Thinkseg reduz preço em até 40% se algoritmo concluir que
trata-se de bom motorista; modelo preocupa especialistas em
privacidade
Para pagar menos no seguro do seu
carro, você aceitaria que uma empresa monitorasse o jeito que você
dirige com um aplicativo instalado em seu celular? Ou que
vasculhasse suas postagens públicas em redes sociais? Essa é a
ideia por trás do sistema da Thinkseg,
startup que conecta usuários com corretores e seguradoras.
“Queremos individualizar o usuário por conta do risco”, diz André
Gregori, sócio-fundador da empresa. “Se ele é um bom motorista,
independentemente da classificação etária ou social, ele não tem de
pagar a mais pelo seguro.”
Ao contrário do modelo tradicional de
contratação de seguros, que classifica as pessoas segundo
diferentes perfis, a Thinkseg usa
tecnologia para conhecer bem o seu cliente – e dar a ele um
desconto de até 40% na mensalidade. “Ninguém gosta de contratar
seguro. Especialmente o millenial”, diz Gregori, fazendo referência
à geração nascida a partir de meados dos anos 1980.
Para contratar um seguro pela empresa,
o usuário preenche um questionário com cinco informações: nome,
endereço, data de nascimento, CPF e e-mail. Com esses dados, o
algoritmo da Thinkseg consegue
“varrer” a internet para identificar, por exemplo, se a pessoa
gosta de frequentar bares.
Copiloto. O
segundo passo é o mais importante: a pessoa que contrata o seguro
instala um aplicativo no smartphone, que analisa se ele é um bom
motorista. “Meu algoritmo consegue ver se o usuário acelera
drasticamente, se freia muito, se faz curvas fechadas, se fala no
celular enquanto dirige”, diz Gregori.
A partir de sua conduta ao volante, o
algoritmo ranqueia o usuário em um sistema de estrelas – formando o
que o executivo chama de “DNA do comportamento do motorista”. Caso
receba uma boa avaliação, o bom condutor recebe o desconto. Por
enquanto, não há “penalização” para o mau condutor, mas nada impede
que isso ocorra.
O sistema da Thinkseg é inteligente e
detecta tentativas de fraude feitas pelos usuários. “Se ele
desinstalar o aplicativo no meio da noite, porque não quer ser
monitorado caso esteja dirigindo alcoolizado, por exemplo, a gente
tira pontos dele”, explica o executivo.
Futuro. Os
serviços da Thinkseg, porém, não se restringem apenas ao mercado de
seguros de carro. A ideia é ter opções de seguro residencial e
saúde. “Posso usar nosso aplicativo para monitorar a atividade
física que o usuário está fazendo, ou pedir pra ele me mandar uma
foto do seu prato de comida”, diz o executivo. A possibilidade de
coletar dados inclui até a maneira como o usuário digita em seu
celular – segundo Gregori, o aplicativo pode medir a ansiedade. “O
indivíduo ansioso é mais propenso a doenças cardíacas”,
exemplifica.
Criada por Gregori em setembro de
2016, a Thinkseg tem hoje cerca de 50 funcionários em seu
escritório em São Paulo. O empresário não é um novato no ramo de
seguros: nos anos 2000, ele foi o responsável pela Fator
Seguradora, e em 2010 foi responsável pela BTG Seguridade, avaliada
no ano passado em R$ 3,2 bilhões. Por enquanto, a startup funciona
apenas com investimento próprio de Gregori, família e amigos, mas
pretende levantar sua primeira rodada de investimentos em
breve.
Privacidade. Para especialistas em direito
digital ouvidos pelo Estado, o modelo de negócios da Thinkseg
levanta preocupações com a segurança e a privacidade dos dados dos
usuários. “Era esperado que uma empresa de seguros sugerisse coleta
de dados e análise de risco com Big Data. O problema é a forma como
ela vai tratar esses dados”, avalia Rafael Zanatta, pesquisador de
telecomunicações do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
(Idec).
Segundo Marco Konopacki, coordenador
de projetos do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de
Janeiro (ITS-Rio), há três pontos a serem considerados: a forma
como os dados serão armazenados, se eles estão protegidos de
ataques hackers, e se os dados serão utilizados apenas para a
análise de risco. “Com o aplicativo monitorando minha direção, ele
pode saber por onde eu passo todos os dias. Com isso, ele sabe
lojas pelas quais eu passo na frente e pode me oferecer
publicidade”, explica Konopacki.
Questionado sobre o assunto, Gregori
diz que, para a geração millenial, “a privacidade é um dogma”.
“Quem tem 20 anos sabe que está sendo bisbilhotado a todo o tempo
por aplicativos. A gente precisa do consentimento para monitorar o
usuário”.
Para Zanatta, a questão vai além da
simples comodidade. “As pessoas não sabem o valor de seus dados
pessoais e, por isso, qualquer benefício dado em troca deles pode
parecer que vale a pena.”