O acesso universal à saúde foi apontado
pelo ministro Alexandre Padilha como um dos grandes desafios de sua
gestão. Essa é, sem dúvida, uma das maiores reivindicações da
população, que, com o aumento da renda, também sinaliza o desejo de
adquirir um plano de saúde, como mostram pesquisas sobre o consumo
do brasileiro em 2011.
O ministro mostra disposição para enfrentar a questão, ao mesmo
tempo em que acena com maior diálogo com o setor de saúde
suplementar - hoje, com quase 45 milhões de beneficiários no país,
o equivalente a 23,4% da população brasileira.
Duas questões intrigam a todos: gestão e recursos financeiros. Boa
gestão é sempre necessária, tanto no setor público quanto no
privado, pois é a forma de evitar o desperdício de recursos sempre
escassos. Mas não haverá gestão sem recursos financeiros. Se
imaginarmos que o gasto per capita nos países da Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), quase de US$ 4 mil,
seria desejável para o Brasil, nós dispenderíamos grande parte de
nossas rendas com saúde.
Faço a referência para mostrar a virtual impossibilidade de o setor
público alocar, em futuro próximo, recursos necessários para prover
atenção integral à saúde de todos os brasileiros. Forçoso,
portanto, reconhecer a severa limitação de recursos financeiros
para fazer frente às necessidades de gastos com saúde.
Por isso, entendemos que não haverá universalização do acesso à
saúde senão por meio de forte e crescente interação entre os
setores público e privado. No horizonte previsível, nem pode o
Sistema Único de Saúde (SUS) sozinho cumprir com seu dever
constitucional de garantir acesso a toda população, nem o setor
privado tem condições de sozinho atender com integralidade e
universalidade.
As pessoas que têm plano de saúde buscam atendimento na rede
privada, embora não renunciem ao direito de se valerem do SUS e
tampouco fiquem desoneradas de seus deveres de contribuintes. No
entanto, ao recorrerem aos serviços da rede privada, os cidadãos
com planos de saúde deixam de utilizar o sistema público.
Com menos pessoas dependendo exclusivamente do SUS, é possível
planejar e organizar melhor o atendimento público de saúde, pois
menor será número de indivíduos a serem atendidos pela mesma (e
escassa) dotação orçamentária.
Ter plano é uma escolha voluntária e essa opção se dá por diversas
razões - entre elas a expectativa de maior e mais rápido acesso e
melhor atenção à saúde, a possibilidade de escolha do profissional,
hospital ou laboratório e a qualidade das instalações privadas. Não
há por que não permitir que um maior número de pessoas realize esse
sonho.
Em 2010, o número de beneficiários de planos cresceu a taxas
recordes, em razão do crescimento do emprego e das rendas. No
entanto, com a ascensão econômica das classes C e D, era de se
esperar crescimento ainda mais intenso - que não foi possível
porque as pessoas ainda não têm renda suficiente para custear um
plano de saúde.
Para aproximar o desejo das pessoas de ter um plano e sua
concretização, o caminho é permitir o desenho de planos focados nas
diferentes necessidades e possibilidades da população. Para isso
será necessário rever a legislação e regulamentação da saúde
suplementar, permitindo novos planos, voltados para os diferentes
estratos sociais.
Esses novos produtos devem ter certas qualidades, como a permissão
para que se construam provisões para as idades mais avançadas, que
trazem consigo maior incidência de doenças, especialmente as
crônicas, o que eleva os gastos com saúde num período da vida em
que as rendas caem.
Proposta nesse sentido foi apresentada pela FenaSaúde, em parceria
com a FenaPrevi, à Agência Nacional de Saúde Suplementar, que hoje
estuda a criação de um plano híbrido de saúde e previdência - o que
mostra que pequenas alterações nas regras soltarão as amarras da
criatividade e libertarão os empreendedores para desenvolver
produtos melhor adaptados às diferentes necessidades das
pessoas.
Há enormes desafios a enfrentar na saúde, particularmente em razão
da tendência do aumento das despesas médico-hospitalares com
incorporação de tecnologias e envelhecimento da população. Não
podemos assistir passivamente ao desenrolar dessas tendências e,
resignados, aceitarmos as severas consequências da inação como se
fatalidade fossem. Podemos e devemos construir nosso futuro, de
maior acesso aos serviços de saúde, com menor incidência de doenças
e vida mais longa e saudável para a população brasileira.
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