A vulnerabilidade do campo aos
riscos climáticos cria um cenário cada vez mais favorável para o
seguro agrícola com um potencial eminente como fator de proteção ao
produtor rural, principalmente em se tratando do Brasil em que há
forte presença da agricultura familiar, correspondendo a pouco mais
de 84% dos estabelecimentos rurais, em um universo de 5,2 milhões
de propriedades.
Em sua apresentação no 4º Encontro
de Resseguro do Rio de Janeiro, Eduardo Porcel, vice-presidente
Agro Business Underwriting da TransRe Panamá, mostrou que em se
tratando da região da América Latina e Caribe, a presença do seguro
agrícola ainda é baixa. “Os Estados Unidos detém 56% do mercado de
seguro agrícola, enquanto que a participação da América Latina e
Caribe é de 3%, e em boa parte desta região há oito países
oferecendo seguros, quase 80 seguradoras e a tendência de PPP
(parcerias público-privadas) com seguros subsidiados”,
comentou.
Segundo ele, também na região da
América Latina e Caribe, cerca de 85% da agricultura, florestas e a
aquacultura não estão seguradas. “Atualmente, entre as 20 maiores
seguradoras que atuam com o seguro rural, 62% é a participação dos
grupos locais, 14% é a fatia dos regionais e, entre os globais, a
participação é de 24%”, especificou.
Sobre desafios e oportunidades,
Porcel falou sobre a regulamentação do programa de subsídio. “Uma
oportunidade para a criação de produtos que levem em consideração
uma precificação específica. E o mercado deveria focar em produtos
para toda a cadeia, não apenas para os fazendeiros. Há também uma
grande oportunidade para os corretores, para que eles ajudem a
desenvolver o mercado, novos produtos. O desafio é enxergar este
mercado de forma holística”, pontuou.
Exposição
Wady José Mourão Cury, diretor
Geral de Habitacional do grupo segurador BB Mapfre, ilustrou que no
Brasil apenas 14% da área plantada está segurada, com nove
seguradoras operando, enquanto nos Estados Unidos este percentual
chega a 89% e a 60% no Canadá. “Com o programa de subvenção
(iniciado no final de 2005), saímos de menos de 1,5 milhão de
hectares segurados para quase 10 milhões, com um crescimento de
quase 20% e R$ 1,3 bilhão em prêmios no ano passado”,
especificou.
De acordo com ele, o Brasil carece
de dados centralizados para que se possa desenvolver produtos que
atendam as reais necessidades do homem do campo. “Há muitas
informações dispersas e temos que partir para um único banco de
dados, por exemplo, com a produtividade do agricultor por cultura,
região e clima, para que estas informações sejam transformadas em
conhecimento”, defendeu. Outro desafio na exposição de Cury é a
capacitação profissional, o que requer alta especialização, e a
padronização de normas técnicas específicas por culturas e regiões
para assistências técnicas aos segurados e seguradoras.
“O que temos hoje é risco de uma
única catástrofe, aumento do número de exposições na carteira e
baixa correlação de riscos isolados. O principal desafio é entender
as necessidades dos clientes. No caso do seguro agrícola deve-se
somar o princípio do mutualismo com o coletivo”, disse. O
agricultor é vulnerável não apenas aos eventos climáticos, mas à
globalização, preços das commodities.
Como ponto a favor, o executivo
destacou a criação do Zoneamento Agrícola de Risco Climático,
usados pela primeira vez na safra de 1996, o que possibilitou a
orientação do tempo adequado para o plantio aliado com a
tecnologia, chegando a um acerto de 80%. “Ele é usado não apenas na
questão do crédito, mas também para o seguro agrícola, e a
subvenção ao prêmio incentiva a oferta por parte das seguradoras e
resseguradoras. Mas tem que existir o fundo de catástrofe”,
defendeu Cury.
O Programa de Subvenção ao Prêmio
do Seguro Rural subsidia o agricultor com o custo do seguro, com
uma redução entre 30% e 70% no valor do prêmio. Até então, o
governo federal ainda não liberou os recursos e as regras de acesso
ao Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) para este
ano. Além de estar em dívida com as companhias seguradoras no
montante de R$ 400 milhões de recursos aprovados no PSR em 2014, há
uma pendência de R$ 300 milhões referente às apólices de seguro
agrícola de 2014 que ainda não foram aprovados no Ministério da
Agricultura.
No Proagro
No Programa de Garantia da
Atividade Agropecuária (Proagro), Angelo Gemignani, presidente do
Instituto Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável do
Agronegócio, IBDAgro, comentou que ainda não existe o resseguro
nesta modalidade. “Mas se todos nós fizermos uma pró-engenharia no
Proagro, creio que conseguiremos oferecer um projeto de resseguro
para o governo brasileiro”, destacou.
De acordo com ele, atualmente a
adesão ao Proagro é facultativa e as alíquotas variam de acordo com
a atividade. “A partir de 1º de julho deste ano, o crédito de
custeio financiado deve ser contratado obrigatoriamente com o
Proagro”, afirmou, referindo-se à Resolução 4.336/2014 do Conselho
Monetário Nacional (CMN). Atualmente, esta obrigatoriedade se
aplica apenas ao custeio vinculado ao Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura.