Não é apenas o momento político
nacional que está complicado. Em função das mazelas que foram
introduzidas como ferramenta de gestão ao longo dos últimos anos, o
Brasil, em todas as áreas, atravessa um dos momentos mais delicados
de nossa história.
A quebra dos padrões éticos levou a
nação a aceitar desmandos de todos os tipos, ações inconsequentes,
corrupção e bandalheira como algo normal. O resultado está aí e é
feio. Antes de tudo, porque atrapalha a vida de milhões de pessoas
que dão duro para viver e o fazem da forma mais honesta
possível.
O assalto aos cofres públicos pode
ser visto diariamente nas dezenas de casos de corrupção que saltam
feito pipoca da cartola mágica dos responsáveis pela Operação Lava
Jato. Mas não é só nela que o quadro está feio. O escândalo do
CARF, da merenda escolar em São Paulo, as invasões de escola,
prédios e fazendas, a falta de respeito pela ordem e autoridades em
geral, mostram um quadro desastroso e que vai custar muito caro,
antes do país ser passado a limpo.
Nossa imagem está comprometida
junto aos brasileiros e à comunidade internacional. Jornais,
revistas e televisões do mundo inteiro dão destaque amplamente
negativo ao que acontece no Brasil.
A reunião do Comitê Olímpico
Internacional, na Suíça, foi um vexame, com os dirigentes das
várias federações esportivas descendo o pau na desorganização e no
atraso, além de apontarem sérios riscos para os atletas que irão
competir.
Riscos que vão de doenças, como a
dengue e o zika vírus, passam pela poluição das águas da Baía de
Guanabara e terminam na falta de energia que vai se tornando
recorrente nos eventos testes para o grande momento.
Pouca gente imagina que as coisas
vão melhorar apenas porque os responsáveis dizem que são apenas
pequenas ocorrências pontuais e que, na data dos jogos, estará tudo
resolvido.
O recente acidente, absolutamente
previsível, que derrubou um trecho de uma ciclovia inaugurada há
três meses no Rio de Janeiro, é um sinal claro de que as coisas
ainda podem piorar muito. E piorar num cenário que compromete mais
a imagem do Brasil diante da comunidade internacional.
É estarrecedor imaginar que os
estudos e cálculos para a construção da ciclovia, colocada num
costão famoso pelas ondas que estouram em suas pedras, não levaram
em conta a possiblidade de uma ressaca com vagas capazes de
atingi-la e danificá-la.Os seguradores responsáveis pelas apólices
destinadas a garantir os jogos devem estar preocupados. Faz poucas
semanas, uma palestra num evento sobre resseguro, no Rio de
Janeiro, deu ao público uma bela noção do que foi feito e das
medidas adotadas para dar o máximo de garantia aos jogos, aos
atletas, aos voluntários e ao público.
Mas os fatos vão mostrando outra
realidade. Os responsáveis pela organização reconhecem que
equipamentos que deveriam fazer parte das instalações não serão
implantados; a falta de energia tem se mostrado constante; os
atrasos nas obras colocam a pressa como eventual causadora de
acidentes. Os riscos de sinistros aumentam!
O Brasil inteiro espera que os
Jogos Olímpicos de 2016 entrem para a história como o mais bem
realizado e o de maior sucesso desde a primeira edição da
competição. Mas está difícil ver a luz no fim do túnel. Há indícios
demais de que as coisas podem dar errado, se não forem tomadas
medidas para minimizar os estragos. A questão é se ainda dá
tempo.
Quanto às seguradoras e
resseguradoras envolvidas, além dos atrasos, obras malfeitas e
superfaturamento, que são causas concretas para a ocorrência de
sinistros, têm outros motivos para ficarem preocupadas. A falência
do Estado do Rio de Janeiro comprometeu a segurança pública, com a
violência atingindo índices preocupantes, e, ainda mais delicado,
há avisos que precisam ser levados a sério de que movimentos
terroristas internacionais estariam preparando um atentado no
Brasil, em função da visibilidade.
Esperamos que corra tudo bem e que
nada aconteça. Mas cautela e caldo de galinha nunca fizeram mal a
ninguém. De acordo com as seguradoras, os jogos estão bem
segurados.