Em artigo, especialista aborda os impactos do
medicamento genérico na carreira de executivos de alto
escalão
A expansão do mercado de genéricos tem mudado
significativamente a estrutura do segmento farmacêutico e promoveu
forte competição entre as indústrias do setor, ampliando a
disponibilidade de novos produtos e o acesso da população a
diversos tratamentos. Por outro lado, aumentou também a dificuldade
de lançar medicamentos blockbusters e, consequentemente, um novo
cenário se apresenta para as multinacionais: a maior necessidade de
investimentos em pesquisa e margens muito mais
apertadas.
Apesar disso, a tendência deste
mercado é a de continuar crescendo, além de aumentar ainda mais a
competitividade. Enquanto as multinacionais estão estancadas ou
mesmo reduzindo ano a ano suas equipes e eliminado posições e
unidades, as empresas de genéricos caminham na direção oposta.
Grandes nomes do setor praticamente duplicaram seu tamanho desde a
criação do segmento no início dos anos 2000.
Hoje notamos que essas empresas são
as maiores responsáveis por contratações de executivos e gerentes
no mercado, tanto para suprir a demanda de profissionais pela
expansão dos negócios e criações de novas unidades, como também
para aumentar a profissionalização das equipes. As altas posições
mais demandadas no segmento atualmente são aquelas relacionadas à
área comercial, em especial Diretor Comercial.
Em genéricos, o modelo de negócio se
traduzia boa parte em uma atividade puramente comercial e
relacionamento direto com os clientes. Desconto e prazos eram
praticamente as únicas ferramentas das lideranças comerciais e o
forte crescimento orgânico não demandava maiores níveis de
eficiência e profissionalismo no desenvolvimento das atividades
comerciais.
O aumento da competitividade no
segmento e o crescimento menos agressivo de mercado fez com que
este modelo estritamente comercial apresentasse certo nível de
fadiga e necessitasse de inovação e orientação mais estratégica.
Portanto, profissionais mais produtivos, com habilidades
multifuncionais e multifatoriais, com entendimento macro do negócio
e de outras atividades funcionais como finanças, logística,
recursos humanos, etc. passam a se destacar na busca por um alto
executivo da área de vendas.
Afinal, não há mais tanto espaço para
a venda, mas sim uma necessidade maior de competição, gerenciamento
de margens, portfólio de produtos e transformação das equipes
comerciais, com o foco no aumento de produtividade e efetividade.
Esse cenário incentiva o desenvolvimento de novas posições que se
tornarão relevantes no futuro próximo:
Gerência de Inteligência e
Efetividade Comercial: deverá colaborar na gestão comercial,
trazendo mais ciência e profissionalismo para as decisões
comerciais, buscando minimizar/filtrar o impacto do binômio
desconto x prazo da equação comercial. Esse profissional também
deverá ser responsável por aumentar a efetividade da equipe
comercial, melhorando os níveis de informação e medidores de
desempenho da equipe, assegurando maior produtividade e desempenho
das equipes comerciais.
Direção/Gerência de Trade Marketing:
atualmente essa posição ainda é pouco desenvolvida no segmento de
genéricos. Contudo, tal qual a posição de direção comercial, a de
trade marketing deverá crescer e ser mais demandada no futuro. Com
o aumento da competitividade no canal, haverá a necessidade de
contar com profissionais mais preparados para entender o canal
comercial e desenvolver estratégias de como oferecer/criar uma
parceira mais duradoura entre empresa e ponto de venda que não se
sustente somente no binômio mencionado
anteriormente.
Importante ressaltar que o segmento
dos genéricos ainda é um dos mais conservadores e perde uma
excelente oportunidade de trazer executivos com experiência em
outros setores. Adicionalmente, no passado recente o mercado de
genéricos esteve quase que totalmente em mãos de empresas locais.
Isso significou por algum tempo uma alternativa para profissionais
que não se recolocavam em grandes farmacêuticas de prescrição. Esse
cenário tem mudado, mas ainda temos muitos profissionais que
cresceram em um negócio estritamente comercial e menos
profissionalizado do ponto de vista de gestão.
Entretanto, um movimento tímido já
começa a ser realizado em algumas empresas, pois a maior
competitividade fez com que se acentuasse a busca pela
profissionalização a fim de se tornarem mais competitivos e
entregar resultados em um ambiente mais complexo e
demandante.
Dito isso, também acho que o segmento
de genéricos deverá abrir espaço aos profissionais do mercado de
varejo e de consumo. São executivos altamente capacitados e que
trabalham de maneira multifatorial e funcional. Como esses setores
já demandam isso há muito tempo, esses profissionais poderão
entregar resultados mais sólidos para o segmento de
genéricos.
* Valéria Carinhato é diretora para o
segmento de Life Scienses da Fesa, consultoria de busca e seleção
de altos executivos
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opiniões dos artigos/colunistas aqui publicadas refletem unicamente
a posição de seu autor, não caracterizando endosso, recomendação ou
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