Ministro lembrou que a União
cumpre a Emenda 29, mas, para isso, os investimentos passaram de
R$30 bi para R$77 bi nos últimos oito anos
Os desafios atuais do setor da saúde no brasil são diferentes de
22 anos atrás, quando foi criado o Sistema Único de Saúde (SUS).
Esses novos desafios exigem mais recursos. A avaliação foi feita
pelo Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, na comissão geral
que a Câmara dos deputados realizou, nesta terça-feira, (20)
para discutir a regulamentação da Emenda 29 que prevê recursos
públicos mínimos obrigatórios para a saúde. A proposta poderá ser
votada amanhã pelo Plenário.
Pelas contas do ministro, serão necessários R$45 bilhões a mais
nos próximos anos, em investimentos de todos os níveis de governo.
Ele lembrou que a União cumpre a Emenda 29, mas, para isso, os
investimentos passaram de R$30 bilhões para R$77 bilhões nos
últimos oito anos.
“Sabemos que a saúde é o principal problema do País apontado
pela nossa população. Contudo, sabemos também que nenhuma nação do
mundo com mais de 100 milhões de habitantes, além do Brasil, se
propôs a oferecer um serviço de saúde público, gratuito e de
qualidade universal. O desafio é grande”, disse o
ministro.
O ministro avaliou que o texto que está sendo discutido na
Câmara não é ideal, e deve retirar R$6 bilhões do investimento dos
estados, porque desconsidera de sua parcela os recursos do Fundeb.
“É um passo importante que está sendo dado, termos uma regra
clara sobre o que é investimento em saúde, mas a caminhada ainda
vai ser longa para reorganizar o SUS e dar conta das necessidades
do povo brasileiro”, declarou.
Segundo o ministro, o Brasil é o país que mais envelheceu no
mundo, com aumento da expectativa de vida e redução da taxa de
natalidade. A população acima de 60 anos, lembrou Padilha, deve se
tornar maior que a população menor que 15 anos, o que modifica as
prioridades do SUS.
O ministro da Saúde listou uma série medidas que vêm sendo
adotadas pela pasta para combater o desperdício de verbas públicas.
Entre elas estão a criação de cadastro nacional de serviços e
profissionais de saúde, que impede que os trabalhadores cumpram, no
papel, cargas horárias incompatíveis em estabelecimentos diferentes
ao mesmo tempo; criação do portal da transparência, que detalha os
recursos gastos na área e centralização das compras de medicamentos
no País e utilização de metodologias de compra dos setores
privados.
Alívio para o setor
O deputado João Ananias (PCdoB-CE), defensor do SUS e de mais
recursos para saúde, destacou, em longo discurso na Câmara dos
Deputados, a importância da votação da regulamentação da Emenda 29
e do debate para se encontrar um financiamento estável para a
saúde.
Na avaliação do parlamentar, a Emenda 29 não resolve o problema
de financiamento da saúde, mas vai aliviar o setor. “O que não
é aceitável é que continuemos gastando tão pouco na área”,
disse.
Segundo o parlamentar, após a criação do SUS, o País se deparou
com o problema do financiamento. “Garantir saúde de qualidade de
forma universal e integral a todos custa muito dinheiro, e esse é
justamente o maior gargalo do SUS”, avaliou, confirmando as
palavras do ministro.
Segundo Ananias, o SUS é o resultado
da luta dos brasileiros excluídos do acesso à saúde pública. O
deputado lembrou que o movimento sanitarista brasileiro, na metade
da década de 1970, ganhou força junto à sociedade para se opor ao
predomínio financeiro das instituições previdenciárias e de uma
burocracia técnica que apontava para a mercantilização crescente da
saúde