Marcada para
começar na semana que vem, eficácia da vacinação contra o papiloma
vírus é questionada por especialistas
Começa na próxima semana a vacinação contra o
papiloma vírus humano (HPV), que passa a integrar o calendário de
vacinação e será ofertada pela rede pública a meninas com idade
entre 11 e 13 anos. Em 2015, a vacina passa a ser oferecida para
meninas de 9 a 11 anos. A meta do governo é reduzir a incidência do
câncer de colo de útero no país.
Mas,
para o diretor da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e
Comunidade (SBMFC), Daniel Knupp, a estratégia deve ser vista com
ressalva e muita cautela. Em entrevista à Agência
Brasil, ele explicou que a inclusão da dose no calendário
nacional preocupa em razão do debate científico sobre a eficácia e
a segurança da vacina. Segundo Knupp, diversas pesquisas
demonstram, por exemplo, que a imunização pode provocar, entre
outros efeitos colaterais, o aumento de doenças autoimunes como o
diabetes tipo 1.
Outro
problema, de acordo com o especialista, trata da realização do
chamado rastreamento tradicional de câncer de colo de útero ou
papanicolau. Dados da SBMFC indicam que a cobertura do exame no
Brasil está bem abaixo do recomendado pela Organização Mundial da
Saúde (OMS). Menos de 50% das brasileiras com idade entre 25 e 69
anos faz o papanicolau pelo menos uma vez a cada três anos, quando
a taxa ideal seria pelo menos 80%.
“A
vacinação não substitui o rastreamento tradicional. Ela não elimina
as lesões [que provocam o câncer], apenas diminui a incidência
delas. Se a população for vacinada e deixar de fazer os exames
preventivos, ela pode ter piores consequências do que se não
tivesse se submetido à vacina”.
Por
fim, Daniel abordou também o esquema de vacinação proposto pelo
Ministério da Saúde, que consiste em três doses – a segunda seis
meses após a primeira e a terceira, cinco anos depois. Segundo ele,
o esquema tradicional adotado na maior parte dos países inclui a
segunda dose dois meses após a primeira e a terceira, seis meses
depois.
O
secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa, explicou que o
esquema de vacinação adotado pela pasta é recente mas já é
utilizado em países como Canadá e Suíça. Segundo ele, ficou
comprovado que, com apenas duas doses, a menina já está protegida.
A ideia de aplicar a terceira doses cinco anos depois consiste em
prolongar o efeito protetivo da imunização.
“Vários estudos científicos demonstram que o uso
da vacina reduz a prevalência do HPV mesmo entre os não vacinados.
É o efeito rebanho ou de imunidade coletiva. Quando você vacina
essas meninas, elas deixam de transmitir o vírus e você vai
quebrando a cadeia de transmissão”, disse, ao destacar que, nos
Estados Unidos, foi registrada uma queda da infecção por HPV entre
meninos após a imunização de meninas.
Para
Jarbas, a eficácia da vacina é indiscutível. Segundo ele, a
Organização Mundial da Saúde (OMS) se reuniu em junho do ano
passado e revisou dados relativos à imunização contra o HPV. O
relatório emitido pelo órgão garantia a segurança da
imunização.
“Essa
vacina vai ser uma ferramenta muito importante e a combinação
[vacina e papanicolau] pode fazer a gente pensar, em uma ou duas
décadas, no câncer de colo de útero cada vez mais raro. Mas, para
chegar lá, vamos ter que vacinar muito e aumentar a adesão das
mulheres ao papanicolau. Estamos diante de um cenário otimista como
em poucas vezes a gente tem em relação ao câncer.”