Consolidação
de players no setor de saúde suplementar e laboratórios deve chegar
aos hospitais em breve, avaliam consultores
Nos
últimos anos, o setor de saúde brasileiro passou por várias
mudanças. Além da consolidação do número de players, mudanças
significativas de market share entre as diversas empresas do
segmento aconteceram.
O
exemplo mais recente, apenas em se tratando de seguros, foi a
aquisição da Amil pela gigante americana United Health. No segmento
de laboratórios de diagnóstico e análises clínicas, o DASA, maior
empresa do segmento, é o resultado de várias aquisições tipo
roll-up implementada desde sua abertura de capital na Bolsa de
Valores, em 2004. Ainda nesse segmento, o Laboratório Fleury, outro
gigante da indústria, atualmente à venda, vem instigando a cobiça
de todo tipo de investidores, tais como fundos de private equity e
players estratégicos, tanto nacionais quanto
internacionais.
Ao
que tudo indica, essa onda de consolidação também terá reflexos no
segmento hospitalar. Deverá ser um instrumento bastante utilizado,
uma vez que, por exemplo, essas instituições busquem obter
economias de escala, no intuito de resistir, previamente, às
potenciais quedas de faturamento provenientes de mudanças na
indústria e em seus cenários micro e macroeconômicos. Nessa linha,
um dos players mais ativos é a Rede D’or de hospitais, parceira do
Banco BTG, que faz aquisições nesse segmento desde 2010.
As
sinergias resultantes da fusão ou aquisição no setor de saúde, além
dos benefícios óbvios advindos da eliminação de redundâncias tanto
operacionais quanto administrativas, seja nos departamentos, nos
produtos ou nos serviços, possibilitam que a nova entidade ou novo
hospital musculatura para aproveitar, ainda, outros quatro fatores
determinantes.
O
primeiro deles é a economia de escala. Ao considerar que, por
exemplo, o novo hospital possuirá várias instalações e será capaz
de oferecer diferentes tipos de serviço aos segurados e pacientes,
ele terá maior poder de negociação junto às companhias seguradoras,
em busca de melhores taxas e formas de recebimento. Dessa forma,
poderá aumentar suas margens de lucro e obterá uma vantagem
competitiva significativa frente a seus concorrentes.
A
economia de escala também será refletida na área de suprimentos,
uma vez que a entidade deverá desfrutar de descontos e condições de
pagamento mais atraentes, por conta do aumento no volume dos
pedidos de compra.
O
recrutamento de colaboradores e médicos é o segundo fator. O
processo terá maior êxito, pois esses profissionais estarão mais
dispostos à trabalhar em uma instituição maior, mais bem equipada,
e que provavelmente oferecerá melhores condições de trabalho com
remunerações mais atraentes. Eles também desfrutarão de benefícios
mais relevantes, os quais a entidade resultante poderá oferecer em
virtude de seu novo porte.
O
fator financeiro é outro determinante. O acesso ao capital é uma
das principais razões pelas quais os hospitais menores são
adquiridos. Instituições que, historicamente, se esforçavam para
levantar apenas financiamentos bancários podem agora utilizar a
alavancagem, instrumento que apenas uma instituição mais robusta é
capaz de acessar através do mercado de capitais.
Novamente, é válido citar como exemplo recente a
Rede D’or, que vendeu os edifícios onde funcionam seus hospitais
para o fundo imobiliário canadense NorthWest. Essa engenharia
financeira, conhecida como desmobilização, permite que a rede
concentre seu capital totalmente na operação hospitalar, bem como
nas novas possíveis aquisições. Mais além, o acesso ao capital com
custo competitivo também possibilita que a nova entidade implemente
reformas e expansões que permitirão ao hospital gerar e manter sua
vantagem competitiva vis-à-vis seus concorrentes.
A
profissionalização é o quarto fator determinante. Historicamente,
no Brasil, médicos se uniam no intuito de construir novos
hospitais. Atualmente, muitas dessas instituições cresceram e se
tornaram significativas em tamanho, com a conquista de notoriedade
em seus campos de atuação e de pesquisa.
Do
ponto de vista administrativo, entretanto, essas mesmas
instituições se tornaram engessadas, uma vez que diversos
acionistas atuam na gestão do negócio. Esse fato ficou ainda mais
evidente na medida em que as gerações posteriores de acionistas
também vieram a participar da gestão.
Hoje,
muitas dessas instituições acreditam que a venda para cadeias
hospitalares profissionais seja a solução de seus problemas de
gestão.
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Benjamin Yung e Victor Yung são especialistas no segmento de
reestruturação financeira e diretores da consultoria Estratégias
Empresariais