NITERÓI — Com o argumento de que
os serviços da rede municipal de saúde de Niterói estão sendo
transformados a partir de uma orientação do Ministério da Saúde, a
prefeitura extinguiu quatro unidades básicas, centralizando os
atendimentos em unidades maiores. Apesar de a administração pública
garantir que os atendimentos não serão reduzidos e que o número de
médicos não diminuirá, havendo apenas remanejamentos, moradores que
até então contavam com uma gama de especialistas perto de suas
casas estão questionando essas alterações e lamentam não terem sido
ouvidos nesse processo. Aprovado mês passado no Conselho Municipal
de Saúde, o Plano Municipal de Saúde, válido de 2018 a 2021, não
prevê mais as unidades de Jurujuba, Baldeador, Ilha da Conceição e
Cantagalo.
Moradora do Morro do Castro, cuja
comunidade era atendida pela Unidade Básica de Saúde do Baldeador,
a manicure Catiane Rosa está promovendo um abaixo-assinado contra o
remanejamento dos médicos da unidade. Ela já reuniu mais de 500
nomes e vem solicitando uma reunião de moradores com a secretária
municipal de Saúde, Maria Célia Vasconcellos.
— Eles alegam que o Médico de Família
fica no lugar da unidade, mas em vez de somar o programa com o que
já existe e funciona bem estão querendo tirar os serviços. Tínhamos
dentista, ginecologista, clínico geral, pediatra, psicólogo e
assistente social, além do grupo de hipertensão, enfermeiras que
visitam pessoas acamadas; e exames, como teste de pezinho. Agora
vamos contar apenas com o médico de família, dentista e duas
enfermeiras. Imagina quando inaugurarem as novas unidades
habitacionais do Bento Pestana. Sem falar que as unidades para onde
teremos que nos deslocar, no Barreto e na Engenhoca, vivem lotadas
— diz Catiane.
Presidente da Comissão de Saúde da
Câmara Municipal, o vereador Paulo Eduardo Gomes (PSOL) vai
questionar o Plano Municipal de Saúde junto ao Ministério Público.
A denúncia será com base no parágrafo único da lei 141/2012, que
regulamenta a Constituição Federal para dispor sobre os valores
mínimos a serem aplicados anualmente por União, estados, Distrito
Federal e municípios em ações e serviços públicos de saúde. Pela
lei, “a transparência e a visibilidade serão asseguradas mediante
incentivo à participação popular e realização de audiências
públicas, durante o processo de elaboração e discussão do plano de
saúde”.
— Na prática estão fechando
policlínicas e Unidades Básicas de Saúde (UBS), onde eram
realizados atendimentos de especialistas para comunidades inteiras,
e concentrando esses atendimentos em locais onde a população terá
dificuldade de acesso. É preciso ampliar os serviços do Programa
Médico de Família sim, mas isso não pode significar um retrocesso
no funcionamento das policlínicas e UBSs, que sempre ofereceram
atendimento especializado em diferentes áreas da saúde e próximo à
residência das pessoas. Não houve nem transparência nem
participação popular e muito menos audiências públicas. Houve no
máximo aprovação no conselho cooptado da prefeitura — diz o
vereador.
Mudança sob orientação do
Ministério
Em nota, a prefeitura afirma que a
transformação dos serviços da rede municipal de Saúde é uma
orientação do Ministério da Saúde e que a reestruturação segue a
Política Nacional de Atenção Básica, do ministério, em que o perfil
da unidade é definido de acordo com o número de habitantes da
região e o perfil epidemiológico.
“As unidades de Jurujuba, Baldeador,
Ilha da Conceição e Cantagalo têm o perfil de um Núcleo de Atenção
à Saúde da Família (Nasf) e constam no Plano Municipal em vigor
como módulos do Programa Médico de Família. Elas não serão
fechadas, a assistência médica à população será mantida e haverá
ampliação no atendimento por meio do Nasf. Será garantida a
continuidade dos atendimentos de especialidades nas policlínicas
regionais e hospitais, possibilitando uma maior cobertura
assistencial para os moradores de Niterói”, diz a nota.
Rede elétrica em risco e
atrasos de salários
A Comissão de Saúde da Câmara denuncia
que, numa recente vistoria ao Hospital Psiquiátrico de Jurujuba,
flagrou um risco iminente à rede elétrica da unidade. Devido a um
princípio de incêndio ocorrido no fim do ano passado, as fiações
foram danificadas, e uma gambiarra que foi feita em caráter
provisório, para garantir a energia, expõe o risco de um novo
curto. Além dos danos estruturais, a maioria dos profissionais que
atua no hospital, contratada por regime de RPA, afirma a Comissão,
está lidando com o atraso nos salários. O problema atinge todos os
RPAs que atuam na cidade, cerca de 3.500 pessoas — mais de 40% da
rede. O mês de fevereiro foi quitado na semana passada.
A prefeitura afirma que o hospital
psiquiátrico passará por reparo na rede elétrica e que a empresa
que prestará os serviços iniciará o trabalho na próxima semana.
Sobre os salários atrasados, sem explicar o motivo do problema, a
Fundação Municipal de Saúde garante que vai regularizar ainda este
mês o pagamento dos profissionais.