|
|
Depois de perder o celular em um assaldo no ônibus, José Luiz
Carvalho recorreu a um seguro para o novo telefone. Foto: Gabriel
Melo/Especial para o Diario
|
O pernambucano tem se preocupado mais
em se proteger. O risco de perder um patrimônio ou de sofrer danos
ao bem tem elevado a busca por seguros de todos os tipos no estado,
principalmente pelo reflexo dos índices alarmantes de violência,
resultado da falta de segurança pública. Se considerar a soma dos
prêmios de seguros nos ramos residenciais, empresariais, de
automóvel e transporte rodoviário, que consideram coberturas de
roubo ou furto, verifica-se que de agosto de 2016 a setembro de
2017, no Brasil, os prêmios cresceram 3,8%. Somente em Pernambuco,
o aumento na adesão foi de 28,4%, uma diferença de quase 650%.
Não poderia ser diferente e essa
demanda real inclui a busca pelos seguros para pequenos bens, como
celulares, notebooks e tablets, e uma razão é a vulnerabilidade do
transporte público. Os coletivos têm sido um prato cheio para os
dados que tornam os seguros cada vez mais um item prioritário a
entrar nas despesas das pessoas. Para se ter ideia, o mês de
setembro superou a marca de 300 assaltos a ônibus na Região
Metropolitana do Recife (RMR), segundo o Sindicato dos Rodoviários.
No ano, de 1º de janeiro a 30 de setembro, foram contabilizados
mais de 2.960 investidas contra coletivos. Em uma das ocorrências,
o estudante de publicidade José Luiz Carvalho foi uma das vítimas.
Prejuízo de R$ 2 mil com o celular roubado, que era utilizado para
uso pessoal e também para trabalhar.
“Nem tinha pago tudo e fui roubado.
Além do prejuízo de R$ 2 mil ainda fiquei com as parcelas para
pagar. É revoltante e é mais que perder o dinheiro. Como preciso do
celular como instrumento de trabalho, não posso esperar para ter
outro. Comprei um novo, mas dessa vez coloquei seguro, uma despesa
extra de R$ 450 que não deveria ser necessária, principalmente
porque não pude parcelar. Tive que pagar de uma única vez, mas para
me proteger financeiramente por um ano. Infelizmente, hoje, não dá
para correr tanto risco sem esse suporte”, justificou.
De acordo com Lauro Farias, economista
do Centro de Pesquisas e Economia do Seguros da Escola Nacional de
Seguros (CPES), o objeto de cobiça de assaltantes de fato gerou o
aumento da procura pelo mercado de seguros. “Desde que esses bens
viraram moda, com expressivo crescimento de vendas, eles também
viraram alvo. E as seguradoras entraram no circuito para proteger.
Porém, os consumidores devem saber que o seguro geralmente inclui
uma franquia. Assim, em caso de sinistro (perda/roubo), a parte da
franquia é arcada pelo segurado, com o restante ficando a cargo da
seguradora”, diz.
Mas vale o desembolso. “O preço do
seguro pode chegar a 30% do valor do bem, ou seja, vale a pena
fazer seguro para celular, tablet e notebook que tenham preços
relativamente elevados. Ou para quem não quer ter nenhuma surpresa
desagradável em tempos de mobilidade, arriscando um prejuízo
bastante razoável”, complementou o economista.
A Secretaria de Defesa Social de
Pernambuco (SDS-PE) apresenta números menores em relação a assaltos
a ônibus. Conforme os dados divulgados pelo governo, em setembro
ocorreram 75 assaltos e roubos a ônibus. Isso, segundo a SDS,
representa queda de 52% em relação ao mês anterior. Em todo o ano,
foram 1.204 investidas a coletivos.
Para enfrentar o transtorno, a SDS
destaca o acréscimo no policiamento na rua. Foram 1,5 mil novos
policiais atendendo a população. O aumento já tem reflexo nos
números. Em setembro, mais de 2 mil pessoas foram autuadas em
flagrante, 541 mandados de prisão, 507 armas apreendidas e 391
ações de combate ao tráfico de drogas.
Grande alvo dos crimes tem
baixa adesão Maior procura dos pernambucanos é por seguros
de veículos, mas apenas 30% da frota é protegida
Os crimes violentos contra o
patrimônio, segundo a SDS, somam 8.935 somente em novembro e mais
de 1,5 mil foram veículos. No ano, foram mais de 6 mil carros
roubados no estado, provocando um aumento na demanda por seguros
que acompanha o movimento de crimes. De acordo com Carlos Valle,
corretor de seguros e representante do Sindicato de Corretoras de
Pernambuco, carro é o bem que mais recebe solicitação de orçamento
por seguro e a população tem avaliado que não dá mais para correr
risco justificando que o seguro é “caro”. O alerta, porém, é que a
maioria da frota está vulnerável. Dos 2,5 milhões de veículos
cadastrados no estado, apenas 30% é protegida por seguros.
|
|
Demanda por seguros de automóveis aumenta em
Pernambuco, mas adesão ainda é baixa. Foto: Gabriel Melo/Especial
para o Diario |
Segundo Carlos Valle,
existe um cliente comum, que é precavido, mas as notícias ruins, de
violência, ressaltaram o risco de perder o bem, o que tem levado a
uma procura maior pela segurança. “Ou coloca o seguro ou perde.
Esse sentimento ficou ainda mais claro. E não tem cadeado que
resolva. Muita gente escolhe não ter seguro porque diz que não tem
R$ 2 mil hoje para isso, mas chegou a um ponto em que não vale
correr o risco de perder R$ 30 mil ou R$ 40 mil. Seguro veicular
garante um ano de proteção, as pessoas podem parcelar, encaixar no
orçamento, porque é a única forma de amenizar qualquer dano”,
relata.
Além disso, vale a máxima: quanto
maior o risco, maior o preço para proteger. No Recife, por exemplo,
uma mudança de bairro pode fazer o preço do seguro subir mais de
25%. No geral, o preço do seguro varia entre 3% e 6% do valor do
carro.
Ainda de acordo com Valle, os
sinistros de batidas são grandes, mas o roubo aumentou muito e tem
sido a maior repercussão em chamadas de acionamento dos seguros.
Dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) apontam que de janeiro a
setembro deste ano, foram apreendidos 222 veículos roubados nas
rodovias federais de Pernambuco. No mesmo período do ano passado,
esse número foi de apenas 34 veículos apreendidos.
“Ainda assim, apenas 30% da frota do
estado é segurada. É muita gente ainda correndo risco porque acha o
seguro caro. O que vale ressaltar é que o preço do seguro está
associado ao risco. O mercado tem concorrência e o preço é
trabalhado para atrair clientes e que não dá para baixar quando o
risco é grande. É um princípio da sustentabilidade do negócio. Uma
pessoa que mora em um bairro com altos índices de roubo é
precificada neste cenário. É o mesmo que eu cobrar o mesmo valor de
uma pessoa que só usa o carro para ir ao trabalho e para uma que
trabalha como Uber, ainda que seja o mesmo perfil de veículo e de
condutor”, avalia. Em Pernambuco, a frota de veículos em 2017 é de
aproximadamente 2,5 milhões.
A Secretaria de Defesa Social (SDS) de
Pernambuco afirma que o trabalho de fiscalização da polícia para
neutralizar a ação desses criminosos é intenso e que a facilidade
para fazer a clonagem das placas tem sido um condicionante que
atrapalha. Além disso, informou que a polícia investe na
capacitação frequente das equipes para acabar com essas fraudes. A
ação já tem resultados, segundo a SDS. Roubos e furtos diminuíram
16% em setembro, no comparativo com agosto. Foram registrados 8.935
crimes contra o patrimônio contra 10.636 no mês anterior.
“Entendo que a prioridade é
sempre a vida”
De janeiro a setembro, Pernambuco
notificou 4.145 homicídios em todo o estado, sendo 411 só em
setembro. Até agosto, 1.333 mulheres registraram denúncias de
estupro e mais 162 em setembro ratifica a sensação de insegurança
real. Em entrevista ao Diario, o economista do Centro de Pesquisas
e Economia do Seguros da Escola Nacional de Seguros, Lauro Farias,
atestou o movimento de pernambucanos em busca de segurança e que
há, sim, formas de amenizar o ônus do risco.
Diario: Em relação ao risco de vida,
com um balanço de tantas mortes, como o mercado de seguros pode
ajudar? Os seguros de vida são mais caros para pessoas de
Pernambuco, por causa desses índices?
Lauro Farias: Os seguros de vida e de
acidentes pessoais podem ajudar muito. Ambos cobrem morte ou
invalidez por causas acidentais. Um roubo com tais consequências,
que causa morte (latrocínio) ou lesões físicas, é indenizável por
esses seguros. Quanto ao preço, o que governa o prêmio de seguro é
o risco. Se, como parece de fato, o risco de roubos e furtos e as
consequências são altos numa região ou estado, em média, os prêmios
serão também mais elevados. Mas não temos dados precisos ou índices
de preços de seguros por estado de modo a ter uma boa comparação de
Pernambuco com o resto do país.
Diario – Há algum seguro que contemple
casos de estupro?
Lauro Farias: Sim. O seguro de vida e
o de acidentes pessoais cobrem danos físicos causados por acidentes
(a diferença entre os dois é que o seguro de vida cobre também
morte e invalidez por causa natural). E como “acidente pessoal”
para fins do seguro de vida é o evento com data caracterizada,
exclusivo e diretamente externo, súbito, involuntário e violento,
causador de lesão física que tenha como consequência direta a morte
ou a invalidez permanente total ou parcial do segurado, claro está
que os danos físicos causados por estupro estão cobertos. Também o
seguro (e os planos) de saúde suplementar cobrem o tratamento de
tais danos.
Diario: O que o seguro de vida pode
reduzir de dano a quem passa por algum tipo de sinistro na vida,
como estupro ou levar um tiro em um assalto, por exemplo?
Lauro Farias: O seguro indeniza com
base no valor do capital contratado, 100% em casos de morte e danos
mais graves a saúde e menos em caso de danos menos graves. Há uma
tabela com a relação minuciosa de cada tipo de dano físico e a
percentagem do capital segurado que pode ser recebida como
indenização.
Diario: Qual a recomendação para quem
vive em um estado com números desse tamanho… O que dá pra fazer de
seguro? O que priorizar? Vida? Carro? Casa?
Lauro Farias: Entendo que a prioridade
é sempre a vida, logo, se faltar dinheiro para os diversos seguros,
os de vida e saúde devem vir na frente.
Diario: Quando se tem seguro, quando
vale e quando não vale a pena acionar o seguro?
Lauro Farias: O contrato de seguro é
minucioso, fruto de séculos de experiência e aperfeiçoamento. Logo,
a questão que se coloca é se o segurado numa dada situação tem ou
não direito à indenização. Se tiver, e o corretor de seguros pode
lhe ajudar, sempre vale a pena acionar o seguro.
Diario: Em relação à proteção à vida e
ao patrimônio, os números de crimes nesse sentido são altos. Houve
aumento na aquisição dos seguros?
Lauro Farias: Houve. Enquanto no
Brasil os prêmios que tratam de patrimônio cresceram 3,8%, somente
em Pernambuco aumentaram 28,4%. Esse é um indicativo da maior
preocupação das famílias e empresas pernambucanas com a questão da
segurança pública. Se somarmos a essa lista os prêmios de seguros
de vida a expansão em Pernambuco é ainda maior: 32,3% contra 5,1%
no Brasil.
Diario: Que tipo de seguro vem sendo
procurado ou pode ser cogitado para reduzir o dano contra as
propriedades?
Lauro Farias: Seguros nos ramos de
seguros residenciais, empresariais, automóvel (cobertura de casco)
e de transporte rodoviário, que contêm coberturas de roubo ou
furto, são particularmente indicados. Compreensivo residencial e
empresarial, cobertura de casco no seguro de automóvel, coberturas
contra roubo ou furto nos diversos seguros de transporte de cargas
e seguros de vida e acidentes pessoais e de saúde.
Diario: Na questão do assalto a ônibus
que geram perda de pequenos bens das pessoas, o que dá para fazer
seguro? o que vale a pena? Como são as taxas de celular ou de
computador, por exemplo?
Lauro Farias: Existe de fato seguro
para smartphones, tablets e notebooks e as seguradoras que operam
tal seguro têm tido expressivo crescimento de vendas desde que
esses bens viraram moda e objeto de cobiça. Porém, os consumidores
devem saber que o seguro geralmente inclui uma franquia. Assim, em
caso de sinistro (perda/roubo), a parte da franquia é arcada pelo
segurado, o restante ficando a cargo da seguradora. E o preço do
seguro pode chegar a 30% do valor do bem. Ou seja, vale a pena
fazer seguro para celular, tablet e notebooks que tenham preços
relativamente elevados. Ou para quem não quer ter nenhuma surpresa
desagradável em tempos de mobilidade, arriscando um prejuízo
bastante razoável.