Desde a regulamentação, já foram
registrados na Anac 8.027 aparelhos
A primeira vista, parecem aviões de
brinquedo. Desses que crianças e adolescentes levam para o parque
com controle remoto debaixo do braço. Na verdade, são máquinas
extremamente sofisticadas, que podem custar até R$ 300 mil e
sobrevoar quilômetros de extensão sem auxílio de piloto. Criados
para fins militares, os drones — ou veículos aéreos não-tripulados
(Vants) na linguagem dos técnicos — estão na mira de empresas como
a concessionária Arteris, que pretende usá-los para auxílio de
resgates em acidentes em estradas, e o grupo segurador Banco do
Brasil e Mapfre, que tem um projeto piloto para empregar a
tecnologia na avaliação de bens.
Novos usos que serão possíveis a
partir da regulamentação da Agência Nacional de Aviação Civil
(Anac) para o equipamento, publicada no início do mês. Embora
especialistas vejam lacunas nas regras, como a falta de uma
fiscalização efetiva, dados da agência mostram o interesse pela
máquina. Até 2 de maio, quando as normas foram divulgadas, a Anac
havia autorizado cerca de 400.
Seguro para drone Essas aeronaves são
controladas remotamente, munidas de câmeras e sensores. Por
executarem ações que até pouco tempo atrás eram feitas apenas com
helicópteros, mas por uma fração do custo, passaram a ser cada vez
mais demandadas no universo dos negócios. A regulação da atividade,
porém, era um entrave no desenvolvimento desse mercado no Brasil,
que hoje já reúne 720 companhias, segundo levantamento da
DroneShow, feira de referência do setor.O número considera
fabricantes, importadores, desenvolvedores de software, prestadores
de serviço ou de treinamento.
A concessionária Arteris usa drones há
um ano para inspecionar obras. Um dos equipamentos auxilia no
monitoramento das frentes de trabalho do Contorno de Florianópolis,
extensão de 50 quilômetros da BR-101 que liga Garuva a Palhoça, na
região metropolitana da capital catarinense. Em outra concessão, no
trecho da BR-116 que vai de Curitiba a Capão Alto, na divisa com o
Rio Grande do Sul, o drone está sendo usado também para fiscalizar
acessos irregulares à rodovia e monitorar pontos críticos de
acidentes.
— Antes fazíamos o monitoramento com
ultraleve ou helicóptero. O drone melhora a qualidade do
acompanhamento das obras. Agora, estudamos usar o equipamento para
auxiliar as equipes de resgate em acidentes, principalmente em
lugares de difícil acesso — disse Elvis Granzotti, gerente de
operações corporativa da Arteris, acrescentando que o objetivo é
expandir o uso de drones para todas as nove concessões de
rodovias.
O grupo segurador Banco do Brasil e
Mapfre tem projeto piloto para uso de drones na avaliação de bens
que serão segurados. O uso é voltado especialmente para a área
rural, pois os drones conseguem fazer imagens precisas das
lavouras, por exemplo. O aparelho poderia ser usado também na
avaliação de sinistros, ou seja, dos prejuízos causados por algum
acidente nas áreas que são asseguradas pela empresa. Segundo Paulo
Hora, gerente executivo de Operações e Sinistros Rural e
Habitacional do grupo, a previsão é que o produto esteja disponível
no mercado até 2019.
A companhia poderá se beneficiar ainda
da nova regulação da Anac, que exige dos usuários de drones que
façam seguro para indenizar terceiros em caso de acidentes. A
exigência é para drones comerciais com peso acima de 250 gramas. O
grupo lançou recentemente seguro para danos pessoais e materiais
causados a terceiros (durante voo ou em solo), com limite de
indenização de R$ 225 mil.
Alta de 15% em pedidos A principal
preocupação da Anac ao criar as novas regras para drones foi
justamente com a segurança. Uma das regras prevê que, para voar com
drones com mais de 250 gramas perto de pessoas, é necessário que
elas concordem previamente com a operação. A agência classificou os
equipamentos em três classes, de acordo com seu peso. A maior parte
dos drones se enquadra na classe 3, abaixo de 25 quilos. Neste
caso, além do cadastro da máquina no site da agência, será
necessária autorização específica do órgão, se o equipamento voar a
uma altura superior a 120 metros e seguir uma trajetória para além
do campo visual do operador. Também é preciso ter aval da Agência
Nacional de Telecomunicações (Anatel), que regula ondas de
radiofrequência, e do Departamento de Controle do Espaço Aéreo
(Decea).
A fabricante de drones Horus
Aeronaves, de Santa Catarina, percebeu efeito direto sobre suas
encomendas após a publicação das regras: houve aumento de 15% nos
pedidos e de 25% nas solicitações de orçamentos, segundo seu
presidente, Fabrício Hertz. A empresa fabrica drones de 1,2 quilo a
3 quilos. Os equipamentos são feitos à base de fibra de carbono,
numa produção praticamente artesanal.
— A publicação da novas regras vem em
um momento crucial para a expansão da tecnologia — disse Hertz.
Entre as empresas que já usam drones
está a produtora Paranoid. William Etchebehere, diretor de cena e
de fotografia, estima que o uso de drones proporciona economia de
60% quando comparado à utilização de gruas na produção de filmes ou
comerciais. Entusiasta da tecnologia, tem quatro equipamentos e ele
mesmo os opera. Na mineradora Vale, que usa o drone em
levantamentos topográficos de minas, economiza-se tempo: um mapa
que era feito em dois dias pode ser concluído em menos de 24 horas
agora. A mina de Brucutu (MG) é uma das que já conta com a
tecnologia, que a empresa planeja, no futuro, expandir para todas
as minas.
Falta de fiscalização efetiva Apesar
do avanço, especialistas ainda veem lacunas na legislação. Um dos
pontos é a fiscalização. Segundo a Anac, ela será feita por
policiais, além dos três órgãos que emitem as autorizações, mas há
dúvidas de como ela vai funcionar na prática.
— O drone é um equipamento seguro,
capaz de evitar áreas de aeroportos porque é equipado com
geolocalização. A partir da regulamentação, temos um cenário mais
claro, mas ao mesmo tempo incerto pela falta de uma fiscalização
efetiva — afirmou Gabriel Carvalho, do escritório Trench Rossi. —
No caso de aerolevantamentos (levantamentos aéreos com precisão), o
uso de drones precisa de permissão do Ministério da Defesa, que
segue normas muito antigas, quando esse tipo de serviço era feito
com aeronaves tripuladas. Deverão ser feitos ajustes nas regras. Um
mercado de US$ 127 bilhões É nos setores de infraestrutura e
agricultura que estão as maiores oportunidades para o uso de
drones, segundo estudo da consultoria PwC. Ela estima que o mercado
potencial para a tecnologia movimente US$ 127 bilhões por ano no
mundo. Os serviços prestados na área de infraestrutura — incluindo
atividades como monitoramento de obras e inventário de ativos —
podem movimentar US$ 45 bilhões, seguidos por US$ 32 bilhões em
aplicações agrícolas, como análise de solo e saúde de plantas.
A consultoria mantém um centro na
Polônia — primeiro país a adotar legislação para drones, em 2013 —
focado nos usos comerciais desses equipamentos.
No Brasil, a consultoria mantém equipe
de cerca de 15 pessoas dedicadas a estudar a implementação de
tecnologias emergentes, como os drones. Um dos projetos em
desenvolvimento agora é a possibilidade do uso desses equipamentos
em operações de salvamento de pessoas que estão se afogando. A
ideia é usar os drones para transportar boias até a pessoa que está
no mar, alcançando-a com mais rapidez e precisão que um
salva-vidas.
— O serviço poderia ser contratado
diretamente por órgãos públicos, por exemplo. Ainda estamos
trabalhando numa parceria para viabilizar esse projeto — disse
Tomás Roque, sócio da PwC.