Especialista fala sobre riscos
cibernéticos, principais coberturas e como se prevenir contra
ataques
O ataque cibernético em escala mundial ocorrido na última
sexta-feira, 12 de maio, quando o conteúdo de milhares de
computadores foram sequestrados em troca de resgate, fez ascender a
luz vermelha em pessoas e empresas, no Brasil e no mundo, sobre a
necessidade de uma maior preocupação com segurança cibernética.
Para falar sobre o tema, o Portal da CNseg entrevistou
o superintendente de Financial Line & Liability da Argo
Seguros, Gustavo Galrão, que também é membro da Comissão de Linhas
Financeiras da Fenseg. Confira:
De acordo com estudo do Centro de Pesquisa e
Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), os incidentes
cibernéticos crescem proporcionalmente mais no Brasil que no resto
do mundo. As empresas brasileiras estão suficientemente cientes dos
riscos e preparadas para lidar com eles?
Gustavo Galrão: Não.
Diferentemente de países desenvolvidos, o Brasil carece de cultura
de gerenciamento de riscos. A importância dada às ferramentas de
gerenciamento dos riscos, tais como o seguro, só aumenta quando há
uma experiência pessoal ou quando eventos de grandes proporções são
divulgados na mídia.
Porém, vale lembrar que o mercado de seguros para riscos
cibernéticos está em fase inicial e possui um enorme potencial de
crescimento, haja vista o processo de transformação digital que
vivemos e também o aumento de número e tipos de ataques de
hackers.
O que verificamos, de um modo geral, é uma baixa conscientização
sobre a importância do gerenciamento de risco dentro das empresas
brasileiras. O risco cibernético, embora cada vez mais relevante, é
algo relativamente novo, tanto para as empresas, quanto para as
pessoas. Certamente há um longo caminho em termos de
conscientização sobre o risco e o aprendizado das ferramentas
eficazes para o tratamento do risco cibernético.
Qual o tamanho do mercado de seguros contra riscos
cibernéticos no Brasil? E no mundo?
Gustavo Galrão: O mercado de
seguros contra riscos cibernéticos está em franca expansão no mundo
devido ao crescimento no número de incidentes, tais como ataques de
hackers, e ao aumento da conscientização sobre a importância do
gerenciamento deste risco. Nos EUA, por exemplo, a estimativa de
mercado atual é de USD 4 bilhões, sendo que, há dois anos, este
mesmo mercado era estimado em USD 2 bilhões.
No Brasil, os maiores contratantes de seguros contra riscos
cibernéticos são as empresas de tecnologia e as instituições
financeiras. Contudo, o interesse das empresas dos demais setores
tem crescido consideravelmente e a expectativa é que o mercado
cresça significativamente nos próximos anos.
Embora não exista uma mensuração oficial do tamanho deste
mercado no país, estima-se atualmente o tamanho do mercado de
Responsabilidade Civil Cibernética em torno de R$ 2 milhões.
Todavia, a expectativa é que este mercado supere, por exemplo, o
mercado emergente de D&O, que em pouco mais de 10 anos alcançou
porte de R$ 400 milhões em prêmios anuais.
Como é uma apólice padrão de seguro contra riscos
cibernéticos? O que cobre e o que não cobre?
Gustavo Galrão: Existem alguns
produtos nesse segmento de riscos cibernéticos, como o seguro de
Responsabilidade Civil Profissional para Empresas e Profissionais
de Tecnologia. Este seguro contratado por empresas e profissionais
de TI para transferir riscos relacionados a reclamações de
terceiros (clientes) decorrente de falha profissional, tais
como:
- Problemas na implementação de sistemas
- Erros de projeto
- Falha no desenvolvimento do software
- Falha no armazenamento de informações / perda de dado
Já os produtos de Responsabilidade Civil Cibernética para
empresas de outros segmentos ainda não são oferecidos no Brasil
devido à fraca demanda, mas já são comercializados em mercados mais
maduros como nos EUA e em outros países europeus, tais como
Inglaterra, Alemanha etc.
O Produto oferecido nos EUA é dividido em
coberturas first party e third
party:
As coberturas third party são aquelas para o
risco de reclamações de terceiros (ex. clientes), tais como: quebra
de confidencialidade de dados causados pela empresa segurada ou
seus funcionários; difamação, violação de direitos de propriedade
intelectual ou privacidade decorrente de violação de publicação de
informações através de mídias da empresa; e comprometimento de
rede, tais como acesso não autorizado ou uso não autorizado do
ambiente computacional da empresa segurada que resulte em:
- roubo, destruição ou corrupção de dados digitais
- quebra de confidencialidade de dados pessoais ou informações
confidenciais
- contaminação de dados pessoais ou informações confidenciais
causada por transmissão de código malicioso, tais como vírus, worms
etc
- Ataques de negação de serviços
As coberturas first party são aquelas para
fazer frente a reclamações de terceiros (ex. clientes), tais como
perdas decorrentes de destruição de dados, extorsão, roubo,
hacking, ataque de negação de serviços, interrupção de negócios,
multas regulatórias etc.
Existe também o seguro de Fraudes Corporativas (Crime e BBB) com
cobertura para Fraudes por meio eletrônico, contratado por empresas
para transferir riscos relacionados a:
- Prejuízo financeiro direto ocasionado por ato fraudulento
cometido por qualquer empregado.
- Subtração, deterioração ou perda física de bens dentro das
instalações
- Perda física de bens em trânsito
- Documentos Falsificados
- Dinheiro Falsificado
- Fraude por meio eletrônico
- Vírus de computador
Quais são os principais riscos cibernéticos a que
pessoas e empresas estão expostas?
Gustavo Galrão: Todas as empresas
e pessoas estão expostas. No caso das empresas, todas elas
certamente têm algum nível de exposição. Além do ataque de
ramsonware (sequestro do computador), o vazamento de dados de
clientes pode gerar perdas e danos para estes. Isso pode resultar
em reclamações e processos judiciais por parte de clientes, por
exemplo no caso de vazamento de prontuário médico de hospitais.
Já as pessoas, em sua grande maioria, possuem um smartphone com
uma grande quantidade de dados. Informações bancárias, cartões de
crédito, prontuário médico, fotos, e-mails etc. Ataques de hackers
como o caso recente, onde os dados são sequestrados através de
criptografia, podem acontecer com qualquer pessoa.
Que ações pessoas e empresas podem empreender para se
prevenirem contra ricos cibernéticos?
Gustavo Galrão: Existe uma série
de medidas que podem ser implementadas pelas empresas e pessoas
para aumentar a proteção aos ataques cibernéticos. Obviamente que a
necessidade de controle maior ou menor dependerá do tipo da
atividade e da atratividade que os hackers têm sobre as informações
ou possibilidade de obter vantagens sobre determinada
organização.
Importante destacar que ainda que todas as medidas sejam tomadas
sempre haverá risco de vazamento de dados, seja através de ataque
de hackers ou até por conta da infidelidade de empregados e/ou
pessoas próximas a nós. Exatamente por esse motivo o seguro se
torna uma ferramenta importante para se ter uma gestão mais efetiva
destes riscos.
Dentre as medidas que podem ser tomadas para aumentar o nível de
segurança das informações dentro da empresa, elencamos, além da
contratação dos contratos de seguros:
- Estabelecer procedimentos para o monitoramento do uso das
contas de usuário e dos respectivos privilégios;
- Utilização de técnicas de criptografia para proteger
confidencialidade, integridade e autenticidade das
informações;
- Processo de gerenciamento de chaves para apoiar o uso de
técnicas criptográficas;
- Desenvolvimento do nível de conhecimento técnico da equipe
responsável pela administração dos controles de segurança da
informação;
- Implementação de estrutura organizacional para garantir o
atingimento dos objetivos de negócio e de segurança da
organização;
- Criação de documentos informativos de fácil entendimento sobre
a política de segurança da informação para os colaboradores;
- Treinamentos internos sobre segurança da informação;
- Implementação de auditoria com metodologia que abordem as
diretrizes para a gestão de incidentes de segurança da
informação;
- Criação de comitê de segurança da informação com colaboração e
representantes de diferentes partes da organização- Implementação
de controles de detecção, prevenção e recuperação para proteger
contra códigos maliciosos, tais como vírus de computador, worms de
rede, cavalos de Tróia e bombas lógicas;
- Política de controle de acesso à informação e serviços de
rede;
- Procedimento formal de registro e cancelamento de usuário para
garantir e revogar acessos em todos os sistemas de informação e
serviços;
- Procedimento formal de concessão de senhas com requisitos do
usuário assinar declaração ou termo de responsabilidade para manter
a confidencialidade de sua senha;
- Estabelecimento e implementação de métodos apropriados de
autenticação para controlar o acesso remoto dos colaboradores e
terceiros contratados;
- Estabelecimento e implementação de métodos apropriados para
prevenir acesso não autorizado ao sistema operacional ou a rede e
para garantir a segurança da informação quando se utilizam da
computação móvel e recursos de trabalho remoto;
- Políticas e procedimentos para tratamento de informação no
formato digital;
- Gerenciamento dos serviços terceirizados para tratar das
necessidades específicas de segurança da organização;
- Utilização de técnicas para gestão de vulnerabilidades, para
garantir que as tecnologias de segurança colaborem na redução de
riscos associados a exploração de vulnerabilidades conhecidas;
- Controles que impeçam a retirada ou transporte de equipamentos
e dispositivos periféricos;
- Uso de técnicas para descarte de mídias eletrônicas ou
impressas, para garantir que as tecnologias de segurança colaborem
na redução de riscos associados a vazamentos de informações;
- Procedimento de cópia de segurança das informações (backup) com
uso de criptografia e armazenamento externo as instalações físicas
da empresa;
- Política, termo e procedimento quanto ao acesso, manuseio e
transmissão de informações pessoais de clientes;
- Plano de continuidade de negócios, incluindo testes
periódicos.