A existência de um programa universal
de atenção à saúde é um dos maiores patrimônios de qualquer
sociedade. Criado nos escombros da II Guerra, o Sistema Nacional de
Saúde (SNS) inglês tem o status de uma das Joias da Coroa.
Celebrado na abertura das Olimpíadas de 2012, o SNS é
frequentemente criticado pela mídia britânica, mas as pesquisas
mostram que a maioria da população está satisfeita com o
atendimento recebido. Nos Estados Unidos, as pesquisas de opinião
informam que a questão mais importante para os eleitores é a
preservação do seu incipiente sistema de saúde conhecido como
Obamacare.
Trinta anos após sua criação, o SUS
enfrenta um vigoroso assédio do mercado dos planos de saúde. Ao
longo dos anos, o papel do capital privado na saúde brasileira se
tornou mais complexo. Boa parte do setor privado é beneficiária de
mecanismos de financiamento público. No momento em que medidas de
austeridade fragilizam um sistema já debilitado, o campo
mercantilista se organiza para mais um golpe na luta contra a saúde
pública. Além disso, o governo federal mostra, sem pudor, como não
prioriza a questão ao retirar recursos de programas de prevenção do
Ministério da Saúde para realocar em propagandas institucionais
para promoção da gestão Temer.
As consequências disso certamente
serão desastrosas. Em maio, a revista internacional “Plos Medicine”
publicou um estudo mostrando que, se a atual política de
austeridade fiscal for mantida, o Brasil poderá ter 20 mil mortes a
mais de crianças até 2030. Estudos semelhantes foram feitos durante
a crise econômica na Europa e mostraram, por exemplo, que houve um
aumento das taxas de incidência de HIV na Grécia, após redução
orçamentária em programas de prevenção.
Em abril deste ano, ocorreu o “1º
Fórum Brasil - Agenda Saúde: a ousadia de propor um Novo Sistema de
Saúde”, organizado pela Federação Brasileira de Planos de Saúde,
com participação do Ministério da Saúde, de deputados e senadores.
Nesse fórum, comparou-se o SUS a outros sistemas de saúde do mundo,
sem considerar os aspectos divergentes. Não existe país que ofereça
um sistema universal da saúde para mais de 100 milhões de
habitantes, e já somos mais de 200 milhões de
brasileiros!
A partir de dados distorcidos,
enunciou-se a excelência dos serviços privados em qualquer nível
dos sistemas de saúde, uma conclusão curiosa, já que
a literatura internacional oferece vários exemplos de sistemas
de saúde públicos eficientes, mas não o contrário. Então,
apresenta-se a proposta do “Novo Sistema Nacional de Saúde”, gerido
segundo diretrizes privadas e viabilizado pelo desmonte do
SUS.
O Brasil não precisa de um novo
sistema de saúde, mas de repensar o SUS quanto a aspectos de
financiamento, gestão e relação público-privada. O “Novo Sistema
Nacional de Saúde” já recebeu o repúdio de entidades sérias e
comprometidas com o interesse coletivo, como Cebes e Abrasco. O SUS
é a maior conquista social da cidadania brasileira em toda a sua
história. Longa vida ao SUS!
* Médico e deputado federal
(PDT-RJ)