“Devo, não nego, pago quando
puder”. Não é oficial, mas este poderia ser o posicionamento do
governo em relação ao atraso no pagamento do seguro rural do ano
passado.
A conta é salgada: de acordo com o
economista da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep),
Pedro Loyola, que monitora o tema, o Planalto só quitou R$ 10
milhões dos R$ 700 milhões que foram anunciados pela presidente
Dilma Rousseff no lançamento do Plano Safra 2014/2015, em maio do
ano do ano passado.
“A dívida é de R$ 690 milhões.
Desse total, R$ 390 milhões terão de que ser pagos de qualquer
forma, cedo ou tarde, porque já estavam no orçamento. Mas tem R$
300 milhões que estão indefinidos”, afirma Loyola. Isso porque,
segundo a Faep, apesar da promessa da presidente, os recursos não
estavam no cronograma de gastos do governo.
O governo federal admite que a
dívida existe, mas não aponta números. Em dezembro, o Planalto até
conseguiu aprovar uma lei no Congresso Nacional prevendo crédito
extra para pagar a conta, mas o Ministério do Planejamento não
editou a portaria que liberaria a verba. “Eu acredito que foi para
não mostrar ainda mais o déficit fiscal do governo”, opina
Loyola.
Movimentação Política
Para o senador Álvaro Dias
(PSDB-PR), “o governo está dando um calote nas seguradoras”.
Segundo Loyola, a Frente Parlamentar da Agricultura na Câmara dos
Deputados pretende convocar a ministra da Agricultura, Katia Abreu,
e ministro da fazenda, Joaquim Levy, para explicações.
“Não existe qualquer justificativa
oficial. Se o governo não fizer o pagamento, as seguradoras vão
cobrar dos agricultores. E, como foi algo prometido pela própria
presidente, eles podem entrar na Justiça contra o governo”,
completa o economista.
De acordo com a Assessoria de
Imprensa do Ministério da Agricultura, o Planalto ainda negocia de
onde poderia vir o dinheiro e de que forma o pagamento será feito,
mas, até agora, não há quaisquer posições definidas.
O seguro
Os recursos destinados ao seguro
rural dentro do Plano Agrícola e Pecuária de cada ano cobrem parte
do custo que cada produtor teria para assegurar os financiamentos
de custeio. Como o seguro é considerado caro, o governo ajuda a
pagar o prêmio (preço do contrato) para evitar endividamento em
massa em ano de quebra.
O governo federal cobre de 40% a
70% do valor do seguro, dependendo da cultura (trigo, milho, soja,
frutas) cujo cultivo foi financiado. O seguro agrícola não cobre a
renda do produtor, apenas o pagamento parcial dos custos de
produção.