A ANS (Agência Nacional de Saúde
Suplementar) cedeu aos apelos de pacientes, órgãos de defesa do
consumidor e entidades médicas, como a SBCM (Sociedade Brasileira
de Clínica Médica), derrubando a Resolução Normativa 433, que
estabelecia as regras das modalidades de planos de saúde com
coparticipação e franquia.
A revogação marca importante vitória
na defesa dos direitos do cidadão à assistência e também na
salvaguarda da Lei 9.658/98, que regulamenta a rede
complementar.
Antes mesmo deste desfecho, a norma já
estava suspensa por determinação da presidente do STF (Supremo
Tribunal Federal), ministra Cármen Lúcia. A decisão atendia o
clamor da SBCM e de instituições parceiras, que desde o início se
posicionaram publicamente contra as novas modalidades e em prol do
atendimento digno e justo para a população.
Agora, a ANS informa que pretende
realizar audiências públicas para que os temas sejam novamente
avaliados.
Seria absurdo se tal propositura prosperasse. Não estamos falando
de um bem automotivo que, em caso de acidente, você deixa na
garagem e anda de ônibus. O paciente, se necessitar de uma cirurgia
importante e não tiver como pagar, pode até morrer.
Afastado, ao menos momentaneamente, o
fantasma da franquia-coparticipação, os mais afeitos podem deduzir
precipitadamente que tempos de calmaria enfim virão para os
pacientes. Nada disso. Em cabeça de político, ao menos na maioria,
sobre espaço para sandices.
Como alertei faz algum tempo, segue tramitando na Câmara dos
Deputados o Projeto de Lei 8.231, de 2017, propondo o prazo mínimo
de 60 dias para volta à consulta.
Ao impor uma camisa de força à
assistência, tal propositura abala a base da boa abordagem ao
paciente. Fazer um exame e levá-lo dois meses depois para o médico
é praticamente jogar dinheiro fora, se considerado que os quadros
clínicos mudam constantemente. Se um paciente for portador de mal
crônico, as consequências podem ser ainda mais graves.
Lamentavelmente, vemos seguidas
tentativas de legislar a Saúde como se fosse um negócio, só para
aumentar os lucros de uns poucos. Não, isso não pode continuar.
Cabe a todos nós ministrar o remédio para cuidar da doença que há
tempos assola o Brasil: um voto consciente.