Ninguém tem dúvida, a pandemia está
longe de acabar. O Brasil não fez a lição de casa, então, o que vai
acontecendo no mundo ainda vai demorar para acontecer aqui e isso
terá resultados ruins para a vida da Nação. Enquanto países que
tomaram as medidas impopulares necessárias para conter a velocidade
do vírus começam a abrir suas portas e retomam lentamente o ritmo
dos negócios, o Brasil, que nunca fechou direito as portas, assiste
o vírus se espalhando pelo interior e se aproxima perigosamente de
números dramáticos, tanto em pessoas infectadas como em mortes.
Estamos na casa dos 60 mil óbitos
em função da covid-19, e esse número deve subir mais até o final da
fase aguda da pandemia, prorrogado para fins de outubro, começo de
novembro, pelos especialistas com credibilidade.
Não tem como ser diferente, já que as ruas estão lotadas, o
isolamento social é obra de ficção e as pessoas parecem não se dar
conta, até terem alguém próximo vitimado, de que estamos vivendo um
momento dramático, fora da rotina e capaz de causar imensos danos
imediatamente e outros maiores no futuro.
Não há mais muita coisa que possa
ser feita para combater a pandemia. Ela se espalha pelo interior do
País e, fora de controle, vai cobrar caro a imprevidência nacional
e o mau exemplo que veio de cima, comprometendo as ações para o seu
enfrentamento, que começaram de forma correta, mas que, sem apoio
do governo federal, foram perdendo o foco até a abertura sem
planejamento explodir, como aconteceu três semanas atrás.
Esse vírus tem a característica de
ser previsível. Exatamente duas semanas depois dos fatos, chega a
reação. Em função do que aconteceu e do que vai acontecendo País a
fora, é possível dizer que entramos num momento complicado, que
deve se estender pelas próximas semanas, com resultados ruins para
os números da pandemia.
Se agora, de acordo com o IBGE, já
temos quase 30 milhões de pessoas sem esperança de conseguir
emprego, porque a economia desacelerou e um número imenso de
empresas fechou, quebrou ou teve de demitir para não quebrar, as
perspectivas para o resto do ano estão longe de serem otimistas e o
quadro para 2021 tem tudo para continuar ruim.
Os números do primeiro trimestre
não foram bons para a maioria dos setores econômicos. Mas o setor
de seguros teve um desempenho razoável, fruto da atividade ter seu
faturamento estendido no tempo, por vários meses, depois da
contratação da apólice.
Com certeza, o segundo trimestre já
não trará um quadro parecido e a tendência é que o terceiro e o
quarto trimestres sejam piores. Não tem outra alternativa, na
medida em que a economia deve encolher em patamares elevados,
comprometendo a atividade econômica e a poupança da sociedade.
Como o patamar de entrada em 2021
será muito baixo, qualquer suspiro da economia é suficiente para se
falar em crescimento. Afinal, sair de menos para alguma coisa
melhor é mais fácil do que crescer quando as coisas vão bem. Isso
quer dizer que em 2021 o setor de seguros deve ter um desempenho
melhor do que em 2020, mas não deve se aproximar do que aconteceu
em 2019.
Além disso, a pandemia trará
mudanças que ainda não podem ser corretamente dimensionadas, mas
que afetarão a sociedade e a economia e modificarão a forma de
viver e de fazer negócios.
Várias atividades mudarão de
perfil. Óleo e gás não devem retomar os patamares anteriores, nem
em produção nem em preço. Isso vai ter impacto no setor de açúcar e
álcool.
A indústria automobilística também
não deve voltar aos patamares anteriores, comprometendo a longa
cadeia que se inicia na mineração e termina nos ferros-velhos. A
idade da frota de veículos está aumentando, diminuindo o número de
carros segurados e o valor dos prêmios. Escritórios, lojas e outras
instalações devem diminuir os espaços físicos, reduzindo os valores
em risco. E o desemprego impactará a capacidade de consumo da
sociedade.
Neste cenário, é fundamental que o
setor de seguros se reinvente. Com a retomada do crescimento, o
médio e o longo prazo têm tudo para serem bons. A questão é como
ultrapassar o agora.