Os planos de saúde privados estão
fortemente pressionados pela crise. De um lado, há a antecipação
dos atendimentos e de outro, a queda do faturamento. Esta conta não
fecha. Os dois fenômenos são decorrência da dispensa de quase 12
milhões de trabalhadores com carteira assinada. O aumento das
despesas com procedimentos cobertos acontece porque, com medo de
perder o emprego e, consequentemente, o plano de saúde privado, os
segurados antecipam os exames e tratamentos que seriam feitos ao
longo do tempo. Como as dispensas crescem em ritmo mais ou menos
acelerado, o faturamento das operadoras diminui, em função da
redução do número de funcionários contratados.
Estima-se que mais de um milhão de
pessoas perderam seus planos de saúde privados ao longo de 2015. E
este número deve continuar crescendo porque, em 2016, o desemprego
se agravou.
Como se não bastasse, a saúde
pública está quebrada, não conseguindo sequer garantir as vacinas
necessárias para manter sob controle doenças que podem se alastrar,
se transformando em epidemias capazes de atingir todo o território
nacional, como ficou demonstrado pelo zika vírus.
Sensibilizados com o drama da
saúde, os tribunais têm concedido liminares para o atendimento de
toda sorte de procedimentos, muitos deles de responsabilidade
direta do SUS, como seria a rigor o tratamento da dengue, do
chikungunya e do zika vírus.
Faz tempo que os planos de saúde
privados pagam os tratamentos da dengue e, por tabela, também estão
custeando os tratamentos para chikungunya e zika vírus. São custos
extraordinários, que impactam o resultado da operação, espremendo
suas margens que já estão muitas vezes negativas.
Mas a Justiça tem ido além,
ordenando o pagamento de outras despesas, algumas não previstas
pela Lei dos Planos de Saúde Privados ou não contratadas pelos
segurados. Se este quadro se alongar – e não há nada que indique
uma mudança – mais operadoras começarão a fazer água, em função das
despesas superarem o faturamento. Não é possível se manter uma
operação deficitária por muito tempo e vários planos já estão no
vermelho, enquanto outros estão na marca do pênalti ou até já
quebraram.
Para completar um cenário ruim, a ANS acaba de determinar que os
planos de saúde custearão, obrigatoriamente, os testes para zika
vírus. Eu não sei qual o potencial de custo que estes testes podem
representar para as operadoras, mas, de qualquer forma, é mais uma
mudança das regras durante o jogo. Nada que não aconteça
rotineiramente, mas que gera mais um impacto negativo numa operação
já ameaçada pela lei, pelo momento nacional e, também – por que não
dizer? – por má gestão do negócio.
O fato concreto é que não há almoço
de graça. Alguém, em algum momento, sempre paga a conta. No caso
dos planos de saúde privados, como é óbvio, pela própria natureza
da operação, a conta ficará com os segurados.
Prova disso é o recente aumento de
mais de 13% autorizado pela ANS (Agência Nacional de Saúde
Suplementar) para os planos individuais e familiares contratados
depois de 2009. Deve ser o maior aumento já autorizado para estes
planos e, mesmo assim, dificilmente, eles serão encontrados no
mercado. Poucas operadoras ainda trabalham com os planos
individuais porque os aumentos autorizados pelo Governo,
normalmente, não são suficientes para reporem os custos, sempre
mais elevados do que a inflação.
Ao determinar que os planos de
saúde privados paguem os testes para zika vírus, o Governo, de
verdade, está tentando diminuir esta despesa na conta do SUS. É
ilegal e sem sentido, mas é Brasil. Tanto faz se a Constituição
determina que é obrigação do Estado fornecer saúde gratuita e de
qualidade para toda a população. Também tanto faz se os planos
privados são suplementares. Cada vez mais eles vão sendo obrigados
a se aproximar do atendimento amplo e irrestrito que a lei diz ser
do Estado.
Isto pode ser feito, mas, para
tanto, ou se adequa os planos privados à realidade ou, em algum
momento, todos os brasileiros estarão engrossando as filas no
SUS.