Desde 1990 à frente de pesquisas,
desenvolvimento e comercialização de medicamentos, a INTERFARMA
(Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa) acredita que,
apesar de todas as dificuldades, a saúde pública no Brasil tem
jeito. O caminho para encontrar as melhores soluções está no debate
e nas propostas para melhorar a gestão do serviço, com foco na
ampliação do acesso ao atendimento e aos medicamentos e no
bem-estar da população. Em busca de um futuro melhor para a saúde
do brasileiro, a INTERFARMA resumiu em quatro ideias os pontos mais
críticos e urgentes para aperfeiçoar o SUS e garantir uma boa
gestão do setor. As propostas deram origem a uma carta, entregue a
todos os presidenciáveis e suas equipes de campanha, com o objetivo
de incentivar o diálogo e contextualizar cada uma dessas questões.
Os candidatos também foram convidados para sabatinas.
A Carta aos Candidatos da INTERFARMA
defende: 1. Continuidade e amparo técnico na gestão da saúde; 2. O
melhor aproveitamento do potencial inovador do país; 3. Ampliação
do acesso a medicamentos básicos; 4. Políticas públicas eficientes
para viabilizar o acesso a medicamentos complexos.
Segundo a associação, o SUS já obteve
bons resultados em suas primeiras batalhas, como na luta contra
doenças infecciosas e na imunização. Mas agora os desafios são
outros: a população está envelhecendo e, com isso, crescem as
demandas para tratar doenças crônicas e complexas, como diabetes e
câncer. Além disso, de acordo com a INTERFARMA, a corrida pelas
novas tecnologias mobiliza cientistas de todo o mundo e, embora o
Brasil tenha muito potencial para participar e se destacar nessa
área, ainda exerce uma tímida posição de coadjuvante. E seus
melhores cientistas são obrigados a atuar no exterior.
Para lidar com essas questões, os
associados da INTERFARMA afirmam que não bastam soluções
imediatistas. Entendem que o sucesso da saúde no país depende
de políticas de estado bem elaboradas, que estabeleçam metas para
médio e longo prazos, assim melhorando consistentemente a
qualidade de vida do brasileiro.
Para o presidente executivo interino
da INTERFARMA, Pedro Bernardo, o quadro da Saúde no Brasil é
composto por diversos meandros que precisam ser identificados e
enfrentados. As dificuldades, segundo ele, foram intensificadas com
a crise econômica que assola o país.
— A Saúde depende muito da situação
econômica do Brasil. Com esse mergulho na crise e a queda do PIB, o
Ministério da Saúde, que já tinha dificuldade com orçamento, ficou
pior. Quem precisa de assistência básica procura o governo e é
atendido. Quem precisa de atendimento de alta complexidade também,
então o governo está nos dois extremos. E temos uma saúde privada
suplementar, que tem aumentado os preços acima da inflação, ficando
cada vez mais difícil para a população pagar o plano. E até os
planos coletivos e corporativos estão caros. Isso está pesando na
conta das empresas — avalia ele.
Pedro destaca ainda que o sistema tem
sido cada vez mais pressionado por uma série de mudanças no perfil
da população. O crescimento de doenças degenerativas e o aumento da
expectativa de vida fazem com que a procura pelo serviço de saúde
seja cada vez maior, o que requer um trabalho de prevenção mais
consistente.
IMPOSTOS SOBRE MEDICAMENTOS
As altas taxas tributárias encarecem
os medicamentos e prejudicam o acesso a remédios básicos, segundo
Pedro Bernado. Entre os produtos de alto custo, a tributação
fica ainda mais pesada. Pedro explica que há um controle de preço
internacional, mas, com o acréscimo dos impostos brasileiros, os
medicamentos vendidos no país ficam entre os mais caros do
mundo.
— A indústria compra os remédios lá
fora, traz para cá e tem que vender com o menor preço aqui dentro.
Aí vem o governo, inclui os tributos e o preço aumenta. É uma coisa
esquizofrênica. E quando um medicamento é tributado e vendido para
o governo, o próprio governo paga imposto — critica.
O orçamento do Ministério da Saúde,
segundo o executivo, é de R$ 25 bilhões, sendo que cerca de R$ 16
bilhões vão somente para a compra de medicamentos.
— A Saúde não é uma política de
governo, é uma política de Estado. Independentemente de qual seja o
governo, ela tem que seguir uma linha que vai ser mantida. Não pode
ser trocada a cada presidente. A saúde não pode ficar no jogo de
indicações políticas. Quem ocupar os cargos executivos precisa
entender do assunto e ter compromisso com a saúde a longo prazo —
defende.
Aplicar energia e recursos para
inovação e pesquisa, a fim de tornar o Brasil um país competitivo
com o resto do mundo, é outro ponto que merece destaque, segundo a
associação. De acordo com Pedro, o Brasil precisa incentivar,
especialmente, a área de pesquisas clínicas, que trazem
recursos e dão retorno direto para o tratamento de doenças da
população. E acrescenta que o setor farmacêutico no Brasil importa
80% de matéria-prima e medicamento pronto, o que custa, em média,
US$ 8 bilhões.
— Nós importamos porque lá fora eles
pesquisam e fazem coisas que não fazemos aqui. Não é justo que os
brasileiros tenham as mesmas doenças e muito menos chances de cura
– diz ele, acrescentando que é imprescindível que haja
comprometimento do Estado na quebra das burocracias que atravancam
as pesquisas no Brasil.
Pensando nisso, a INTERFARMA firmou
uma parceria com os jornais O Globo e Valor Econômico e a revista
Época, para realizar uma série de sabatinas com os cinco candidatos
à Presidência da República mais bem colocados nas pesquisas. Foi
uma oportunidade para eles, em duas horas de entrevistas,
apresentarem as suas propostas para a saúde e as demais áreas de
competência. Dos cinco convidados, três aceitaram. Veja a
seguir:
Ciro Gomes
INVESTIMENTO EM PESQUISAS
Investir em pesquisas é uma das
bandeiras de Ciro Gomes para a gestão da Saúde. “Nós importamos US$
17 bilhões em produtos médicos por ano, enquanto poderíamos
produzir remédios, próteses e outros insumos internamente, pois
somos capacitados com as tecnologias mais sofisticadas. Estamos
gerando emprego nos Estados Unidos, China e Europa com dinheiro
brasileiro.”
Ele destacou o trabalho da Fiouruz,
que criou uma unidade para geração de medicamentos biológicos –
produtos de última geração para o tratamento de doenças graves,
como o câncer. “O Brasil pode ser o grande protagonista global
deste tipo de medicamento, economizando dinheiro e gerando emprego
aqui e exportando para o mundo”, afirmou.
O SUS, para Ciro, é um programa
generoso e deve ser preservado. “Porém, temos que realizar a
supervisão e controle das unidades de pronto atendimento. Nós vamos
estabelecer metas para os postos de saúde, como redução da
mortalidade infantil, da mortalidade materna, prevenção da diabetes
e da hipertensão e também nível de satisfação do usuário. Os postos
que baterem a meta receberão R$ 100 mil por ano”.
Sobre os órgãos reguladores, não
concorda que as indicações para os seus comandos sejam políticas e
disse que todas as agências serão revistas. “Vamos passar um pente
fino nas agências.”
Geraldo Alckmin
FINANCIAMENTO DO SUS
Geraldo Alckmin defendeu que a lei do
SUS é extremamente correta, porém, precisa de uma melhor gestão e
também de uma solução para o seu financiamento. Afirmou que hoje há
no país 34 mil leitos fechados por falta de recursos, enquanto 32
mil obras estão sendo financiadas pelo Ministério da Saúde. “Temos
que investir mais em saneamento, vacinas e uma medicina mais
sofisticada para a população idosa.”
Um grande problema para o setor, na
avaliação do candidato, é a judicialização. Somente em São Paulo
foram gastos R$ 1,6 bilhão com judicialização da saúde em 2017.
Para Alckmin, o problema deveria ser resolvido em câmaras técnicas.
“O juiz não tem como decidir se determinado procedimento pode ser
liberado ou não. E com as câmara técnicas, não seria necessário nem
mesmo entrar na Justiça.”
Sobre o acesso da população aos
medicamentos sofisticados, Alckmin destacou a necessidade de
acelerar as pesquisas clínicas e as aprovações das novas moléculas
por parte das agências reguladoras. “O principal inimigo do câncer
no Brasil é a burocracia. No resto do mundo você não demora tanto
tempo para as aprovações. Temos que ter rigor científico, mas não
podemos ser morosos, pois acabamos ficando para trás. Precisamos
garantir a distribuição de medicamentos de alto poder de cura via
SUS.”
Marina Silva
AUTORIDADE SANITÁRIA NACIONAL
O plano da candidata Marina Silva para
a área de Saúde é promover uma reestruturação do SUS, dividindo o
atendimento em 400 regionais. Essas regionais terão o papel de
otimizar os recursos e integrar as unidades de atendimento
públicas, privadas e filantrópicas. “Em algumas regiões, temos 50%
dos leitos ociosos; em outras, faltam vagas.” As regionais serão
coordenadas por uma autoridade sanitária nacional, com a
participação de estados e municípios.
A ideia é ampliar a cobertura de saúde
com foco nos médicos de Saúde da Família, estimulando a formação
dos generalistas e, assim, investir mais em prevenção. “Precisamos
oferecer diagnósticos de alta complexidade e transformar o SUS em
um ótimo serviço. O Estado deve suprir o país de bons hospitais,
que inclusive sirvam de padrão para o restante da rede. O SUS vai
se tornar o plano de saúde dos brasileiros. A saúde complementar
deve ser apenas uma opção”, afirmou Marina.
Ela defendeu que os cargos na área de
Saúde devem ser técnicos, e não políticos. Marina defendeu medidas
para melhorar o acesso da população aos medicamentos de alto custo.
Hoje, devido à burocracia, eles chegam ao Brasil de três a quatro
anos depois de serem produzidos. “Vamos criar uma estrutura em que
as pessoas não precisem entrar na Justiça para receber os
remédios”, afirmou.