Além de terem
direito ao Sistema Integrado de Saúde (SIS), plano
vinculado à Caixa Econômica Federal, os parlamentares do Senado
Federal, seus dependentes, assim como ex-senadores e cônjuges,
possuem outras regalias na hora de consultar ou fazer exames nos
melhores hospitais do país. Tudo isso é garantido por decisões da
Comissão Diretora da Casa, desde 1995.
De lá para cá, diversos atos,
assinados pelos diferentes presidentes que comandaram a Casa,
trouxeram ainda mais privilégios.
O Metrópoleslevantou os dados, muitos deles
por meio da Lei de Acesso à Informação, e descobriu que uma
consulta simples com clínico geral de plantão, por exemplo, pode
tirar até R$ 1,2 mil dos cofres do Senado. Exames caros também
entram na lista dos benefícios bancados via reembolso.
Resultado: só nos dois primeiros
meses deste ano, foram R$ 1.362.630,99 desembolsados pela Casa, com
apenas 481 usuários do plano “diferenciado” que abrange atuais e
ex-senadores, além de seus familiares. Desse montante, R$
298.468,54 foram por “ressarcimento” (veja tabela
abaixo).
Esse dinheiro foi gasto porque, em
2012, o colegiado aprovou uma alteração na legislação interna da
Casa (o Ato da Comissão Diretora nº 9, de 1995) que instituiu o
plano à parte para os parlamentares. A mudança na regulamentação
permitiu, então, que “a assistência à saúde na modalidade de livre
escolha” valesse “também nas situações não caracterizadas como
urgência”.
Ou seja, de 2012 para cá, os
senadores, ex-senadores e seus familiares podem escolher o médico
com quem desejam se consultar ou o local para fazer os exames. Caso
o profissional não seja credenciado ao plano de saúde do Senado,
basta pagar o valor do próprio bolso e depois solicitar à Casa o
ressarcimento do dinheiro.
Nos demais planos de saúde, essa reparação financeira costuma
acontecer apenas quando os clientes precisam de atendimento de
emergência e não há um local credenciado por perto. Além disso, o
valor reembolsado a eles equivale à quantia que a operadora
pagaria ao médico ou ao hospital. Por exemplo, de acordo com a
Associação Médica Brasileira (AMB), os planos pagam, em média, R$
60 por consulta simples, assim como reembolsam essa cifra aos seus
beneficiários que se consultaram com um médico não credenciado.
Mas, em 2014, o Ato da Comissão
Diretora nº 17 determinou uma quantia bem maior em caso de
reembolso. O artigo 2º, inciso IV, parágrafo 1º diz: “O
ressarcimento fica limitado a 20 vezes o valor da tabela adotada
pelo Sistema Integrado de Saúde e a 15 vezes o valor da tabela
adotada para os demais procedimentos”. Assim, os beneficiários
desse plano de saúde podem, por exemplo, se consultar com um médico
que cobre até 20 vezes o valor da tabela – de cerca de R$ 60 – e
ter o dinheiro total de volta, ou seja, até R$ 1,2 mil.
Com isso, parlamentares, ex-senadores
e seus dependentes conseguem se consultar com médicos que atendem
nos hospitais mais caros do Brasil, como o Albert Einstein ou
Sírio-Libanês, em São Paulo. As duas unidades de saúde aceitam o
plano do Senado para a realização de exames, no entanto, as
consultas precisam ser particulares – os médicos cobram em média R$
1 mil.
Os políticos e suas famílias realizam consultas com os
profissionais desses locais, pagam o valor cobrado, e, depois, são
reembolsados pelo Senado. De acordo com a Agência Nacional de Saúde
(ANS), o ressarcimento precisa ocorrer em, no máximo, 30 dias após
a entrega dos comprovantes dos gastos pelos clientes à operadora de
saúde.
A Ata nº 3, de 2003 e ainda em vigor,
prevê também que, “em casos excepcionais de notória necessidade”, o
valor a ser ressarcido pelo Senado pode ser ainda maior.
Questionada, a assessoria de comunicação da Casa, explicou que “os
casos excepcionais são pontuais, de extremo agravo à saúde ou
ameaça à vida, cujo custeio do tratamento extrapola o limite
estabelecido”. “Nessas situações, o interessado poderá ou não
requerer à Comissão Diretora a complementação da cobertura. A Mesa
analisa cada pedido, e, constatada a notória necessidade, pode
autorizar a cobertura”, completou.
Ex-senadores e
cônjuges
O mesmo documento de 2003, porém, determina o valor máximo que o
Senado pode bancar com os reembolsos dos ex-parlamentares e seus
cônjuges. “Fica estabelecido o limite anual de 84.508 CHs,
referente às despesas médicas, hospitalares, psicológicas e
odontológicas”. A comunicação da Casa explicou que a sigla
significa Coeficiente de Honorários e uma unidade equivale a R$
0,39. Assim, o limite anual seria de R$ 32.958,12.
Porém, o montante pode aumentar se
houver “notória necessidade” e for aprovado pela Comissão Diretora.
Vale lembrar que, no mês passado, o Metrópoles mostrou
que, para ser considerado um ex-senador e ter direito ao plano de
saúde vitalício para si e um companheiro ou companheira, um
político precisa ter exercido apenas 180 dias de mandato.