Bebês que nascem prematuramente na
rede pública de Saúde da região têm a vida em risco em razão da
quantidade insuficiente de leitos de UTI neonatal para atendimento
de quadros clínicos graves ou que necessitam de observação. O
Grande ABC tem 2,79 leitos do SUS (Sistema Único de Saúde) para
cada grupo de 1.000 nascidos vivos, quando a SBP (Sociedade
Brasileira de Pediatria) preconiza quatro leitos para cada grupo de
1.000 nascidos vivos.
O cálculo foi feito com base nos
35.099 nascimentos em 2016 (último ano disponível para consulta na
Fundação Seade e nos 98 leitos neonatais SUS registrados no CNES
(Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde), mantido pelo
governo federal.
Se somados aos leitos privados – são
74 – a região alcança a preconização da SBP, com 4,9 leitos para
cada grupo de 1.000 nascidos vivos. No entanto, a situação não traz
alívio, uma vez que, em razão da crise econômica enfrentada no
País, boa parte da população tem deixado os planos de Saúde para
migrar à rede pública.
A professora de Saúde Coletiva da
FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) Vânia Barbosa do Nascimento
também aponta outros fatores que reforçam a necessidade de
ampliação desses leitos. “As questões ambientais (como poluição) e
as gestações precoces e tardias favorecem a prematuridade, então, a
tendência é que necessite dos leitos e quantidade é
insuficiente.”
Dos 98 leitos, 34 estão em Santo
André; 20, em São Bernardo; nove, em São Caetano; 17, em Diadema e
18, em Mauá. Em Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, se
identificado o risco de nascimento prematuro, a gestante é
encaminhada para unidade de referência que possa atendê-la.
O deficit no Grande ABC segue problema
visto em todo o Brasil. Pesquisa da SBP, divulgada na última
semana, mostrou que faltam 3.305 leitos de UTI neonatal no País.
“Com a evolução da medicina, se consegue fazer com que prematuros
extremos consigam sobreviver, na maioria das vezes, sem sequelas.
Mas, para isso, são necessários equipamentos que estão nas UTIs
neonatais. É muito preocupante esse deficit”, diz o vice-presidente
da SBP, Clóvis Constantino.
A ampliação dos leitos esbarra na
falta de recursos. “UTI, em geral, é custo. Traz despesas no setor
público, que tem orçamento reduzido e não traz lucratividade para o
privado”, fala o médico. O custo de uma diária de UTI neonatal
varia entre R$ 1.600 e R$ 3.500, dependendo da complexidade do
caso.
Equipamento renova esperança
nas mães
Ter uma vaga de UTI neonatal para
prontamente receber e tratar o filho que necessita de cuidados
emergenciais é o que deixa o coração de mãe menos angustiado e mais
confiante de que, em breve, sairá do hospital com o filho sadio nos
braços.
“A UTI neonatal é a esperança que a
gente tem que vai ficar tudo bem”, ressalta a auxiliar
administrativo Letícia Pereira Souza, 22 anos, mãe de Arthur que,
após 32 dias na UTI do HMU (Hospital Municipal Universitário), em
São Bernardo, agora está na UCI (Unidade de Cuidados
Intermediários). O menino nasceu de 26 semanas, com 36 centímetros
e 1,070 quilo. Sangramento e pré-eclâmpsia motivaram o nascimento
prematuro.
“Se não fosse esse leito, essas
crianças não sobreviveriam”, diz a cabeleireira Ivonete Luisa
Barbosa, 34 anos, que teve Luan com 28 semanas de gestação, após
uma pré-eclâmpsia grave e insuficiência placentária. O bebê, que
nasceu com 32 centímetros e 690 gramas, ficou dois meses na UTI.
Agora, com 1,805 quilo, é assistido pela equipe médica, também na
UCI.
Catarina, filha da autônoma Ana
Caroline Dias Santana, 26, ficou na UTI por 17 dias, ao nascer de
29 semanas, com 36,5 centímetros e 1,280 quilo. O tratamento
resultou em rápida evolução. “É um atendimento primordial, pois é
uma situação que não dá para esperar vaga”, fala a mãe.
“O recém-nascido é o futuro da
sociedade, mas não se poderá ter isso se ele não nascer e se
desenvolver bem”, frisa o vice-presidente da SBP (Sociedade
Brasileira de Pediatria), Clóvis Constantino.