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Insegurança em Pernambuco aumenta demanda por seguros

Fonte: Diário de Pernambuco Data: 06 novembro 2017 Nenhum comentário

A diferença da busca dos pernambucanos por seguros ultrapassa em 600% na comparação com o índice nacional. Os números de assalto a coletivos no estado têm refletido, inclusive, na proteção de pequenos bens

Depois de perder o celular em um assaldo no ônibus, José Luiz Carvalho recorreu a um seguro para o novo telefone. Foto: Gabriel Melo/Especial para o Diario  

 

Depois de perder o celular em um assaldo no ônibus, José Luiz Carvalho recorreu a um seguro para o novo telefone. Foto: Gabriel Melo/Especial para o Diario

O pernambucano tem se preocupado mais em se proteger. O risco de perder um patrimônio ou de sofrer danos ao bem tem elevado a busca por seguros de todos os tipos no estado, principalmente pelo reflexo dos índices alarmantes de violência, resultado da falta de segurança pública. Se considerar a soma dos prêmios de seguros nos ramos residenciais, empresariais, de automóvel e transporte rodoviário, que consideram coberturas de roubo ou furto, verifica-se que de agosto de 2016 a setembro de 2017, no Brasil, os prêmios cresceram 3,8%. Somente em Pernambuco, o aumento na adesão foi de 28,4%, uma diferença de quase 650%.

Não poderia ser diferente e essa demanda real inclui a busca pelos seguros para pequenos bens, como celulares, notebooks e tablets, e uma razão é a vulnerabilidade do transporte público. Os coletivos têm sido um prato cheio para os dados que tornam os seguros cada vez mais um item prioritário a entrar nas despesas das pessoas. Para se ter ideia, o mês de setembro superou a marca de 300 assaltos a ônibus na Região Metropolitana do Recife (RMR), segundo o Sindicato dos Rodoviários. No ano, de 1º de janeiro a 30 de setembro, foram contabilizados mais de 2.960 investidas contra coletivos. Em uma das ocorrências, o estudante de publicidade José Luiz Carvalho foi uma das vítimas. Prejuízo de R$ 2 mil com o celular roubado, que era utilizado para uso pessoal e também para trabalhar.

“Nem tinha pago tudo e fui roubado. Além do prejuízo de R$ 2 mil ainda fiquei com as parcelas para pagar. É revoltante e é mais que perder o dinheiro. Como preciso do celular como instrumento de trabalho, não posso esperar para ter outro. Comprei um novo, mas dessa vez coloquei seguro, uma despesa extra de R$ 450 que não deveria ser necessária, principalmente porque não pude parcelar. Tive que pagar de uma única vez, mas para me proteger financeiramente por um ano. Infelizmente, hoje, não dá para correr tanto risco sem esse suporte”, justificou.

De acordo com Lauro Farias, economista do Centro de Pesquisas e Economia do Seguros da Escola Nacional de Seguros (CPES), o objeto de cobiça de assaltantes de fato gerou o aumento da procura pelo mercado de seguros. “Desde que esses bens viraram moda, com expressivo crescimento de vendas, eles também viraram alvo. E as seguradoras entraram no circuito para proteger. Porém, os consumidores devem saber que o seguro geralmente inclui uma franquia. Assim, em caso de sinistro (perda/roubo), a parte da franquia é arcada pelo segurado, com o restante ficando a cargo da seguradora”, diz.

Mas vale o desembolso. “O preço do seguro pode chegar a 30% do valor do bem, ou seja, vale a pena fazer seguro para celular, tablet e notebook que tenham preços relativamente elevados. Ou para quem não quer ter nenhuma surpresa desagradável em tempos de mobilidade, arriscando um prejuízo bastante razoável”, complementou o economista.

A Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS-PE) apresenta números menores em relação a assaltos a ônibus. Conforme os dados divulgados pelo governo, em setembro ocorreram 75 assaltos e roubos a ônibus. Isso, segundo a SDS, representa queda de 52% em relação ao mês anterior. Em todo o ano, foram 1.204 investidas a coletivos.

Para enfrentar o transtorno, a SDS destaca o acréscimo no policiamento na rua. Foram 1,5 mil novos policiais atendendo a população. O aumento já tem reflexo nos números. Em setembro, mais de 2 mil pessoas foram autuadas em flagrante, 541 mandados de prisão, 507 armas apreendidas e 391 ações de combate ao tráfico de drogas.

 

Grande alvo dos crimes tem baixa adesão Maior procura dos pernambucanos é por seguros de veículos, mas apenas 30% da frota é protegida

Os crimes violentos contra o patrimônio, segundo a SDS, somam 8.935 somente em novembro e mais de 1,5 mil foram veículos. No ano, foram mais de 6 mil carros roubados no estado, provocando um aumento na demanda por seguros que acompanha o movimento de crimes. De acordo com Carlos Valle, corretor de seguros e representante do Sindicato de Corretoras de Pernambuco, carro é o bem que mais recebe solicitação de orçamento por seguro e a população tem avaliado que não dá mais para correr risco justificando que o seguro é “caro”. O alerta, porém, é que a maioria da frota está vulnerável. Dos 2,5 milhões de veículos cadastrados no estado, apenas 30% é protegida por seguros.

Demanda por seguros de automóveis aumenta em Pernambuco, mas adesão ainda é baixa. Foto: Gabriel Melo/Especial para o Diario  
Demanda por seguros de automóveis aumenta em Pernambuco, mas adesão ainda é baixa. Foto: Gabriel Melo/Especial para o Diario

Segundo Carlos Valle, existe um cliente comum, que é precavido, mas as notícias ruins, de violência, ressaltaram o risco de perder o bem, o que tem levado a uma procura maior pela segurança. “Ou coloca o seguro ou perde. Esse sentimento ficou ainda mais claro. E não tem cadeado que resolva. Muita gente escolhe não ter seguro porque diz que não tem R$ 2 mil hoje para isso, mas chegou a um ponto em que não vale correr o risco de perder R$ 30 mil ou R$ 40 mil. Seguro veicular garante um ano de proteção, as pessoas podem parcelar, encaixar no orçamento, porque é a única forma de amenizar qualquer dano”, relata.

Além disso, vale a máxima: quanto maior o risco, maior o preço para proteger. No Recife, por exemplo, uma mudança de bairro pode fazer o preço do seguro subir mais de 25%. No geral, o preço do seguro varia entre 3% e 6% do valor do carro.

Ainda de acordo com Valle, os sinistros de batidas são grandes, mas o roubo aumentou muito e tem sido a maior repercussão em chamadas de acionamento dos seguros. Dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) apontam que de janeiro a setembro deste ano, foram apreendidos 222 veículos roubados nas rodovias federais de Pernambuco. No mesmo período do ano passado, esse número foi de apenas 34 veículos apreendidos.

“Ainda assim, apenas 30% da frota do estado é segurada. É muita gente ainda correndo risco porque acha o seguro caro. O que vale ressaltar é que o preço do seguro está associado ao risco. O mercado tem concorrência e o preço é trabalhado para atrair clientes e que não dá para baixar quando o risco é grande. É um princípio da sustentabilidade do negócio. Uma pessoa que mora em um bairro com altos índices de roubo é precificada neste cenário. É o mesmo que eu cobrar o mesmo valor de uma pessoa que só usa o carro para ir ao trabalho e para uma que trabalha como Uber, ainda que seja o mesmo perfil de veículo e de condutor”, avalia. Em Pernambuco, a frota de veículos em 2017 é de aproximadamente 2,5 milhões.

A Secretaria de Defesa Social (SDS) de Pernambuco afirma que o trabalho de fiscalização da polícia para neutralizar a ação desses criminosos é intenso e que a facilidade para fazer a clonagem das placas tem sido um condicionante que atrapalha. Além disso, informou que a polícia investe na capacitação frequente das equipes para acabar com essas fraudes. A ação já tem resultados, segundo a SDS. Roubos e furtos diminuíram 16% em setembro, no comparativo com agosto. Foram registrados 8.935 crimes contra o patrimônio contra 10.636 no mês anterior.

“Entendo que a prioridade é sempre a vida”

De janeiro a setembro, Pernambuco notificou 4.145 homicídios em todo o estado, sendo 411 só em setembro. Até agosto, 1.333 mulheres registraram denúncias de estupro e mais 162 em setembro ratifica a sensação de insegurança real. Em entrevista ao Diario, o economista do Centro de Pesquisas e Economia do Seguros da Escola Nacional de Seguros, Lauro Farias, atestou o movimento de pernambucanos em busca de segurança e que há, sim, formas de amenizar o ônus do risco.

Diario: Em relação ao risco de vida, com um balanço de tantas mortes, como o mercado de seguros pode ajudar? Os seguros de vida são mais caros para pessoas de Pernambuco, por causa desses índices?

Lauro Farias: Os seguros de vida e de acidentes pessoais podem ajudar muito. Ambos cobrem morte ou invalidez por causas acidentais. Um roubo com tais consequências, que causa morte (latrocínio) ou lesões físicas, é indenizável por esses seguros. Quanto ao preço, o que governa o prêmio de seguro é o risco. Se, como parece de fato, o risco de roubos e furtos e as consequências são altos numa região ou estado, em média, os prêmios serão também mais elevados. Mas não temos dados precisos ou índices de preços de seguros por estado de modo a ter uma boa comparação de Pernambuco com o resto do país.

Diario – Há algum seguro que contemple casos de estupro?

Lauro Farias: Sim. O seguro de vida e o de acidentes pessoais cobrem danos físicos causados por acidentes (a diferença entre os dois é que o seguro de vida cobre também morte e invalidez por causa natural). E como “acidente pessoal” para fins do seguro de vida é o evento com data caracterizada, exclusivo e diretamente externo, súbito, involuntário e violento, causador de lesão física que tenha como consequência direta a morte ou a invalidez permanente total ou parcial do segurado, claro está que os danos físicos causados por estupro estão cobertos. Também o seguro (e os planos) de saúde suplementar cobrem o tratamento de tais danos.

Diario: O que o seguro de vida pode reduzir de dano a quem passa por algum tipo de sinistro na vida, como estupro ou levar um tiro em um assalto, por exemplo?

Lauro Farias: O seguro indeniza com base no valor do capital contratado, 100% em casos de morte e danos mais graves a saúde e menos em caso de danos menos graves. Há uma tabela com a relação minuciosa de cada tipo de dano físico e a percentagem do capital segurado que pode ser recebida como indenização.

Diario: Qual a recomendação para quem vive em um estado com números desse tamanho… O que dá pra fazer de seguro? O que priorizar? Vida? Carro? Casa?

Lauro Farias: Entendo que a prioridade é sempre a vida, logo, se faltar dinheiro para os diversos seguros, os de vida e saúde devem vir na frente.

Diario: Quando se tem seguro, quando vale e quando não vale a pena acionar o seguro?

Lauro Farias: O contrato de seguro é minucioso, fruto de séculos de experiência e aperfeiçoamento. Logo, a questão que se coloca é se o segurado numa dada situação tem ou não direito à indenização. Se tiver, e o corretor de seguros pode lhe ajudar, sempre vale a pena acionar o seguro.

Diario: Em relação à proteção à vida e ao patrimônio, os números de crimes nesse sentido são altos. Houve aumento na aquisição dos seguros?

Lauro Farias: Houve. Enquanto no Brasil os prêmios que tratam de patrimônio cresceram 3,8%, somente em Pernambuco aumentaram 28,4%. Esse é um indicativo da maior preocupação das famílias e empresas pernambucanas com a questão da segurança pública. Se somarmos a essa lista os prêmios de seguros de vida a expansão em Pernambuco é ainda maior: 32,3% contra 5,1% no Brasil.

Diario: Que tipo de seguro vem sendo procurado ou pode ser cogitado para reduzir o dano contra as propriedades?

Lauro Farias: Seguros nos ramos de seguros residenciais, empresariais, automóvel (cobertura de casco) e de transporte rodoviário, que contêm coberturas de roubo ou furto, são particularmente indicados. Compreensivo residencial e empresarial, cobertura de casco no seguro de automóvel, coberturas contra roubo ou furto nos diversos seguros de transporte de cargas e seguros de vida e acidentes pessoais e de saúde.

Diario: Na questão do assalto a ônibus que geram perda de pequenos bens das pessoas, o que dá para fazer seguro? o que vale a pena? Como são as taxas de celular ou de computador, por exemplo?

Lauro Farias: Existe de fato seguro para smartphones, tablets e notebooks e as seguradoras que operam tal seguro têm tido expressivo crescimento de vendas desde que esses bens viraram moda e objeto de cobiça. Porém, os consumidores devem saber que o seguro geralmente inclui uma franquia. Assim, em caso de sinistro (perda/roubo), a parte da franquia é arcada pelo segurado, o restante ficando a cargo da seguradora. E o preço do seguro pode chegar a 30% do valor do bem. Ou seja, vale a pena fazer seguro para celular, tablet e notebooks que tenham preços relativamente elevados. Ou para quem não quer ter nenhuma surpresa desagradável em tempos de mobilidade, arriscando um prejuízo bastante razoável.

 

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