Os trabalhadores dos Correios estão de braços cruzados desde a meia-noite desta segunda-feira (11). A decisão foi tomada na semana retrasada em assembleias realizadas em Curitiba, Londrina, Maringá, Cascavel, Foz do Iguaçu, Guarapuava e Ponta Grossa. Ainda não se sabe qual será o prejuízo para a população.
A categoria diz não suportar mais o sucateamento da empresa, ou seja, a falta de recursos de trabalho e as demissões constantes, medidas que, segundo os funcionários, estão sendo tomadas pela empresa visando a privatização. Mas o que mais revolta os trabalhadores, desta vez, são as novas regras impostas ao plano de saúde.
Dentre as principais mudanças no plano, estão a cobrança de mensalidade de titular e dependentes, aumento de 300% no percentual de coparticipação de consultas e exames e exclusão de pai e mãe.
Tais mudanças, na avaliação dos trabalhadores, irão inviabilizar o direito à assistência médica, já que, segundo o sindicato da categoria, o Sintcom, os trabalhadores dos Correios ganham, em média, R$ 2,3 mil mensais brutos, o menor salários das companhias estatais. E as novas regras dos planos de saúde pesariam muito no bolso dos funcionários.
De acordo com o sindicato, o plano de saúde é fruto de negociações coletivas de décadas e sua implantação foi como uma contrapartida aos baixos salários da categoria e às condições cada vez piores de trabalho.
Vai privatizar?
“A privatização dos Correios já está acontecendo de dentro para fora. O enxugamento da empresa está se dando por meio de programas de demissões incentivadas, extinção de cargos, fechamento de agências, sucateamento da frota e de maquinário, redução da jornada de trabalho e de salários, terceirização precária de atividades essenciais, aumento no repasse às agências franqueadas em contrapartida ao fechamento de unidades próprias. O déficit apontado pelo atual presidente da ECT, o deputado derrotado em São Paulo, Guilherme Campos (PSD/SP), nada mais é que resultado de má gestão e maquiagem contábil”, esclarece Marcos Rogério Inocêncio, secretário geral do Sintcom.
O sindicalista acrescenta que nesta semana, a direção dos Correios acaba de anunciar o fechamento de todas as agências “sombreadas”, ou seja, aquelas que possuem unidades próximas uma da outra, despejando na rua milhares de funcionários concursados por meio de demissão motivada. “O objetivo é enxugar, terceirizar o que restar, acabar com a universalização do atendimento e privatizar os setores mais lucrativos nos grandes centros urbanos, onde gigantes do mercado internacional tendem a concentrar os serviços e criar cartéis com tarifas exploratórias”, denuncia Inocêncio.
Correios negam descumprimento de acordo
Em nota oficial encaminhada à imprensa, os Correios reconhecem que a greve é um direito do trabalhador, mas dizem que a empresa entende o movimento atual como injustificado e ilegal e afirmam que “não houve descumprimento de qualquer cláusula do acordo coletivo de trabalho da categoria”.
Leia a nota oficial dos Correios na íntegra:
“Os Correios vêm a público prestar esclarecimentos à sociedade sobre a paralisação de empregados que está ocorrendo nesta segunda-feira (12). Mesmo reconhecendo que a greve é um direito do trabalhador, a empresa entende o movimento atual como injustificado e ilegal, pois não houve descumprimento de qualquer cláusula do acordo coletivo de trabalho da categoria.
Com o objetivo de ganhar a opinião pública, as representações dos trabalhadores divulgaram uma extensa pauta de reivindicações que nada têm a ver com o verdadeiro motivo da paralisação de hoje: a mudança na forma de custeio do plano de saúde da categoria.
O movimento está relacionado, essencialmente, às discussões sobre o custeio do plano de saúde da empresa, que atualmente contempla, além dos empregados, dependentes e cônjuges, também pais e mães dos titulares. O assunto foi discutido exaustivamente com as representações dos trabalhadores desde outubro de 2016, tanto no âmbito administrativo quanto em mediação pelo Tribunal Superior do Trabalho, que apresentou proposta aceita pelos Correios mas recusada pelas representações dos trabalhadores. Após diversas tentativas de acordo sem sucesso, a empresa se viu obrigada a ingressar com pedido de julgamento no TST.
Para se ter uma ideia, hoje os custos do plano de saúde dos trabalhadores representam 10% do faturamento dos Correios, ou seja, uma despesa da ordem de R$ 1,8 bilhão ao ano.
No momento, a empresa aguarda uma decisão por parte daquele tribunal. A audiência está marcada para a tarde de hoje.
Crise financeira – Conforme amplamente divulgado pelos meios de comunicação, os Correios enfrentam uma grave crise financeira, fruto da queda expressiva do volume de correspondências, objeto de monopólio, e da falta de investimentos em novos negócios, nos últimos anos, que garantissem não só a competitividade, mas também a sustentabilidade da empresa. Estes, dentre outros fatores, vêm repercutindo nas contas dos Correios e, neste momento, um movimento dessa natureza serve apenas para agravar ainda mais a situação delicada da estatal e, consequentemente, de seus empregados.
Serviço – A paralisação parcial, iniciada nesta segunda-feira (12) por alguns sindicatos da categoria, ainda não tem reflexos nos serviços de atendimento dos Correios. Até o momento, todas as agências, inclusive nas regiões que aderiram ao movimento, estão abertas e todos os serviços estão disponíveis.
Neste fim de semana (10 e 11), os Correios já colocaram em prática seu Plano de Continuidade de Negócios, de forma preventiva, para minimizar os impactos à população. Até o momento, a paralisação está concentrada na área de distribuição — levantamento parcial realizado na manhã de hoje mostra que 87,15% do efetivo total dos Correios no Brasil está presente e trabalhando — o que corresponde a 92.212 empregados, número apurado por meio de sistema eletrônico de presença. No Paraná, 93,45% do efetivo está trabalhando normalmente, o que corresponde a 5.483 empregados”.