Aproximadamente 1/4 da
população brasileira possui planos e seguros de saúde e, nos
últimos anos, o número de ações judiciais contra estes explodiu. Só
em 2017, foram mais de 30 mil queixas registradas pelo Tribunal da
Justiça do Estado de São Paulo, 329% a mais desde 2011.
Ironicamente, esse maior volume ocorre no momento de diminuição da
população que utiliza o serviço. Durante a recessão, muitas pessoas
perderam o emprego e, com isso, o plano de saúde.
Para o professor Mário Scheffer,
coordenador do Observatório da Judicialização da Saúde Suplementar
do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da
USP, este aumento significa que há persistência de práticas
abusivas por parte das operadoras, que há falhas na legislação e
regulamentação existentes e que a Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS) deixa a desejar no cumprimento de suas funções,
pois deveria fiscalizar o setor. O Sistema Único de Saúde também
responde à justiça por mais de 50 mil queixas nos últimos sete
anos. Elas geralmente envolvem a obtenção de medicamentos de alto
custo.
Scheffer revela que a maioria
das ações contra a saúde suplementar está relacionada com a
exclusão de tratamentos caros e complexos, reajuste de mensalidade
e rescisão unilateral. Em mais de 90% das queixas, o usuário ganhou
a causa. O especialista alerta que esta situação ainda pode piorar:
está sendo proposta uma nova lei dos planos de saúde, que atende
unicamente às empresas. Se aprovada no Congresso Nacional, por
exemplo, legaliza planos segmentados de menor cobertura, reduz o
valor das multas e dificulta a incorporação de exames e tratamentos
na lista de procedimentos obrigatórios.