A Caixa Econômica Federal
teve lucro recorde em 2017, ajudado por um evento extraordinário, e
executivos do banco estatal prometeram nesta terça-feira melhora do
resultado operacional neste ano, enquanto a instituição tenta
organicamente resolver suas necessidades de capital.
A instituição enfraquecida por anos de
uso político e denúncias de envolvimento em irregularidades
anunciou nesta terça-feira que seu lucro líquido do ano somou 12,5
bilhões de reais, mais de três vezes o lucro de 4,1 bilhões de
reais de 2016.
O resultado foi influenciado por uma
reversão de provisão atuarial, após o banco ter imposto um teto
para gasto com plano de saúde dos funcionários, o que teve impacto
positivo líquido de 4 bilhões de reais.
No quarto trimestre, afetado
positivamente pelo mesmo item, o lucro líquido somou 6,27 bilhões
de reais, quase nove vezes o resultado de 713 milhões de reais em
igual período de um ano antes.
O presidente-executivo da Caixa,
Gilberto Occhi, afirmou que, a despeito do efeito positivo não
recorrente, o banco teve melhora operacional em vários de seus
indicadores, tendência que deve prosseguir em 2018, melhorando o
resultado orgânico e evitando ter que recorrer ao governo
federal.
"Esperamos ter nesse ano um lucro
recorrente próximo do mesmo nível do lucro cheio que tivemos em
2017", disse Occhi a jornalistas.
De fato, o lucro recorrente do ano, de
8,6 bilhões de reais, também foi 107 por cento maior do que o de
2016 e também foi o maior já registrado. A rentabilidade recorrente
sobre o patrimônio líquido, que mede como um banco remunera o
capital do acionista, foi de 12,86 por cento no fim de dezembro,
quase o dobro dos 6,6 por cento de 12 meses antes.
Apesar disso, o índice ainda está bem
abaixo dos níveis exibidos pelos rivais privados, ao redor de 20
por cento, mas em linha com o do Banco do Brasil, também controlado
pelo governo federal, de 12,5 por cento no período.
Dentro do esforço para melhorar o
resultado orgânico, a Caixa seguiu os principais rivais e
desacelerou fortemente sua carteira de crédito, concentrou-se em
linhas de menor risco, como a imobiliária, e ampliou as receitas
com tarifas.
A carteira de crédito da Caixa fechou
2017 com retração de 0,4 por cento, a 706,3 bilhões de reais,
pressionada por segmentos como empréstimos para empresas (-23,1 por
cento) e para financiamento ao consumo (-8,6 por cento). Para 2018,
a previsão do banco é de estabilidade.
"As exigências de capital limitam
nossa capacidade de expandir o crédito", explicou o vice-presidente
de Finanças da Caixa, Arno Meyer.
O foco em linhas consideradas mais
seguras fez a fatia do imobiliário no estoque total de crédito
subir de 57,3 para 61,1 por cento no ano passado. Além disso, o
índice de inadimplência acima de 90 dias caiu de 2,88 para 2,25 por
cento no período.
Isso ofuscou em parte o aumento de
18,4 por cento na despesa com provisão para perdas com
inadimplência no quarto trimestre, na comparação com igual período
de 2016.
Como compensação à queda nas receitas
com crédito, a Caixa viu seu faturamento com tarifas e serviços
subir 9,4 por cento, para 6,5 bilhões de reais.
O crescimento das despesas com pessoal
desacelerou para 2,5 por cento no trimestre, refletindo em parte os
programas de demissão voluntária, que reduziram a folha de
pagamento em quase 11 mil funcionários.
Como consequência do foco em linhas
mais seguras, redução de custos e mais receitas com tarifas,
copiando a prática recente dos rivais, as necessidades de capital
da Caixa para operações de maior risco também diminuíram.
O índice de capital tem sido um pontos
de atenção dos mercado em relação à Caixa, após vários anos de
crescimento em ritmo acima do mercado. Com a vigência integral em
2019 de Basileia III, regras de capital mais exigentes, agências de
classificação de risco têm apontado sobre a possibilidade de a
Caixa ter que receber recursos do controlador para atender
exigências mínimas de capital.
Para Occhi, isso não será necessário,
já que o banco tinha índice de capital principal de 10,6 por cento
no fim de 2017, acima do piso de 9,5 por cento exigido a partir do
ano que vem.