Prática de apontar o condutor
principal como alguém com perfil de menor risco para tentar escapar
de preços altos configura quebra de contrato
É de conhecimento geral que seguros
custam mais para um certo perfil de clientes: jovens solteiros do
sexo masculino entre 18 e 25 anos que moram em grandes cidades, por
exemplo, têm que desembolsar um valor maior que senhoras casadas e
que têm 40 anos para garantir cobertura caso algo ocorra com seu
carro.
Fatores como idade, estado civil,
filhos, local de trabalho e de moradia e até o perfil do uso do
carro influenciam diretamente no preço cobrado pelas seguradoras e,
por isso, perguntas sobre essas questões são recorrentes no momento
da contratação. Esse cálculo é feito, claro, com base em
estatísticas dos números de acidentes registrados para aqueles
grupos.
Para conseguir um preço melhor, no
entanto, muitos acabam optando por registrar a apólice no nome de
alguém cujo perfil se adeque às tarifas mais baratas. É o caso de
pais que, ao presentearem os filhos com um carro e, sabendo dos
preços mais altos para jovens de 18 a 25 anos – os maiores
envolvidos em acidentes -, se colocam como condutor principal.
Só que mentir na hora de responder os
questionamentos da seguradora, alertam profissionais da área, pode
acabar acarretando a perda da indenização. Isso porque, caso
perceba que o condutor principal do veículo não é aquele indicado
na apólice, a empresa pode, por contrato, cancelar a cobertura.
“É o barato que sai caro, não tem
jeito”, afirma o vice-presidente de Marketing e Relações com
Mercado do Sindicato dos Corretores de Seguro do Estado de Goiás
(Sincor-GO), Amaury Gonçalves. “Os próprios corretores orientam os
clientes na hora da contratação para evitar casos assim, mas
acontece. Se a seguradora comprovar que houve má fé, pode até
cancelar a indenização”, complementa o vice-presidente de Social e
Benefícios do Sincor, Deivid Pereira.
Segundo Deivid, as companhias têm
padrões diferentes para cuidar desses casos e pode ser que cheguem
a um acordo com o cliente, mas o mais comum é a negativa do serviço
quando há identificação de fraudes. “A primeira coisa que a
companhia vai averiguar é se era um condutor ocasional. Se a pessoa
saiu e um amigo estava dirigindo porque ela bebeu, não é problema”,
explica.
A fraude ocorre quando esse terceiro
é, na verdade, o principal condutor – quem dirige o veículo cinco
dias por semana ou em 85% do tempo. Na maioria dos casos, o
problema envolve jovens. “Se você tem um condutor de 18 a 25 anos
na família, negou, ele pegou o carro e sofreu um acidente, a
companhia não paga a indenização”, pontua Amaury.
CEP
Outra questão importante na hora de
determinar o preço do seguro é o CEP da residência do segurado, já
que algumas regiões são mais violentas que outras. “As seguradoras
se baseiam em estatísticas de regiões onde ocorrem mais roubos e
pode haver diferença até entre ruas”, conta Deivid. Mentir nessa
parte do contrato também gera perda de indenização.
“A seguradora mapeia a cidade pelos
índices de criminalidade. Tem bairros de Goiânia que dá diferença
de R$ 400, por exemplo. A seguradora tem que ter como mitigar o
custo da região”, complementa Amaury. Quem utiliza o carro para
trabalhar também tem que informar isso à seguradora, porque o
perfil de uso do veículo é outro fator importante.
Além de causar prejuízos para o
próprio segurado, os custos com as fraudes já fazem parte das
planilhas de cálculos das companhias. “Indiretamente, a fraude
acaba aumentando o preço do seguro. Se teve mais sinistro do que a
seguradora está esperando, a estatística fura”, afirma Deivid.
Amaury esclarece: “Perfil não foi
feito para negar seguro, mas sim para dar um preço justo. Não
justifica um condutor que mora no interior, por exemplo, pagar a
mesma taxa de quem mora na capital, onde os índices de
criminalidade são maiores.”