A Operação Lava Jato impulsionou a
procura por seguros que protegem o patrimônio do executivo caso
decisões erradas tomadas por ele provoquem perdas financeiras para
as empresas.
Esse aumento, porém, foi acompanhado
de uma maior cautela das seguradoras na hora de fechar o
negócio.
Entre 2014 –ano em que a operação da
Polícia Federal foi deflagrada– e 2016, os valores pagos em
apólices de seguros de D&O (Directors & Officers, ou diretores
e executivos) subiram 62%, para R$ 381,6 milhões, de acordo com a
Susep, regulador do mercado de seguros.
A evolução foi guiada pela procura
maior pelo produto, e não somente pelo encarecimento das apólices,
afirma Fernando Cirelli, superintendente de linhas financeiras da
corretora BR Insurance.
O seguro existe há 20 anos no Brasil.
Segundo ele, nos primeiros dez anos, havia cerca de mil apólices do
produto. Hoje, o número está estimado entre 5.000 e 7.000.
As 20 maiores apólices respondem por
cerca de 35% do valor total. Cerca de 15 seguradoras comercializam
o produto, embora a líder detenha 50% do mercado, afirma Miguel
Villela, vice-presidente de linhas financeiras da corretora de
seguros JLT Brasil.
Esse seguro pode ser acionado se um
diretor for alvo de um processo no qual corra o risco de indenizar
terceiros por prejuízos financeiros causados por uma decisão tomada
no exercício da função.
Em vez de desembolsar dinheiro
próprio, ele usaria o limite dado pela seguradora. O maior custo
desses processos é o pagamento de honorários advocatícios e com a
defesa. É possível ainda cobrir indenizações e multas decorrentes
da ação judicial.
A Lava Jato provocou quase uma corrida
por esse tipo de seguro, diz Villela. “A operação afetou bastante
os órgãos públicos e as empreiteiras, o que motivou grandes
empresas a buscar esses produtos”, afirma.
A ressalva a ser feita é que o seguro
não cobre crime doloso -quando o executivo participava do ato de
corrupção e teve enriquecimento ilícito, por exemplo.
SINAL AMARELO
Se ajudou a impulsionar esse seguro no
Brasil, a Lava Jato também acendeu o sinal amarelo nas seguradoras.
Dispararam os casos em que a empresa é acionada para pagar as
coberturas previstas na apólice. No primeiro ano de Lava Jato,
houve aumento de 450% em relação a 2013 –até 2016, a alta acumulada
era de 492,5%.
Como reflexo, as seguradoras ergueram
barreiras para a contratação do produto e passaram a incluir
cláusulas de exclusão de cobertura para atos que lesem a
administração pública ou privada.
Ou seja, a seguradora poderia recusar
a cobertura caso ficasse comprovada corrupção. Empreiteiras,
empresas com contratos com órgãos públicos e do setor de energia e
infraestrutura começaram a ter de desembolsar mais para ter a
proteção.
“A Lava Jato aumentou a insegurança.
Houve impacto nos prêmios pagos pelo crescimento da sinistralidade.
Mas isso é pontual”, afirma Juliana Casiradzi, gerente da corretora
Marsh Brasil.
Para Villela, a restrição não afeta
pequenas e médias empresas. “Essas continuam contratando com
facilidade e preços mais competitivos.”