O Brasil perdeu o grau de
investimento. A reavaliação da nota brasileira pela Standard &
Poor’s. Se as outras agências acompanharem sua posição poderemos
ter um desastre de dimensões continentais. A consequência imediata
é o aumento dos juros que o país paga no mercado internacional,
mas, além disso, o país irá sentir na pele o preço de perder
competitividade e de ter suas empresas classificadas como de alto
risco, colocando-as fora das lentes dos investidores institucionais
internacionais, responsáveis por bilhões de dólares colocados em
diversos mercados do planeta.
Sem grau de investimento, parte
destes fundos não pode investir no país. As regras de gestão os
impedem e, se o fizerem, seus executivos ficam sujeitos a diversos
tipos de sanções, inclusive penais. Assim, o Brasil, que já vem
mal, pode deixar de ser uma possibilidade para investidores com
capacidade gigantesca de aporte de capitais. Eles não virão e, com
certeza, vários deles que, ao longo dos últimos anos, investiram no
Brasil estão revendo suas políticas em relação ao país.
Sem entrar no mérito do agravamento
da situação de centenas de empresas que terão menos condições de se
proteger, o movimento vai continuar pressionando o real em relação
ao dólar e encarecer mais a produção nacional.
A contrapartida seria que o real
barato é bom para exportarmos. Até um ponto isso é verdade, mas,
quando se coloca na balança a quantidade de reais necessária para
pagar os financiamentos em outras moedas, a conta não fecha. Uma
coisa é dever 100 milhões de dólares a 2 reais, outra completamente
diferente é dever os mesmos 100 milhões de dólares a 4 reais, ainda
mais com o faturamento em queda e o grosso ser em reais.
Com o faturamento em queda, porque
o mercado interno, responsável pela maior parte das compras, está
deprimido, atingido pelo desemprego, inadimplência, redução do
crédito, aumento dos juros e da inflação, a tendência é as
falências aumentarem e, para sobreviverem, as empresas investirem
menos no próprio negócio e consequentemente em manutenção e
segurança.
Se até aqui o quadro complicado,
ele piora quando lembramos que, em princípio, as empresas não podem
ter rating mais alto do que o do país onde estão instaladas. Ou
seja, se o Brasil não tem grau de investimento, a maior parte das
empresas brasileiras também não tem. Foi por isso que, logo após a
redução da nota do país, os principais bancos também tiveram seus
ratings diminuídos.
A regra vale para as seguradoras.
Aliás, para elas a situação é três vezes delicada porque são
obrigadas a investir a maior parte de seus recursos em títulos
federais; nas crises os sinistros aumentam; e a venda de seguros
novos cai.
As grandes companhias ligadas a
conglomerados financeiros devem sofrer menos porque, em função de
sua capitalização, limites de retenção e foco no varejo, dependem
quase que apenas delas e necessitam pouco resseguro. Mas há um rol
de seguradoras menores, ou especializadas em riscos com alta
necessidade de resseguros, que devem pagar mais caro pela
necessidade de capacidade operacional. Uma coisa é contratar
resseguro com rating positivo, outra é fazê-lo com nota baixa. E
fica pior quando se sabe que numa crise a qualidade dos riscos
piora. Assim, a perda do grau de investimento somada à recessão
poderia complicar a vida destas empresas. Mas, como me disse um
importante líder do setor, parte delas é controlada por grandes
conglomerados internacionais que possuem resseguradoras e que estão
no Brasil para ficar, sem se preocupar muito com o curto prazo.
Além disso, o juro alto remunera bem o capital investido e o real
baixo faz o país ficar muito barato.
Se a situação é ruim, a perda do
grau de investimento deve agravar o quadro, aumentando a
quebradeira, o desemprego, a inflação e os juros. Neste cenário
pode acontecer de algumas seguradoras, resseguradoras e corretores
de seguros serem afetados. Mas, entre as diversas atividades
econômicas, o setor de seguros deve ser dos menos atingidos.