Queixas contra planos de saúde
ocuparam a liderança no ranking anual feito pelo Instituto Nacional
de Defesa do Consumidor (Idec), em 2017. No total foram 6.583
atendimentos e, desse total, 1.540 foram referentes a operadoras de
convênio.
No topo das reclamações, 685 se
referiam especificamente a alta abusiva das mensalidades, 197 a
informações incompletas, 183 a negativa de cobertura e 33 a
descredenciamento do participante. Não é a primeira vez que isso
acontece. Na verdade, o assunto vem aparecendo na primeira posição
nos últimos 6 anos, no Instituto.
A questão do reajuste pega em cheio o
bolso dos participantes de planos coletivos, que não se submetem às
regras da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
As operadoras são livres para definir
o aumento desses planos porque, supostamente, são fechados
diretamente com empresas, que contratam para seus funcionários, ou
entidades representativas de determinada classe profissional. Seria
um jogo de gente grande, de iguais, sem necessidade de proteger o
consumidor.
Mas essa situação não corresponde à
realidade. Os convênios passaram a oferecer contratos coletivos a
quem possa apresentar um Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica
(CNPJ) e com a inclusão de apenas dois ou três participantes,
justamente para escapar das amarras da ANS. Basta que um dos
participantes tenha uma empresa com CNPJ e inclua o pai, a mãe ou o
filho para ter um plano que, no fundo, no fundo, não passa de um
individual ou familiar camuflado.
Não é por acaso que os coletivos
representam hoje uma fatia de 80% de um mercado de 47,5 milhões de
consumidores. Enquanto isso, os planos individuais e familiares
foram sumindo do mercado.
No ano passado, boa parte desses
planos corrigiu a mensalidade em algo em torno de 19%, nível bem
superior aos 13,55% definidos pela ANS para os planos individuais
ou coletivos para o mesmo período. Só que, como não há limites, não
faltam casos em que a atualização anual foi bem superior a isso,
40, 50, 70% ou até mais.
O número expressivo de reclamações de
consumidores que chegou ao Idec está diretamente ligado a essa
questão. Especialmente quando se considera que o aumento da renda
do participante fico muito aquém desses níveis.
Quando muito seguiu a inflação em
torno de 3%. Razão pela qual, juntamente com o desemprego, o
segmento vem encolhendo e não apenas em 2017, mas nos últimos
quatro anos, com a saída de conveniados ou transferência para
planos mais baratos.
RECLAMAÇÕES
Historicamente as reclamações contra
convênios particulares de saúde costumam ocupar a liderança nas
entidades de defesa do consumidor, lembra a pesquisadora de Saúde
do Idec, Ana Carolina Navarrete.
Ela chama a atenção para a proposta de
mudanças na Lei dos Planos de Saúde que tramita no Congresso, e
“poderá ser votada piorando bastante a situação do consumidor, que
estará ainda mais vulnerável em relação às operadoras”.
Entre as alterações, cinco são as mais
prejudiciais ao participante, porque preveem limitação de
atendimento de urgência e emergência aos planos hospitalares ou
referência; penalidades mais leves para a empresa que desobedecer a
lei; morosidade na decisão de casos urgentes, porque o juiz terá de
ouvir um perito antes da sentença; permissão para operadora reduzir
rede assistencial sem autorização da ANS; maior peso para o que
estiver previsto em contrato em relação às regras do Código de
Defesa do Consumidor.
Discussão mais ampla
A solução para os dramas vividos por
participantes de planos de saúde, ao que parece, deverá passar por
uma discussão bem mais ampla, que não se lite a questões
específicas como reajustes abusivos, falta de cobertura ou
descredenciamento.
Para alguns especialistas do setor, as
empresas particulares devem apostar mais nas políticas de prevenção
e no investimento para a especialização de médicos. É preciso que
eles saibam sair de uma consulta com algum diagnóstico, a partir de
uma conversa com o paciente e exame clínico.
Com isso, seria possível eliminar o
desperdício com outros exames e procedimentos desnecessários e,
principalmente, encontrar o tratamento efetivo. Todo mundo sairia
ganhando e com custos mais baixos. Há quem aponte o
compartilhamento de prontuário como um passo também importante na
racionalização dos serviços médicos.
Maior transparência e ética em toda a
cadeia de saúde, também é fundamente nesse processo, eliminando
fraudes ou vícios do sistema, como por exemplo os que levam
hospitais a reterem o paciente por mais tempo para engordarem seus
lucros.