Um ex-agente funerário foi quem
arquitetou o plano que que ainda tinha a participação de um
corretor de seguros que era seu genro, a filha e um médico
Policiais Civis do 2º Distrito
Policial da Vila Prado, realizaram nesta terça-feira (30) a
abertura de uma sepultura onde havia apenas um caixão com uma
pedra, um pedaço de ferro e um saco com serragens. A história
macabra em um primeiro momento é na verdade parte de uma
investigação da Polícia Civil que resultou na identificação de uma
quadrilha liderada por um ex-agente funerário, parentes e um
corretor de seguros. O objetivo era obter vantagens financeiras em
seguros. O plano da quadrilha quase deu certo. A mulher que teria
sido “morta” pela quadrilha, está bem viva e agora corre atrás da
Justiça para provar que não morreu.
As investigações do 2º Distrito
Policial, comandado pelo delegado Walkmar Silva Negré, já vinham
ocorrendo desde o início do ano no mais absoluto sigilo. O mentor
do crime seria um ex-agente funerário de 47 anos, que teria se
unido a um corretor de seguros de 25 anos, que seria seu genro, a
filha de 24 anos, que seria a pessoa a receber o seguro de vida da
“morta” e ainda um médico que prestava serviços na Unidade de
Pronto Atendimento (UPA), da Vila Prado em São Carlos, o qual teria
expedido a declaração de óbito oficial da unidade. O documento
oficial constatava que Cristiane da Silva de 39 anos teria falecido
no início deste ano. A quadrilha pretendia fraudar as corretoras e
faturar com o golpe cerca de R$ 1 milhão.
A outra parte da trama teria sido
realizada na cidade de Descalvado, onde foram montadas as apólices
de seguros. Os golpistas estariam tentando enganar cinco
seguradoras e um cartório de registro civil de São Carlos que
recebendo documentos oficiais, mas fraudados, teria expedido a
“certidão de óbito” de Cristiane.
Ela não sabia do plano – A mulher que
foi “morta” pela quadrilha não sabia que estava sendo usada para
este fim. Os encontros dela com o ex-agente aconteciam na região da
Vila Prado. Consta que ela é de Matão e veio para São Carlos após
se desentender com familiares e passou a morar na rua. Consta que o
plano começou a ser estruturado em junho do ano passado. O
ex-agente foi com Cristiane até o Poupatempo, onde ela deu entrada
na segunda via de seu RG e outros documentos. No momento em que
deixavam o prédio, o ex-agente se apoderou do protocolo, dizendo
que para facilitar a vida dela, ele próprio apanharia a
documentação e a entregaria sem problemas em outro momento.
Apólices
Em outubro de 2016, o corretor de
seguros que fazia parte do grupo, adquiriu em nome de Cristiane,
seis apólices de seguros de vida, montadas através de uma empresa
instalada em Descalvado, cujos seguros foram firmados através de
cinco operadoras. Nas apólices a beneficiária seria a filha do
ex-agente.
O médico – Em janeiro deste ano, o
ex-agente teria convencido o médico a fornecer a falsa declaração
de óbito de Cristiane, que apontava morte súbita como a causa da
morte. O endereço do ex-agente foi colocado como sendo da
residência da mulher declarada morta. Com o atestado de óbito e
documentação, o ex-agente funerário preparou um caixão, que foi
lacrado, e fez o enterro no cemitério Nossa Senhora do Carmo. Ele
ainda fez o pagamento dos custos do serviço e pagou pelo R$
1.548,18 pelo túmulo. O caixão foi sepultado lacrado na manhã do
dia 29 de janeiro deste ano. Nenhum servidor ou funcionário do
cemitério Nossa Senhora do Carmo, sabia do plano da quadrilha.
Quadrilha é descoberta
A Polícia Civil foi informada do plano
através de denúncias e começou a investigar o caso. Paralela a
investigação, os envolvidos ficaram sabendo que a Polícia estava no
caso e desistiram de entrar com os papéis para receber as apólices
de seguros em nome de Cristiane. Os policiais localizaram Cristiane
que não sabia do envolvimento do seu nome em um plano desses. A
mulher que continuou morando em São Carlos confirmou aos
investigadores os contatos que teve com o ex-agente funerário.
Exumação – Com a identificação de toda
a quadrilha a Polícia enviou o caso ao Ministério Público Estadual
(MPE) e a Justiça que autorizou a exumação do caixão nesta terça. O
delegado Walkmar da Silva Negré deve ouvir o ex-agente funerário,
sua filha, o genro e o médico nos próximos dias. Eles podem ser
indiciados pelos crimes de estelionato, falsidade ideológica e
associação criminosa.