Os reflexos econômicos da pandemia
do novo coronavírus para o setor de saúde ainda são incertos. Mas
no curto prazo, as primeiras impressões de representantes da área é
que os hospitais, clínicas e laboratórios de medicina diagnóstica
tendem a perder receita. Já as operadoras e seguradoras podem se
beneficiar, uma vez que as cirurgias eletivas estão sendo adiadas
para que leitos sejam liberados aos pacientes acometidos pela
covid-19, cujo custo de internação é inferior.
No entanto, considerando uma
projeção de longo prazo, quando os casos do novo coronavírus
diminuírem, esse cenário deve se inverter porque aqueles pacientes
das cirurgias eletivas tendem a remarcar seus procedimentos. Com
isso, haverá um acúmulo dos procedimentos envolvendo a covid-19 e
as cirurgias eletivas.
Relatório elaborado pela equipe do
Credit Suisse mostra que as maiores operadoras e seguradoras de
saúde têm um volume pequeno de usuários, em média 5% do total da
carteira, com mais de 65 anos - atualmente, as principais vítimas
da covid-19. Considerando que 50% desses usuários apresentem a
doença e 10% necessitem de internação de UTI por um período de 14
dias, o impacto sobre a receita gira entre 1% e 2,6% da receita.
“Essas operadoras têm liquidez para arcar com os custos. O impacto
não será tão relevante, além disso há uma compensação com o
adiamento dos procedimentos eletivos”, disse Maurício Cepeda,
analista do Credit Suisse, pontuando que as projeções foram feitas
com base no cenário atual. A propagação da covid-19 é exponencial e
por se tratar de uma doença nova ainda há muitas informações
desconhecidas, além disso, podem surgir tratamento e vacinas que
podem mudar o quadro.
Considerando as premissas acima, a
equipe do Credit Suisse estima que a Amil terá um impacto de R$ 311
milhões com o novo coronavírus (equivalente a 1,5% da receita); a
Bradesco Saúde deve ter gastos de R$ 246 milhões (1% do prêmio); a
Notredame Intermédica, de R$ 215 milhões (2,1%); Hapvida, R$ 188
milhões (2,6%); SulAmérica, R$ 202 milhões (1,1%); e Porto Seguro,
R$ 7 milhões (0,5%). A exceção é a Prevent Senior que tem 64,5% dos
seus usuários com mais de 65 anos. Com isso, os gastos estimados
são de R$ 381 milhões, o que representa 11,3% da receita da
operadora (ver tabela acima).
A opinião é compartilhada por Enrico De Vetori, sócio líder da área
de saúde da consultoria Deloitte, que faz a gestão do plano de
saúde de várias empresas. “Acredito que o sinistro em geral deve
cair, ajudado pelos cancelamentos e adiamentos das cirurgias
eletivas. As internações de paciente covid-19 têm um custo menor e,
atualmente, há muitos acordos entre operadoras e hospitais para
pagamento de pacote [preço fechado] por internação” disse De
Vetori.
A Confederação Nacional de Saúde
(CNSaúde) estima que o lucro antes de juros, impostos, depreciação
e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) do setor hospitalar
privado terá uma queda mensal de R$ 800 milhões como consequência
do novo coronavírus.
Isso porque, segundo Bruno Sobral,
diretor da entidade, a expectativa é que o volume de internações de
cirurgias eletivas tenha uma redução de 28%, ocorra um aumento de
10% em afastamento de pessoal da saúde por conta de contaminação e
uma alta de 15% no preço dos insumos e materiais médicos. “A margem
Ebitda cai de 5% para -8,7%”, disse Sobral.
A entidade está pleiteando que as
reservas financeiras das operadoras de planos de saúde, da ordem de
R$ 10 bilhões, que devem ser liberadas nos próximos dias, sejam
revertidas para pagamento dos prestadores de serviço.
Os laboratórios de medicina
diagnóstica também esperam por queda de receita apesar da forte
demanda por exames de detecção para a covid-19 e vacinas para
gripe. Vários grupos como a Dasa fecharam temporariamente parte das
unidades e outros como Fleury estão operando com horário reduzido
em alguns endereços devido à queda no movimento nas cidades.