há, além dos 60 mil mortos, todos os anos o país vê engrossar o
rol dos inválidos com mais 600 mil pessoas. O custo disso é
inacreditável. Com certeza, nem o preço das doenças causadas pelo
fumo chegam perto. E são custos perversos, que se dão em três
esferas: o custo da morte, o custo dos tratamentos e o custo da
invalidez. A soma deles com a dor direta e indiretamente causada
pelos acidentes de trânsito ultrapassa qualquer outro, incluída a
devastação representada pelo homicídio, que, no mesmo período,
ceifa a vida de outros 53 mil brasileiros.
Apenas a soma dos custos dos acidentes de
trânsito com as despesas consequentes dos assassinatos seria
suficiente para arrepiar o homem mais duro. A previdência social
brasileira apenas por isso já é das mais sobrecarregadas do mundo.
E está longe de estar entre as mais ricas.
O
setor de seguros também paga preço muito além do que é pago em
nações com população maior e mais carros nas ruas. Mais de 100 mil
mortes violentas por ano encarecem os seguros de vida e acidentes
pessoais e os desastres que atingem outras 600 mil pessoas, além
dos danos corporais, resultam em danos patrimoniais e danos morais,
todos jogados na conta das indenizações pagas pelas
seguradoras.
Mas a
escalada da violência tem outras vertentes tão negras como estas.
As estatísticas apontam o aumento constante dos roubos e dos
estupros, duas modalidades de crimes brutais pela dose de barbárie
inserida neles.
Sobe
a quantidade de furtos, de apropriações indébitas, de estelionatos,
de brigas, enfim, da lei do mais forte.
Como
a Justiça só consegue punir um número ridiculamente baixo de
criminosos, seja por falhas no próprio processo judicial, seja por
falhas da Polícia e do Ministério Público, o brasileiro perdeu o
medo da lei. A chance dele ser alcançado e punido é mínima e, se o
for, as penas a que está sujeito são pateticamente brandas, com
progressões de todas as ordens incentivando que o criminoso volte
ao crime tão logo deixe a prisão, nossa escola de pós graduação em
crueldade e violência.
O
custo social da ação de criminosos de todos os matizes fica mais
dramático ainda quando colocamos no balaio o tráfico e o consumo de
drogas, duas pragas que crescem mais do que os outros
crimes.
De
rota de passagem para o tráfico internacional de cocaína, o Brasil
tornou-se nos últimos anos um dos grandes consumidores de cocaína e
crack, com o vício se espalhando por todo o território nacional,
das grandes cidades às pequenas currutelas perdidas no
interior.
Se a
violência custa caro para toda a sociedade, interferindo
diretamente no preço dos produtos brasileiros, tirando a
competitividade do país no cenário internacional, impedindo o
desenvolvimento de novas atividades econômicas, ocupando e
conflagrando regiões produtivas, não há no horizonte um mero
indício de que a situação vá mudar rapidamente.
Ao
contrário, os escândalos que se sucedem na administração pública
mostram claramente que está "tudo dominado" e que neste momento a
sociedade está perdendo a guerra.
Como
não poderia deixar de ser, o resultado é mais uma notícia ruim:
como o preço do seguro é resultado das indenizações pagas, com elas
subindo de valor e frequência, não tem como não acontecer: o preço
do seguro também vai subir.