Pelo menos 10 mil médicos aderiram
à paralisação de 24 horas no estado do Rio de Janeiro. O número
representa 90% dos profissionais credenciados a planos de saúde no
estado, segundo cálculos do Conselho Regional de Medicina do Rio de
Janeiro (Cremerj).
No final da manhã de hoje (21),
alguns representantes do movimento se reuniram em frente à sede da
Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), na capital fluminense,
para pressionar e exigir que a entidade reguladora intervenha no
reajuste dos valores repassados pelas operadoras aos profissionais
de saúde.
“No Rio de Janeiro, temos como
tradição pressionar, todos os anos, as operadoras por um reajuste
anual. Este ano, conseguimos definir como valor mínimo para
consultas R$ 50, mas os valores repassados para procedimentos de
cirurgia estão aquém do necessário”, disse Márcia Rosa de
Araújo, presidente do Cremerj.
Segundo a médica, a tabela de
valores repassados por procedimentos cirúrgicos, como biópsias,
endoscopias e partos, foi elaborada há mais de duas décadas e,
desde então, passou por poucas modificações. “A tabela está
defasada. Os custos não estão sendo cobertos pelos honorários
médicos. Tem que haver equilíbrio entre a operadora, o paciente e o
médico. Não queremos acabar com o sistema, mas queremos um sistema
justo de qualidade para o paciente”, acrescentou Márcia
Araújo.
A ginecologista e obstetra Doris
Mary Silveira disse que o repasse, no caso de um parto, por
exemplo, gira em torno de R$ 270. Deste total, quase 30% são
destinados ao instrumentador, um profissional com a mesma formação
do médico contratado para a operação, mas que atua como auxiliar
durante o procedimento.
“Uma colega médica, tão
capacitada quanto eu, seria minha auxiliar em um parto pelo qual eu
ia receber R$ 230. Ela teria praticamente a mesma função que a
minha, pegaria um táxi até o hospital, poderia ter que esperar
horas para receber uma porcentagem desse valor, cerca de R$
90”, destacou. “Muitas vezes, você está no consultório,
com várias consultas e tem que deixar os pacientes marcados para
fazer um parto que pode durar horas. Você vai e recebe o mesmo
valor que receberia na tranquilidade do seu consultório com as
consultas que já estavam marcadas”, lamentou a obstetra.
Em nota, a Agência Nacional de
Saúde Suplementar reconheceu a legitimidade do movimento por
melhores condições de remuneração dos profissionais de saúde, mas
informou que “não há previsão legal para a ANS determinar o
percentual do reajuste de prestadores de serviços, inclusive de
médicos”. O comunicado acrescenta que “não há ineficiência
ou omissão por parte da ANS e sim respeito à legalidade”.
A paralisação afeta apenas as
consultas eletivas. O atendimento nas emergências está funcionando
normalmente segundo o Cremerj. A partir de amanhã, os médicos
retomam as atividades completamente, mas eles garantem que o
movimento pode ser retomado a qualquer hora, se não receberem um
posicionamento das autoridades da área de saúde.