Por Roberto Parenzi –
Sócio da Capitolio Consulting
Deparei-me, na semana que passou,
com um artigo divulgado na Folha de São Paulo, intitulado “O lucro
à frente da vida”, de autoria de Marilena Lazzarini e Teresa
Liporace (presidente do Conselho Diretor e diretora-Executiva do
IDEC ).
O IDEC, como deve ser do
conhecimento de todos, é o Instituto Brasileiro de Defesa do
Consumidor.
Do texto publicado pela Folha de
São Paulo separei algumas citações que julguei importante comentar
e até mesmo esclarecer:
“Em tempos de sacrifícios, planos
de saúde deveriam demonstrar solidariedade”.
“Mas, infelizmente, há exemplos
negativos. O setor de planos de saúde, atividade essencialmente
ligada ao enfrentamento da pandemia, é um deles.”
“Dados recentes da Agência Nacional
de Saúde Suplementar (ANS) mostram estabilidade financeira das
operadoras e faturamentos crescentes, destacando- as como um dos
poucos setores que aumentaram o faturamento durante a crise
financeira de 2055. Em 2016, o lucro desse setor aumentou 70,6%,
mesmo com a diminuição de usuários. Essa situação permanece.”
“Quanto aos gastos que essas
empresas enfrentam com a pandemia, nada se pode garantir até o
momento, pois não há transparência. Se, por um lado, a Covid-19
produz um aumento inesperado da demanda, por outro a situação levou
ao adiamento ou à suspensão de diversos procedimentos não
urgentes.”
Estes são os destaques que resolvi
comentar, porque achei o texto injusto, inadequado e com números
que precisam de contexto e realidade.
Plano de Saúde não é instituição de
caridade, é um negócio como qualquer outro com uma agravante, sua
precificação é feita com base em históricos e tábuas atuariais.
Portanto, a solidariedade, como destacada, custa dinheiro e não
está prevista nestes cálculos.
A Solidariedade no sentido de
colaboração existe sim, como alguns exemplos que cito através de
manchetes de jornais:
– Dona da Amil cede três hospitais
para o sistema público (Valor Econômico)
– Hapvida investiu mais de R$ 65
milhões contra a COVID-19 e tem plano de expansão de leitos no
Ceará (Focus)
Ainda assim, mesmo que não
previstos procedimentos relativos à COVID-19 no rol da ANS (antes
da norma da ANS), os planos já cobriam os exames e até mesmo as
internações necessárias.
Em relação aos resultados
financeiros, realizo estudos sobre planos de saúde (vide
em www.capitolio.com.br) desde o advento da Lei 9656/98 e
não vejo números tão radiantes como informa o artigo das
representantes do IDEC.
Para ser mais prático, busquei
alguns dados básicos comparativos de 2016/2017 – ano citado no
artigo – em Análise Econômico-financeira da Saúde Suplementar
(estudo da Capitolio Consultores Associados à época)
A margem de lucro 2016/2017, por
exemplo, caiu de 4% para 3,8%. Além da queda, considero muito baixa
a taxa de retorno tendo em vista os investimentos,
responsabilidades e riscos incorridos no negócio.
O Crescimento das receitas naquele
período (contraprestações recebidas pelas operadoras),foi da ordem
de 12,1% e em contrapartida as despesas assistenciais também
cresceram 11,2%.
Estes números, por si, destoam
muito daqueles citados no artigo publicado.
Ressalte-se aqui que o índice de
sinistralidade do setor (contraprestações/despesas assistenciais)
se apresenta também de forma elevadíssima, na casa dos 83 a 85%,
quando o limite aceito é da casa de 75% no máximo.
Quanto ao patrimônio líquido,
2016/2017, entre cerca de 700 operadoras estudadas, 15,8% tiveram
redução do PL e 5,8% apresentaram PL negativo.
“Se, por um lado, a Covid-19 produz
um aumento inesperado da demanda, por outro a situação levou ao
adiamento ou à suspensão de diversos procedimentos não urgentes,” o
que em nada diminui os custos uma vez que, tão logo a situação
volte à normalidade, teremos um efeito manda(efeito manada?) de
pessoas para realizar os procedimentos eletivos, o que poderá
trazer substancial aumento nos custos.
Muito bom que o IDEC exista e
defenda o consumidor. Todavia, ao apresentar tal tipo de crítica é
necessário ter dados concretos e corretos, para que o consumidor
não se iluda de que os planos tem saúde suficiente para acatar
qualquer nova despesa ou abrir mão de pagamentos ou para
atendimentos sem a devida reciprocidade de pagamentos.
Plano de Saúde não é filantropia,
mas um negócio como qualquer outro.