O Globo relata
que uma estimativa do Ministério da Saúde, registrada em documento
interno de 27 de março, mostra que 17 unidades da federação têm
mais de 70% dos seus leitos ocupados. O mapeamento foi feito com
“informações fornecidas pelos entes”, em referência às instâncias e
órgãos que podem regular leitos de UTI no país, como estados e
municípios.
O ministério também avalia que é
preciso criar mais de 1,6 mil leitos de UTI e mais de 22 mil leitos
de enfermaria na primeira etapa de enfrentamento à doença, nos
próximos 30 dias.
Segundo o último boletim do
Ministério da Saúde, divulgado ontem, o novo coronavírus já matou
136 pessoas e infectou 4.256 em todo o país. São Paulo é o estado
mais afetado até o momento, com 1.451 casos confirmados e 98
mortes, seguido do Rio de Janeiro, com 600 e 17 respectivamente.
Todos os 27 estados já registraram casos, e 13 já têm óbitos. O
balanço também aponta que houve 625 hospitalizações com confirmação
de Covid-19.
OS PIORES: MS, PR E MG
As piores situações no quesito taxa
de ocupação de leitos de UTI estão em Mato Grosso do Sul (90,8%),
Paraná (90%) e Minas Gerais (88,5%). As melhore são do Distrito
Federal (59,1%), Amazonas (61%) e Acre (62%). O Rio aparece com
68,5% , e o Brasil com 78%.
Em nota na última sexta-feira, o
ministério informou ao GLOBO que a taxa de ocupação mais recente
que a pasta tem é de 78% dos leitos de UTI no SUS, mesmo dado que
consta no documento reservado. Informou ainda que “3.000 leitos de
UTIs volantes” estão sendo custeados pela pasta, dos quais 540
tiveram distribuição iniciada.
Questionado sobre os dados do
documento, que mostram elevadas taxas de vagas ocupadas em muitos
estados, o ministério informou que elabora um plano para “desafogar
e reduzir a ocupação de leitos de terapia intensiva, com medidas
clínicas, de manejo de pacientes e de gestão”.
“Deve ser observado, ainda, que
medidas adotadas pelos gestores locais já apontam quedas de
ocupação de leitos de UTI de até 50%, como a suspensão de cirurgias
não urgentes e redução de internações por trauma devido a
diminuição da movimentação da população nas ruas”, afirma a nota,
sem dar detalhes de onde já houve liberação de vagas.
O presidente do Conselho Nacional
de Secretários Estaduais de Saúde (Conass), Alberto Beltrame, que é
o titular da pasta no Pará, afirma que medidas como suspensão de
cirurgias e manejo de pacientes não surtem efeito na prática porque
a pressão por leitos de UTI é imensa em todo o país.
– Ninguém tem uma reserva de
leitos, porque as pessoas continuam tendo infarto, AVC e precisando
de cuidados intensivos. No Pará, tenho fila de espera por leitos de
UTI.
Segundo ele, a solução passa pela
abertura de novos leitos, e cada estado avaliará a melhor forma de
colocá-los em funcionamento. Na rede pública paraense, por exemplo,
Beltrame planeja montar os leitos de instalação rápida que o
Ministério da Saúde está disponibilizando nos espaços de
enfermarias, conforme os casos apareçam.
O secretário também questiona a
comparação que o ministério vem reiteradamente usando, que aponta
que o Brasil tem três vezes mais leitos que a Itália,
proporcionalmente à população.
– Esse raciocínio do Ministério da
Saúde tem um problema: quantos desses leitos estão ocupados. A
realidade no país é de demanda por esse tipo de cuidado intensivo,
fila de espera, judicializações – diz Beltrame.
O mesmo documento da Saúde traz um
cálculo da necessidade de novos leitos por estado. Segundo a pasta,
16 das 27 unidades da federação precisam criar, juntas, 1.623
leitos de UTI para os próximos 30 dias. No caso dos leitos de
enfermaria, que podem receber casos menos graves, São Paulo é o
único estado que, segundo estimativa da pasta, tem mais do que
precisa. Os outros 26 estados juntos acumulam um déficit de
22.901.
LEITOS EXTRAS
A criação de leitos extras já está
em andamento nos estados, inclusive com o aproveitamento de
estádios (como o Pacaembu, em São Paulo; o governo do Rio cogita
usar o Maracanã, dentre outros) e de centros de convenções (como o
Anhembi, em São Paulo, e o Riocentro, no Rio).
A rede municipal carioca projeta
881 leitos extras, dos quais 128 já estão disponíveis e outros 500
devem ficar prontos em 20 dias. Na rede estadual fluminense, a
previsão é de 1.500 leitos extras, 224 dos quais já entregues.
Há também esforços da rede privada:
a Rede D’Or, por exemplo, vai construir e operar um hospital de
campanha no Rio para atender a pacientes de Covid-19 vindos do SUS,
segundo noticiou o colunista do GLOBO Lauro Jardim. Ele será
montado no Leblon em 30 dias, e terá 200 leitos, sendo 100 de
UTI.