O número de usuários do sistema
privado de saúde atingiu seu ápice em 2014, com
50 milhões de pessoas. Esse total vinha em linha crescente até
então. De lá para cá, entretanto, 3 milhões de pessoas perderam
seus planos de saúde.
Esse movimento coincide com a recessão que atingiu o
país, tirando
o empregode milhares de brasileiros. Quase 70% dos
planos de saúde vigentes no país são empresariais, ou seja, são
oferecidos pelo empregador ao funcionário.
“Nosso mercado sempre foi pautado pelos planos empresariais.
Pesquisas mostram que um dos fatores de retenção do funcionário é o
plano de saúde. Com o desemprego maior, é natural que caia o número
de beneficiários”, afirma Rodrigo Aguiar, diretor de
desenvolvimento setorial da ANS.
Hoje, grande parte dos planos empresariais cobram coparticipação
do usuário – porcentual sobre consultas e exames. Para Aguiar, as
empresas adotaram esse tipo de plano para diluir o peso com o
aumento de custo do plano de saúde e dividir com o funcionário uma
parte das despesas.
Outro fator que pesou na exclusão dos usuários do sistema de
saúde suplementar foi o reajuste galopante das mensalidades. Nos
últimos dois anos, o aumento médio anual foi de 13,5%, muito acima
da inflação.
Aguiar diz que não dá para comparar a inflação com o índice de
reajuste dos planos de saúde, mas admite que os aumentos foram
elevados. “A inflação é medida ao final do ano e o reajuste da ANS
sai em maio. Outra diferença é que a inflação reflete o reajuste de
preços, enquanto a ANS mede a utilização. Tem mais a ver com
frequência de utilização do que com a variação efetiva”, afirma o
diretor da ANS.
Para reduzir o custo com plano de saúde e permitir a inserção de
mais pessoas no sistema, a ANS está finalizando a regulamentação de
produtos com franquia e novo modelo de coparticipação. Os dois
sistemas já estão previstos desde 1998, mas a franquia é utilizada
por apenas 1% dos usuários da rede suplementar de saúde.
Na franquia, o segurado paga a mensalidade e as despesas médicas
até determinado limite. Acima do valor da franquia, quem arca com
os gastos é o plano de saúde. O argumento da ANS é que esse modelo
será mais barato porque haverá o uso mais racional do sistema.
“Objetivo é parar de desperdiçar recursos com utilização
indevida, repetitiva, redundante. Hoje, 30% dos exames realizados
não são retirados. A pessoa vai ao médico, faz um checkup e uma
bateria de exames. Dali a seis meses, vai a outro médico, que pede
os mesmos exames que ela fez e não retirou antes”, afirma o diretor
da ANS.
O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) ataca o
entendimento de que o consumidor usa mal o convênio médico. “A
esmagadora maioria das vezes em que uma pessoa procura um serviço
de saúde é porque ela precisa. Até porque no mercado de saúde a
oferta é indutora da demanda. Ou seja, não é o consumidor que
escolhe o que vai consumir no mercado de saúde. É sempre um
intermediário (um médico, um profissional da saúde) que recomenda
ou prescreve o produto.”
Para o Idec, a necessidade de economizar com exames e consultas
pode trazer riscos à saúde do consumidor. “Quando há limitação,
torna mais custoso ou condiciona as ações de prevenção, você
retarda o diagnóstico precoce, porque as pessoas passam a procurar
o sistema já doentes, o que vai contra a própria lógica da saúde,
sair do paradigma da saúde como ausência de doença.”