O médico brasileiro Luiz Loures foi nomeado pelo
secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, para ocupar um dos cargos de
comando da operação contra a aids no mundo e já fala na nova fase
de combate à doença e no fim de seu estágio como epidemia até 2030.
"Estamos iniciando o que seria a fase final da epidemia e será
nesse contexto que vou atuar", declarou Loures ao Estado.
Ao assumir a função em 2013, ele será o brasileiro com posto
mais alto na hierarquia da ONU.
Loures será o secretário-geral assistente da ONU e vice-diretor
executivo da Unaids. Em sua avaliação, o progresso científico, o
maior consenso internacional sobre o tratamento e a mobilização da
sociedade abriu o caminho para que a guerra contra a aids inicie
sua fase final - pelo menos como epidemia, nos últimos 25 anos.
"Temos uma grande oportunidade. Como epidemia, minha previsão é
de que a aids tenha seu fim em 15 anos", declarou Loures. Um ponto
que promete ser revolucionário é o fato de que portadores do vírus
que estejam sob tratamento têm redução de 96% nas chances de
transmissão. "Com o tratamento chegando a um número cada vez maior
de pessoas, será dado um grande passo para frear essa transmissão.
Obviamente que casos vão continuar a surgir, mas acredito que
poderemos deixar de chamar a doença de uma epidemia em 15 anos se
os avanços forem mantidos", disse.
Segundo ele, a tarefa até lá é "imensa" e o combate terá de
avançar rápido. "Ainda temos 2,5 milhões de novos infectados por
ano e 1,7 milhão de mortes." Um dos riscos, em sua avaliação, é de
que a aids deixe de estar entre as prioridades na agenda
internacional, cedendo lugar ao clima e outras crises.
Loures foi um dos criadores do programa brasileiro de combate à
aids que vem sendo para a ONU. Mas alerta que nem sempre o Brasil
foi tido como exemplo. Ele lembra de que, no final dos anos 1990,
ele era o único em reuniões da Organização Mundial da Saúde a
defender a democratização do acesso aos remédios e tratamentos para
todos. "Naquele momento, só eu e o Brasil defendíamos essa posição.
Hoje, ela é um consenso internacional", disse.
Loures vai comandar os programas que já existem na ONU e
garantir que o acesso aos remédios seja o mais amplo possível.
"Todos precisarão passar por uma mudança profunda na forma de lidar
com a doença. O que vem pela frente são mudanças radicais que nos
serão exigidas", completou.