Para diretor da CUT, o
Congresso deve discutir uma forma de regulamentação do sistema de
saúde suplementar em que prevaleçam os valores humanos e não os
lucros
A Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado
discute, neste momento, o atendimento prestado por planos de saúde
no Brasil. O secretário executivo da Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS), João Luiz de Barroca, disse que o sistema
avançou, mas reconheceu que o serviço ainda não está consolidado.
Segundo ele, os principais problemas dizem respeito à falta de
regulamentação do setor.
Ele lembrou que, há cerca de 15 anos, não havia lei que
direcionasse o atendimento oferecido pelos planos de saúde no país.
A situação, segundo ele, abria caminho para que algumas operadoras
chegassem a oferecer um número máximo de cinco consultas ao ano e
apenas três dias de internação em unidades de terapia intensiva
(UTIs).
“Em 1998, ao Legislativo atacou uma das pendências da
Constituição”, disse. “Mas é importante que se tenha
clareza de que é um sistema em construção. Temos o maior sistema de
saúde pública do mundo e o segundo maior mercado de saúde
suplementar”, completou.
Durante a audiência pública, o representante da ANS lamentou a
morte do secretário de Recursos Humanos do Ministério do
Planejamento, Duvanier Paiva Ferreira, no último dia 19. Segundo a
família, ele passou mal e teve o atendimento negado em dois
hospitais particulares porque não tinham convênio com o plano de
saúde do servidor público.
A presidenta da União Nacional das Instituições de Autogestão em
Saúde (Unidas), Denise Rodrigues de Brito, concorda que a maior
preocupação em relação ao tema, neste momento, deve ser a
regulamentação do sistema de saúde suplementar.
“Temos um marco regulatório provisório, não temos ainda uma
resposta definitiva do Congresso Nacional em relação a esse marco
regulatório”, disse. “No ano passado, fizemos oito
audiências públicas, mas não houve consenso entre os parlamentares
e não conseguimos avançar”, explicou.
As pequenas operadoras, de acordo com a Unidas, estão
desaparecendo em razão da tendência de concentração de mercado. Há,
segundo Denise, um crescimento no número de usuários de planos de
saúde acompanhado de um decréscimo na quantidade de operadoras.
“Seja na saúde pública ou na saúde privada, temos hoje uma
situação que nos pede uma resposta e um olhar muito mais
atenciosos. Há uma tendência de maior longevidade e menor
natalidade, a população está ficando mais idosa. Há uma mudança no
perfil demográfico e epidemiológico”, destacou.
Para o diretor executivo da Central Única dos Trabalhadores
(CUT), Pedro Armengol, a carência de atendimento na saúde pública
serve de estímulo para o que chamou de mercado da saúde. As
operadoras, segundo ele, são vistas pela população brasileira como
“salvadoras” do Sistema Único de Saúde (SUS).
“O problema hoje é que a demanda está muito grande. Não
conheço um dirigente sindical no Brasil que não tenha como uma das
bandeiras principais a defesa do SUS. Mas o que a gente vê no dia a
dia é a gente negociando com os empregadores para que a base de
trabalhadores tenha atendimento pela saúde suplementar.”
Armengol defendeu que o Congresso
brasileiro discuta uma forma de regulamentação do sistema de saúde
suplementar em que prevaleçam os valores humanos e não os
lucros.