Uma decisão do Tribunal de Justiça
do Distrito Federal e dos Territórios (TJDF), concedida em caráter
de urgência nessa terça-feira (29/5), vai possibilitar que uma
grávida consiga passar por uma cirurgia fetal para reverter uma
má-formação na coluna vertebral do bebê. O procedimento havia sido
negado pelo plano de saúde da mulher. É a primeira vez que o
tribunal defere uma liminar para esse tipo de cirurgia no Distrito
Federal.
Quando estava na 22ª semana de
gravidez, a administradora Luciane Pinheiro, 37 anos, descobriu,
por meio de uma ecografia, que a menina Maria Alice tinha
mielomeningocele, também chamada de espinha bífida. A má
formação ocorre nos ossos da coluna, que não se fecha totalmente e
deixa a medula espinhal exposta. Por isso, os fetos podem sofrer
hidrocefalia - um acúmulo de líquido no crânio - ou perder a
capacidade de andar. É a cirurgia, na maioria dos casos, que evita
o desenvolvimento da doença.
Após passar por quatro médicos em
menos de dois dias, Luciane descobriu que não havia especialistas
em Brasília para fazer a cirurgia. A gestante recebeu indicação de
um cirurgião, em São Paulo, comprou uma passagem e se consultou com
o médico. Tudo isso em menos de uma semana após o diagnóstico.
Durante a consulta, ela descobriu que a cirurgia deveria ser feita
com urgência, pois só poderia ser realizada até a 26ª semana de
gestação.
No mesmo dia, Luciane entrou em
contato com o plano de saúde, que, após cinco dias, deu resposta
negativa para a cobertura do procedimento, sob a argumentação de
que a cirurgia não está prescrita na Agência de Saúde Suplementar
(ANS).
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"Eu fiquei desesperada. Primeiro ao
receber um diagnóstico desse, já em cima do limite, mesmo fazendo
todos os acompanhamentos. Não tive prazo para pensar e nem condição
financeira para arcar com a cirurgia. Foram dias terríveis", contou
Luciane.
De volta à capital na segunda-feira
(28/5), Luciane e o marido, Mário Yamaguchi Júnior, 39,
imediatamente procuraram advogados para lutar contra a decisão do
plano de saúde. "Eu parei todas as demandas para atendê-la. Além da
urgência, pois ela já estava perto de completar 25 semanas, é uma
questão de vida ou morte. No mesmo dia protocolamos a liminar, com
pedido de tutela antecipada", explicou a advogada Polyana Mota, da
Mendes Mota Advocacia.
Na terça, o juiz Leandro Borges de
Figueiredo, da 8ª Vara Cível de Brasília, deferiu o pedido,
justificando que a negativa do plano é inválida, de acordo com a
Súmula 102 do tribunal: “Havendo expressa indicação médica, é
abusiva a negativa de cobertura de custeio de tratamento sob o
argumento da sua natureza experimental ou por não estar previsto no
rol de procedimentos da ANS”.
O magistrado complementou a decisão
defendendo que, por haver perigo de dano inverso, a autora não
poderia "aguardar a boa vontade do plano de saúde ou o julgamento
definitivo do presente processo, para então se proceder com o
fornecimento do tratamento indicado pelo médico". Em caso de
descumprimento, o plano de saúde deverá pagar multa de R$ 100
mil.
Após a vitória na Justiça, Luciane
espera o sucesso de mais uma etapa. "Todos os médicos e
profissionais que me ajudaram foram anjos na minha vida. Estou
confiante, porque senão não teria comprado essa briga. Tenho
pesquisado e há muitos casos em que as crianças nasceram sem
nenhuma sequela. Minha filha vai vir perfeita", garantiu a mãe, que
já tem o Arthur Yohachi, de 5 anos. A cirurgia está marcada para
esta segunda-feira (4/6), último dia em que poderia ser
realizada.