Audiência
debateu possibilidade, hoje proibida, de o paciente pagar por
melhorares acomodações e serviços no SUS
Representantes Federação das Santas Casas de
Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas do Rio Grande do
Sul, do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul e o
ministro da Saúde, Arthur Chioro, divergiram em audiência pública,
no Supremo Tribunal Federal (STF), sobre as internações
hospitalares custeadas pelo Sistema Único de Saúde
(SUS).
A
audiência pública, convocada pelo ministro Dias Toffoli, debateu a
possibilidade de o paciente pagar diferença em dinheiro para
melhorar o tipo de acomodação e para contratar um profissional de
sua preferência. A prática, conhecida como “diferença de classe”,
está proibida desde 1991. O procedimento era comum em hospitais
privados e em casas de misericórdia que recebiam repasses do SUS
por atendimentos a pacientes da rede pública.
A
audiência pública foi motivada por um recurso do Conselho Regional
de Medicina do Rio Grande do Sul contra decisão da Justiça Federal
da 4ª Região, que negou a possibilidade de a entidade estabelecer
essa prática. Toffoli é o relator do processo, que ainda não tem
data para ser julgado.
O
presidente da Federação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais
e Entidades Filantrópicas do Rio Grande do Sul, Júlio Dorneles de
Mattos, destacou a importância do SUS para as 2,1 mil instituições
sem fins lucrativos em todo o país, mas defendeu os pagamentos
extras, como forma de melhorar o atendimento para todos que
procuram atendimento. Segundo Mattos, as instituições operam com
déficit financeiro anual de R$ 5,1 bilhões por não receberem os
custos reais dos pacientes atendidos. De acordo com o presidente,
para R$ 100 em custos, o SUS repassa somente R$ 60.
“Na
nossa avaliação, a decisão deve ser por um caminho que conduza a
uma sociedade livre, justa e solidária. Livre na medida em que se
garanta a autonomia do cidadão de fazer suas escolhas, de contratar
da forma que lhe couber. Justa na medida em que o acesso seja
universal e regulado pelo gestor, e solidária na medida em que quem
tem recursos pode estar contribuindo para que outros, que fazem o
uso exclusivamente pelo SUS, tenham melhores condições
assistenciais”, disse.
Durante a audiência, o integrante do Conselho
Regional de Medicina do Rio Grande do Sul Cláudio Balduíno Souto
Franzen defendeu os pagamentos complementares, por entender que os
valores pagos pelos SUS a hospitais privados e casas de
misericórdia no estado são inferiores aos custos das assistências.
Segundo o conselheiro, o paciente tem o direito de ter atendimento
diferenciado, caso possa pagar pelo serviço.
Contra o pagamento extra manifestaram-se a
Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), a representante da
procuradoria do Estado do Rio Grande do Sul e o ministro da Saúde,
Arthur Chioro. De acordo com o ministro, a proposta criaria
privilégio e desorganização no sistema público de saúde, ao deixar
a gestão nas mãos dos prestadores privados, além de criar
discriminação entre os pacientes.
“O
pedido do Conselho Regional de Medicina está impondo uma
discriminação às avessas, ampliando as condições de exercício do
direito à saúde às pessoas que possuem recursos financeiros, em
detrimento da camada mais pobre e mais necessitada da nossa
população”, disse o ministro.
Sobre
as declarações de déficit nos repasses aos hospitais, o ministro
esclareceu que os valores são próximos aos pagos pelos
procedimentos feitos por planos privados. “Se fala que a tabela do
SUS não remunera adequadamente. Na verdade, a tabela do SUS, há
muito tempo vem sendo desmontada para se tornar um sistema de
informação de atendimento à saúde. Se trabalha, por exemplo, em
relação às santas casas, com um sistema de orçamentação. A alta
complexidade é remunerada por procedimento e tem tabelas muito
próximas aos valores pagos pelos planos de saúde”.