Resultados apontaram que atendimento
está distribuído pelo território nacional, concentrado nos maiores
centros
No combate ao câncer de mama, o diagnóstico precoce e o tratamento
adequado têm papel fundamental na sobrevivência do paciente, já que
minimiza os impactos indesejados da doença. Para que o tratamento
seja eficaz, o acesso geográfico a este precisa ser garantido.
Cientes das dificuldades de distância enfrentadas por muitos
pacientes, pesquisadores das universidades Federal do Estado do Rio
de Janeiro (Unirio), Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Instituto
Nacional de Câncer (Inca) e Escola Nacional de Saúde Pública
(Ensp/Fiocruz) analisaram o fluxo de pacientes com câncer de mama
atendidas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) em todo país.
Os resultados apontaram que o atendimento está amplamente
distribuído pelo território nacional, com forte concentração nos
maiores centros e indícios de escassez mesmo nas regiões onde a
oferta de serviços é maior.
"Observou-se que, embora a rede para atendimento ao câncer de
mama alcance a maior parte do território nacional, há vazios
sanitários, sobretudo no norte do país", afirmam os pesquisadores
em artigo publicado na revista Cadernos de Saúde Pública da
Fiocruz. Segundo eles, mais da metade do total de atendimentos se
deu em algumas capitais, em especial Rio de Janeiro e São Paulo,
responsáveis por um quinto das assistências nacionais. Além disso,
grande porção das pacientes financiadas pelo SUS reside a mais de
150 km do local de atendimento.
"Sabendo que o tratamento é baseado em procedimentos frequentes, os
resultados sugerem que grande parcela das mulheres que obtiveram
atendimento enfrentou dificuldades adicionais à própria doença, em
função do extenso deslocamento que necessitaram fazer".
Para fazer o estudo, os pesquisadores utilizaram dados
disponibilizados pelo Inca e pelo Datasus a fim de verificar as
cirurgias e os atendimentos ambulatoriais efetuados em hospitais
públicos ou contratados pelo SUS nos anos de 2005 e 2006. Durante o
período, foram feitas 37 mil internações, quase 21 mil cirurgias,
832 mil procedimentos ambulatoriais de quimioterapia e 44 mil de
radioterapia em mulheres com diagnóstico de câncer de mama. Cerca
de 40% do volume total de atendimentos estiveram concentrados em
apenas sete capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte,
Porto Alegre, Curitiba, Salvador e Fortaleza.
"No Brasil, mais da metade do atendimento foi local, isto é,
realizado no próprio município de residência: 56,5% das cirurgias,
54,6% dos atendimentos de quimioterapia e 48,7% dos atendimentos de
radioterapia não configuraram deslocamento", comentam os
estudiosos. No entanto, eles acrescentam que algumas capitais
mostraram perfil de polo de atenção mais acentuado, com mais de 40%
do atendimento a não residentes, como no caso de Recife (71,4%),
Porto Alegre (60%), Belo Horizonte (53,7%) e Curitiba (50,7%).
Segundo os pesquisadores, é necessário verificar a configuração das
redes de atenção, pois essas representam inúmeras possibilidades de
conexão que podem favorecer, ou não, o acesso da população à
assistência. "A identificação das redes constitui ferramenta com
aplicação importante no planejamento e na melhoria da distribuição
dos serviços, considerando que o acesso geográfico é relevante para
o desfecho do tratamento", destacam os estudiosos. "A
redução das taxas de morbidade e mortalidade depende da
identificação precoce, pois, uma vez identificado o caso, o
tratamento adequado e ágil concorre pra reduzir os impactos da
doença".
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