Faz tempo que o underwriting do
seguro de veículos em várias companhias tem índice combinado acima
de 100 pontos. O lucro vem efetivamente do resultado
financeiro
Falar que 2015 será um ano muito
difícil é chover no molhado, repetir o que todo mundo já sabe e por
isso o país torce pelo novo Ministro da Fazenda. Se ele não for
prestigiado, o buraco ficará maior. Ou seja, a realidade argentina
estará mais próxima, com tudo de desastroso que isso
representa.
O problema é que não tem como quem
mexe com seguro não prestar atenção ao quadro geral da economia e
da sociedade brasileira. É preciso ter claro que seguro é
ferramenta de suporte, é peça acessória, que é turbinada ou não
pelo crescimento da economia e pela demanda da sociedade.
Em 2015 estas duas premissas estão
comprometidas. O crescimento será próximo de zero e a o aumento da
demanda já deu lugar à estagnação desde o final do ano passado.
Como consequência, é de se esperar a retração do setor, com menos
gente contratando seguros e, os que o farão, pensando muito antes
de fazê-lo.
Com o arrefecimento do consumo
vários produtos que vinham crescendo em ritmo acelerado devem mudar
a toada. É o caso das garantias estendidas e dos seguros
prestamistas. Dificilmente o ano permitirá desempenho
comparável aos dos dois últimos exercícios.
Mas para boa parte das seguradoras
em operação no Brasil o seguro que realmente importa é o seguro de
veículos. É ele que responde por parte muito importante dos prêmios
das seguradoras de varejo. E é ele que está complicado desde
2013.
Complicado não significa que operar
no ramo seja sinônimo de prejuízo. Várias seguradoras investem
pesado no produto e sabem tratá-lo de forma eficiente, precificando
corretamente e adotando medidas operacionais que lhes permitem
manter um desempenho positivo, ainda que com vetores diretamente
ligados ao seguro de veículos se deteriorando.
A deterioração do próprio negócio
não é tão recente. Já faz alguns anos que os roubos de veículos
mantêm tendência de alta, mês após mês, em praticamente todas as
zonas urbanas importantes. Como se não bastasse, as colisões, que
durante anos praticamente não apresentaram oscilação significativa,
depois do início dos financiamentos de longo prazo, sofreram forte
aumento.
Quer dizer, o número de eventos
aumentou, impactando diretamente o seguro do próprio casco e as
garantias de responsabilidade civil. É verdade que a maior parte
dos veículos brasileiros não é segurada, mas isso não impede que o
aumento geral dos sinistros atinja negativamente a última linha do
resultado da carteira.
As seguradoras se valem do
resultado da aplicação dos prêmios no mercado financeiro para
melhorar o desempenho do seguro de veículos. É prática antiga e
que, com os juros altos e a inflação baixa, melhora muito o lucro
da companhia. Acontece que em 2014 a inflação atingiu a banda alta
da meta anual e em 2015 há quem diga que ela pode ficar acima dos
6,5%.
Se isso se confirmar, a remuneração
do dinheiro, ainda que acima dos 12% anuais, representará um volume
de recursos muito menor. Supondo que os juros básicos atinjam 13%
ao ano, a rentabilidade real será de 6,5% no período e sobre ela
incide imposto de renda e IOF, recém elevado pelo Governo.
Faz tempo que o underwriting do
seguro de veículos em várias companhias tem índice combinado acima
de 100 pontos. O lucro vem efetivamente do resultado
financeiro.
O problema é que a sinistralidade
deve continuar subindo, assim como a inflação deve permanecer alta.
Ou seja, o índice combinado deve ultrapassar em muito os 100 pontos
e o resultado financeiro deve cair para menos de 5% reais ao ano. O
resultado da operação neste cenário pode ficar negativo, o que
significa prejuízo na última linha do balanço.
Todas as companhias estão
condenadas a amargar perdas com o seguro de veículos? É evidente
que não. Mas, mais do que nunca, o seguro de automóveis, ao longo
de 2015, será trabalho para profissional. Não adianta apenas
vender. Será necessário tratar o negócio com olhos na sintonia
fina. Dependendo da situação será inclusive melhor deixar de fazer
o seguro, reduzir a carteira e manter a rentabilidade.